domingo, 28 de abril de 2013

Sobre a falsidade: entre sofismas e maquiavelismos


É comum ouvir das pessoas, das classes baixas ou altas, o repúdio expresso à insinceridade dos sentimentos, ações ou condutas, que visam apenas agradar aos outros ou obter algo, ocultando suas reais intenções. É o que se convencionou chamar, na linguagem natural, de "falsidade'': tal como uma moeda de latão, que se faz passar por uma de prata, existem homens e mulheres que maquiam seus sentimentos, tendo como o norte de suas relações sociais o fingimento, a perfídia e a astúcia. São pessoas para as quais a máxima "mantenha as aparências, esconda as essências'' é uma lei para toda e qualquer situação. Foi assim que os melhores amigos de Júlio César procederam para com o homem qu lhes havia dado tudo - terminaram apunhalando-o mais de 36 vezes.

Na mesma medida em que é formalmente condenada, a falsidade sentimental ("eu te amo!''), ideológica ("eu sou marxista, mas sou rico...''), política ("nós representamos os trabalhadores, mas quem nos financia são os patrões'') ou moral ("o adultério é um pecado mortal... opa, um instante, minha amante tá me ligando...'') é uma prática recorrente e massificada, constituindo, por que não dizer, a mola-mestra de um jogo doentio que rege as relações sociais, como uma grande peça de teatro onde as pessoas vestem a pele de personagens por ela criados: o jogo das aparências, da luz e da somba, da enganação e do vislumbre, rápido e fulgaz como um raio.

I

Filosoficamente, as aparências - e o potencial que possuem para esconder a realidade- foi a grande arma dos sofistas gregos. Por meio de construções argumentativas, os sofistas podiam defender esplendidamente ideais que rejeitavam melhor que os mais apaixonados crentes: para isso, partiam da premissa básica de que a moral, os costumes e a religião são meras invenções - ou convenções- humanas, sendo, segundo Trasímaco, a justificativa que o forte encontrou para dominar o fraco; a moral humana, dizia, apenas serve como capa para impor um controle social aos mais fracos, enquanto os fortes poderiam, ao bel-prazer, quebrar essa moral. Eram ss artistas da doxa, da opinião sem fundamentos, e prezando mais a forma e os efeitos do discurso (pathos) do que seu conteúdo (logos), foram os primeiros a conferir uma propriedade instrumental às palavras: a finalidade persuasiva, demandada pelos seus discípulos, muitos dos quais políticos, atores e magistrados. A ausência de valores morais absolutos, a instrumentalidade do discurso, a primazia - talvez, a ontologia- das aparências e a depreciação do logos em prol do pathos. Eis os fundamentos que, talvez inconscientemente, nossos queridos falsários de hoje em dia utilizam.

II

Maquiavel, seguindo as pegadas dos sofistas, aconselhou os governantes a manter boas aparências, defendendo valores morais e religiosos - esses, dizia, sempre relativos e construídos historicamente, de forma que não haviam formas de governo "justas'' em si mesmo, nem modelos idealizados de Estados... somente a política como técnica de conquista e manutenção do poder, da detenção da supremacia fisica sobre os adversários - com fins exclusivamente políticos. Vale tudo para conservar o poder: o príncipe é aquele que intermedia a relação dialética e conflituosa entre dominadores, que desejam continuar a mandar, e os dominados, que desejam se libertar. É conciliando interesses opostos que o líder se mantêm no poder, e tal só seria possível se o príncipe for, ao mesmo tempo, um aristocrata -, e, portanto, seguidor das ideias dos dominadores- e, simultaneamente, um verdadeiro representante do povo, em cuja força somaria à sua própria para fazer frente à aristocracia; se o apoio ao príncipe dependesse dessa última, o monarca se arriscaria a dar ainda mais poder aos que já são fortes por natureza, ambiciosos, espertos e famintos por recompensas, além de díficeis de controlar. Melhor seria compor forças com o povo, mais fácil de ser manobrado e agradado, sempre pronto a seguir um líder carismático contra seus crueis opressores.

 Ser príncipe e, ao mesmo tempo, lider do povo, é, segundo Maquiavel, uma forma de ser duplamente "falso'', utilizando um duplo "ethos'' ( que quer dizer o "quem'', no sentido em que denota a reputação do indivíduo), como diria Aristóteles: a capa de nobre e, ao mesmo tempo, a espada do plebeu. Pode-se dizer que é com o realismo maquiavelista que se inicia a mitificação do político "hábil'' e desejável - virtuoso, no sentido em que sabe usar-se de tudo a seu favor- como um indivíduo ardiloso. A virtú maquiavélica e sua propriedade de utilizar tudo como instrumento ou tirar proveito mesmo das piores tragédias - estando preparado para elas- era o meio de conter as intempéries da temperamental deusa Fortuna, a sorte, que representa o imprevisível. E assim se dá o mundo maquiavélico: um conflito eterno entre classes, acontecimentos imprevisíveis, um monarca forte que faz o jogo do duplo Ethos; e o que se percebe é que o príncipe maquiavélico, mesmo atuando com vistas a construir um Estado forte que garantirá a liberdade dos cidadãos, é na verdade um bipolar por excelência. Essa bipolaridade, por vezes, acaba por estar por trás da conduta da maioria das pessoas que são consideradas "falsas''...

III

Posteriormente, o velho florentino manda ter cuidado com os bajuladores, uma das mais infernais raças de indivíduos covardes, embora extremamente perigosos, por que visam unicamente seu próprio interesse, e, na primeira oportunidade em que o poder do príncipe fraquejar, o derrubarão, aliando-se a seus inimigos. Esses bajuladores, com seus elogios e lisuras, podem fornecer ao monarca a impressão errada de sua situação e conduzí-lo a um estado de comodismo, abrindo uma brecha para sua queda. 

Por tal motivo, Nicolau II se supreendeu quando a Revolução Russa eclodiu: mas ora, quando visitava as aldeias e cidades, tudo não parecia tão limpo e organizado, e o povo não o saudava, entusiasticamente? Como podia haver fome, se os campos em que via pela janela do trem imperial eram tão longíquos e verdes? Não sabia o Czar que sua polícia secreta e sua Corte ordenavam que, muito antes de sua passagem, que tudo fosse arrumado nas cidades, com a expulsão dos milhares de mendigos e pedintes, lavagem das casas e distribuição de dinheiro à população para que ovacionasse o soberano; não sabia que seu trem só o conduzia pelos poucos campos não arrasados pelo inverno por ordem da mesma polícia secreta; não sabia que tinham sido os comandantes da polícia secreta os instagadores de atentados à sua vida, distúrbios e tentativas de revolução, para que o soberano sempre pensasse que reprimir era aúnica solução contra os proliferantes partidos comunistas; não sabia que a ordem que autorizou o fuzilamento de milhares de pessoas no Domingo Sangrento partirá do comandante da polícia secreta, sendo informado Nicolau que as pessoas padeceram "pisoteadas'' ou que militantes anarquistas se aproveitaram da aglomeração e, por fim, não sabia que seus ministros, cortesãos e sua mesma polícia secreta, metiam suas ávidas mãos no tesouro imperial, alheios à fome e miséria reinantes e resultantes da inércia do governo. Não era o Czar, que a todo tempo procurou se aproximar do povo e desenvolver o país, mas seus auxiliares, o verdadeiro "tirano de aço'' que levou à Rússia à dramática e triste revolução posterior. 

O que se nota é que boa parte das pessoas que se elogiam demais as outras - geralmente as que detêm grande poder ou influência- o fazem por interesses mesquinhos e, na primeira oportunidade, não exitarão em abandonar seus protetores em busca de um braço mais forte, ainda mais nesses tempos de pós-modernidade, em que as relações sociais se liquidificaram e a pessoa do outro tem tata valia quanto qualquer instrumento. Com essa pequena reflexão sobre bajuladores - os principais tipinhos de "falsos'', que sempre querem se aproveitar de uma pessoa "babando-a''- pode-se perceber que os bajuladores de hoje - dos homens e mulheres que detêm o poder nas mãos, hoje em dia- são descendentes diretos dos bipolares maquiavélicos e verdadeiros artistas do doxa e do pathos: não importa o que dizem, mas como dizem; não importa se existe moral, importa como se vai fazer o otário ali fazer o que desejam. Foi assim que, como sanguessugas, fizeram sucumbir o maior império do planeta - russo- e podem fazer sucumbir a você também.

IV

Depois da exposição do fundamentos filosóficos - o relativismo, o niilismo moral, a prevalência das aparências e da argumentação- e políticos - a busca irrefreável pelo poder, o jogo da virtú a sempre conter a Fortuna, a capacidade de tirar proveito de tudo e de "ser bom para todos''-  cabe finalmente tirar algumas conclusões e aplicá-las à realidade atual.

Em primeiro, porque uma pessoa é inverídica, ou seja, "falsa''? Por dois motivos: ou porque deseja algo da pessoa enganada, visando o próprio interesse, ou deseja apenas não se indispor com ela. Pelo segundo motivo, quase a totalidade as pessoas são "falsas''. Não desejam magoar amigos e familiares trazendo a luz seus reais pensamentos, e preferem, em nome da amizade - talvez chamem isso de "tato''- esconder suas discordâncias. Apesar das boas intenções, relações afetivas construídas dessa forma costumam ser frágeis, tal como são as aparências: amigos e familiares de verdade sentem-se à vontade para censurar, uns nos outros, comportamentos que acham inadequados. 

Já a falsidade pelo primeiro motivo, egoístico, diga-se, é a mais perigosa. Pessoas assim desejam, de alguma forma, o poder (ou a obtenção de vantagens), e usarão as demais como peças na consecução de seus objetivos. Seus valores morais são relativos ou inexistentes, e podem ser, durante o dia, cristãs devotas e, à noite, ateus convictos em uma mesa de bar intelectualizada. Vale tudo para brilhar, ou para ser o primeiro(a) em tudo. Embora existam graus que denotam o nível - elevado ou não- de insinceridade, pessoas assim acabam por desenvolver, quando já não tem, algum grau de bipolaridade ou esquizofrenia. Representam a realidade de acordo com seus intentos ou simplesmente agem de forma contraditória diante das mesmas situações: amam alguém, e a odeiam; querem tudo, e não querem nada, por fim; criticam, quando gostam, e quando não gostam, elogiam.

Por outro lado, a presença de estereótipos de conduta prejudica ainda mais o caráter das pessoas. É que, muitas vezes tentando atingir padrões de conduta impossíveis - a mocinha perfeita, o garotão pegador, o santo da Igreja, o CDF, a patricinha turbinada- esquecem-se de ser elas mesmas, visando sempre agradar aos demais. Tentam tanto ser o que idealizam - e todo ideal é vazio, uma forma sobre a qual deposistamos a matéria de nosso ser- que se tornam iguais a todos os demais, perdendo sua originalidade.

No mais, a falsidade massificou-se hoje, por um motivo especial, que, há que se dizer, carrega a influência dos sofistas: a destruição ou relativização dos valores éticos e morais. Apesar de hoje ser agradável aos olhos seguir a ética - práticas de boa governança de empresas, administração pública gerencialista, combate à corrupção etc- a prática nunca foi tão distante da teoria. Tem-se ciência de que tais limitações éticas são apenas formalismos que talvez enganem os mais incautos. Em suma: tornou-se regra fingir ter valores apenas por aparentar ter valores, e não mais por eles em si. Nada melhor que destruir a ética, do que fingir que todos a seguem, quando não é assim: se o fosse, as grandes empresas que quebraram na crise de 2008, todas adeptas dos mais propalados mandamentos da boa governança corporativa, jamais teriam servido de ninhos pra corruptos incompetentes e especuladores profissionais. Banalizamos a ética, para encobrir de vez nossa podridão moral.

Em suma, é com a massificação da falsidade que terminamos essa reflexão. Como pode algo tão nocivo ser a regra e não a exceção? Porque, pode-se dizer, é mais fácil ser mentiroso e astucioso que ter coragem de mostrar  que realmente se é. O homem pós-moderno tem medo de si mesmo, na medida em que teme encarar o peso de seus erros. Daí tanto afastar-se da religião e da verdadeira moral, que lhes aponta, com o dedo em riste, suas falhas de conduta; muito melhor é continuar a ser o que sempre se foi, sem nunca evoluir a algo mais elevado. Mas sempre fingindo um ar de irrepreensível perfeição.

Enfim: a falsidade é uma cruel exceção que tomou ares de regra, que nos é imposta no simulacro das ordenações sociais. Já dizia Rosseau que a moral dominante contraria a natureza humana e a sufoca, sendo responsável por produzir tiranos, loucos e infelizes de todo o gênero, pelas convenções humanas serem incapazes de realizar a natureza antropológica. E, convenhamos, não é da natureza humana a falsidade em si.

Assim, que se finde com uma pergunta: vale a pena se esconder atrás de máscaras e enganar as pessoas? A que isso conduz? Qual a felicidade que isso realiza? Os sofistas e Maquiavel não conseguiram responder essa pergunta. E nem nós conseguiremos, porque uma pessoa que rege sua vida pelas veredas da falsidade mente a si mesma e é incapaz de manter relações afetivas estáveis com outras pessoas. Seu veneno um dia a sufocará, e seu destino será inexorável: a pobre e cruel solidão, e, enfim, a morte. Aliás, Dante descreveu, em sua Divina Comédia - a descrição do Inferno-, há um círculo de pedra, no qual existem dez fossos, sendo que no segundo desses estão os falsários e bajuladores, mergulhados em um grande buraco com esterco e fezes: estão imersos na sujeira que deixaram no mundo; no quinto fosso, estão os corruptos, mergulhados em óleo fervente e eternamente flechados por demônios; os hipócritas, por sua vez, mais adiante, se encontram vestidos com roupas brilhantes, mas pesadas como chumbo, que lhes causam dores horríveis. É no Nono Círculo, disse Dante, que se encontram os traidores: enterrados, desde o tórax até o pescoço, na medida de sua traição, no gelo eterno. É nesse lugar, o mais profundo do Inferno, que se encontram Lúcifer e Judas Iscariotes, os grandes falsários da história e, por excelência, a fonte de toda a discórdia e falsidade. Para que se veja que nem mesmo a morte poupará os falsários da reparação por seus atos!

sábado, 27 de abril de 2013

Um Beijo para a todos governar

Alguns não conseguem disfarçar a sensação de constrangimento que sentem quando, passeando em uma praça, veem um casal beijando-se atabalhoadamente. Não me refiro a carinhos inocentes de namorados em inicios de relações, mas ao que se chama ordinariamente de "pegação''. Se sentem esses constrangidos "estranhos no ninho'', como se viessem de uma época diversa.

Talvez estejam essses indignados com tal tipo de comportamento com alguma razão. Excluindo-se moralismos artificiais e hipócritas, tal tipo de conduta sofre dos mesmos males de qualquer tipo de ação cuja prática social se deve à massificação: aqueles que banalizam o beijo - e, consequentemente, o amor- como algo ridiculamente caricato. Contudo,o beijo é objeto de larga reflexão através dos tempos. Talvez o primeiro pensador de importância a tecer algumas palavras para essa prática milenar, Platão dizia que o beijo é mais que um gesto banal: é uma forma fisica que as almas encontram de trocar suas essências, valores, ideias, conhecimento. Em Roma, os casais demonstravam seu compromisso mútuo beijando-se em público, uma única vez. Na idade das trevas, os senhores feudais beijavam seus vassalos, como símbolo de união comum contra a os inimigos que tanto aterrorizavam a sociedade da época; na corte de Luís XIV, o fato de um homem beijar uma dama era motivo suficiente para o casamento, se não, para alguns dias de prisão da Bastilha; do império brasileiro aos anos 1920, era comum que namorados e noivos só trocassem beijos em cenários reservados, íntimos. 

Talvez no que muitos considerem resultado de uma evolução gradativa, a sociedade atual adotou a prática exibicionista de realizar gestos de carinho íntimo, como o beijo, em público, seja por força da coação por enquadramento coletivo (em suma: o "eu-fiz-por-que-todo-mundo-faz'') seja pela fraqueza em dominar seus próprios impulsos, o que é mais recorrente. Nesse sentido específico, a alma e corpo humanos, dizia Platão em uma alegoria famosa no "Fedro'', é como uma carruagem, puxada por dois cavalos, que correm em uma estrada retilínea: um deles, selvagem (os desejos e impulsos materiais), torto e desobediente que, se predominasse, levaria a carruagem a sair da estrada para a floresta escura ao lado a fim de se alimentar da vegetação (os desejos, como bem interpretou Freud, caso realizados sem controle, levam o homem à perdição e destruição) e o outro cavalo (a coragem), mais veloz e impetuoso, dócil ao comando e virtuoso, mas cego, não sabendo onde ir, embora sinta ser-lhe melhor um campo vasto e sem obstáculos por onde podera correr sem rumo ou ordem, e que é responsável por impulsinar o primeiro. 

Na carruagem, há um condutor (a razão, o cerne da alma) que equilibra os dois cavalos, segurando-os pelas rédeas (pensamento), para que se mantenham na estrada, atividade qu requer força. E assim deve ser aquele que deseja o equilíbrio: permitir que a força natural que impulsiona o homem em busca do prazer, da felicidade e do bem-estar seja direcionada pela razão, e impulsionada pela coragem, que por ser cega, nunca tem medo de ir adiante. A coragem dá força ao homem para que se satisfaça (dizia Shakespeare, em Macbeth, que "quem pode se conter tendo um coração que ama, e, nesse coração, a coragem para tornar esse amor conhecido?''), mas segundo a razão, que estabelece uma finalidade específica para as duas forças naturais. Platão dizia que, se o condutor afrouxar as rédeas - parar de pensar-, ou se perderá na floresta, ou se perderá no campo, porque mesmo a coragem e força de vontade, sem direção e cegas, são causas de perdição; pior, continuava, era quando o próprio condutor deseja ir à floresta encontrar alguma ninfa, desviando-se da estrada, e termina por ceder aos impulsos do segundo cavalo. O homem, assim, conduzia seu corpo, através do pensamento, que controlavam seus sentimentos, embora estes pudessem também dominar, o que conduziria o homem para a perdição.

O beijo é uma expressão humana de sumo valor, demonstrativa de algo grau de intimidade e paixão, expressão da natureza humana e, como tal deve ser contida e guiada pela razão rumo à uma finalidade. Convencionou-se estabelecer que essa finalidade, antigamente, era o namoro sério; hoje, não há finalidade alguma, a não ser charpuscar tão nobre ação com "ficadas'' sem sentido: muitos deixam o cavalo dos desejos vencer e perdem-se na floresta da falta de sentido, ou então acabam por se encher de coragem e a tudo querem dominar, sexualmente, como tiranos cegos, deixando o segundo cavalo predominar, tendo o corpo claheio como posses, meros objetos de fetiches estéreis; incapazes são os discípulos do "ficar'' de manter um relacionamento dito "sério'' com outra pessoa por muito tempo, dado seu vazio sentimental e ausência de auto-controle. Ficar é coisa de quem não se domina, diria, ou não possui o grau devido de maturidade, que afrouxa as rédeas do pensamento e deixa o cavalo manco e torto do desejo conduzir a carruagem da alma à uma floresta escura. Não é a sensação de prazer que o beijo traz que deve dominar o ser humano, sendo um fim em si, mas sua utilização como expressão de um sentimento mais elevado que o simples prazer; porque o prazer por si é fugaz e efêmero, trôpego diante das marés sentimentais, enquanto o amor expressado por via do prazer é uma fortaleza que nem a morte pode expugnar, que a tudo supera, a tudo suporta e a tudo perdoa.


Mesmo escritas há mais de dois mil anos, as palavras de Platão permanecem atuais: o equilíbrio é a chave da alma, que pode estabilizar-se para alcançar a felicidade e, finalmente, contemplar as virtudes imutáveis e imortais do amor; este, como a justiça, também é um equilíbrio de almas e corpos. E nada melhor para se alcançar essa contemplação do equilíbrio amoroso, do que a relação amorosa com uma outra pessoa, sem máscaras, sem estereótipos, sem tolas encenações vulgarizadas que procuram, como a raposa que busca as uvas na Fábula de Esopo, atingir um ideal muito superior de amor e que, não o atingindo, passam a desprezá-lo como uma ficção não-preferível às relações instáveis e superficiais de hoje. Equilíbrio e moderação, são as palavras universalmente válidas, para que grandes e sinceros amores sejam vividos.

domingo, 7 de abril de 2013

Uma nova fase


Olá, parcos e bravos leitores,

Estou há tempos sem atualizar o Blog. Os motivos são vários: falta de tempo, por conta das cobranças costumeiras da Faculdade, ainda baseada no velho modelo jesuíta de ensino; falta de paciência em escrever e, acima de tudo, ausência de inspiração. Todavia, isso não passa de mera consequência do exaurimento do velho modelo sob o qual o blog foi fundado: longas reflexões filosóficas e políticas, que muitas vezes afastam o leitor ou embaralham as ideias mais do que ajudam-nas a ser inteligíveis. Menos Academia, mais improviso, é a palavra de ordem.

São muitos os temas aos quais gostaria de discorrer. Infelizmente, pouco ou quase nada consigo pensar sobre eles, que já não possa ser encontrado em algum site de notícias mediano. Aparentemente, minha criatividade encontrou seu crepúsculo ou, no mínimo, está submersa na ciranda dos problemas que tanto me afligem, como flagelam a qualquer jovem ignorante de 20 anos.

Mesmo diante do exposto, voltarei a publicar, mas, dessa vez, notas de pouco aprofundamento, e inserirei no Blog uma seção para tratar de problemas afetivos e ordinários. É, até eu tenho lá meus sentimentos.

Esperamos que você junte-se a nós nessa nova rodada de reflexões e viagens rumo-ao-centro-da-maionese,

JG