O evangelho Segundo Judas é um livro tenebroso.O enredo começa com uma reunião entre Jesus e os discípulos, uma semana antes da Santa Ceia. Enquanto os apóstolos rezam sobre o pão, Jesus ri e conta que eles não constam na geração Santa (aqueles que serão salvos). Logo mais, os discípulos contam uma visão coletiva que tiveram, e Jesus, interpretando-a, lança seu veredicto: seus seguidores comandariam os piores sacrifícios em seu Nome (sacrifícios humanos!), induziriam as
pessoas ao erro e se envergonhariam no último dia. Jesus escolhe Judas para uma
conversa particular, e diz ser somente ele o escolhido para adentrar à Salvação
(geração justa, como ele diz).
Ele comenta que somente Judas vislumbrará a casa
da salvação, mediante muito sofrimento e desprezo dos outros apóstolos, classe
da qual seria excluído. A Judas são revelados os segredos do Universo: há um
reino infinito, o reino de Deus. Todavia, um ser autogerado, um Anjo sem nome,
cria outros anjos para servi-lo, e juntos dividem o governo do mundo, longe do
Paraíso; doze anjos governam, inclusive, o mundo inferior (o inferno), dentre
eles, Seth, chamado de "Cristo''(!). Um destes anjos, Seklas, cria o homem
(Adão) e a mulher (Eva) à sua imagem e semelhança. Todavia, Deus dá um
conhecimento a Adão que é inacessível a Seklas e aos anjos (o de ter um
espírito), e o homem rebela-se contra os anjos, e algo ocorre (muitas
linhas faltam ao texto) e Seklas e Nebros (que muito lembram Lúcifer) são
presos em algum lugar; mas Jesus avisa que eles serão libertados para,
falsamente, em nome de Deus, praticarem os piores horrores contra a humanidade
(numa vingança), ao lado dos apóstolos (!).
Jesus comenta que o espírito
humano pode ser destruído, e serão destruídos os espíritos daqueles que não
possuem o conhecimento (que os insere na geração dos justos); o espírito é uma
dádiva de Deus à humanidade, um espécie de "empréstimo''. Por fim, o
Mestre diz que Seklas, Nebros (que quer dizer "rebelado'') e os outros
anjos serão destruídos, juntamente com todo o Mal. Assim, Jesus seleciona Judas
para ser salvo e "consertar'' o estrago causado pelos doze apóstolos (que,
junto com Seklas, matariam e fornicariam maculando o nome de Deus).
Jesus escolhe, enfim, Judas como regente da geração santa (os escolhidos de Deus). Judas, revelado
isso, trai o mestre para ser tripudiado por todas as gerações seguintes.
Todavia, somente pela sua traição Deus destruirá o mal e salvará os justos;
Judas sacrifica o homem que reveste Jesus, ou seja, vai libertar o espírito de
Jesus e toda a humanidade, no processo. No fim, a humanidade e os anjos bons
(incluindo Judas, que se tornará uma estrela, um anjo) viverão eternamente o
Reino de Deus. Totalmente diverso dos Evangelhos oficiais, não?
Aqui, a Igreja que erige-se após a ressurreição de Cristo acaba por se perverter e se aliar aos príncipes do mundo e, talvez por influência do Zoroastrismo, Deus não cria a humanidade, mas sim o Mal (os anjos rebeldes). O corpo físico é visto como uma prisão a ser destruída... as semelhanças com os Albigenses, que dominaram hereticamente o sul da França medieval, serão meras coincidências?
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