quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As eleições em Garanhuns: a rebelião e a reviravolta




Hoje peço, polidamente, licença aos habituais leitores do Blog para comentar alguns eventos extraordinários na campanha político-eleitoral da cidade de Garanhuns.

Os políticos de Garanhuns mostraram hoje que sua política é realmente suja, incoerente, um verdadeiro "salve-se quem puder''. Um dos candidatos renunciou à sua candidatura para apoiar outro, aquele que lidera as pesquisas. O motivo alegado: unir a cidade contra o "avanço'' de Zé da Luz. Lembra algo? Em 2008, o discurso que elegeu o atual prefeito, Luiz Carlos, foi o mesmo: "ou eu ou o caos (Zé da Luz)''. Detalhe: naquela época, Silvino Duarte (PSDB) apoiou Zé da Luz. Será que agora, tomado por uma febre altruísta, o tucano decidiu que, dessa vez, é bom para a cidade a derrota do Zé, e achou por bem imolar sua candidatura no altar do bem coletivo?

Mais uma vez, tratam-se de simples interesses pessoais transladados para a esfera pública... a cidade se uniu realmente contra Zé da Luz, como alegam os militantes da recém-formada coalizão? Ou terão se unido apenas dois grupos políticos que, no fundo, estão no poder desde 1996, repetidamente, e que agora estremecem de medo quando a chance de perder a vaquinha de leite da prefeitura se mostra real? O nível da campanha já estava baixo, e agora? Que justifica tal reviravolta?

O que está havendo, com o crescimento assustador do Zé nas pesquisas, é a simples revolta da população, marginalizada e esquecida pelos atuais governantes e suas cúpulas (isso inclui o candidato de PTB, que recebeu todo o apoio da atual administração municipal em suas campanhas pretéritas), que governaram para si mesmos, todos esses anos. As frustrações do povo explodiram e Zé da Luz, um populista demagogo, soube se aproveitar da fragilidade política da cidade e se capitalizou para tomar de assalto a prefeitura, à cabeça de uma "rebelião'' popular; o quatro últimos governos fingiram que o povão, maioria esmagadora da população, não existe, mas agora ouvem seus gritos, que dizem "faça o 31!''. Zé percorre as periferias da cidade, conversa com os populares, ouve suas queixas e, acima de tudo, promete. E a promessa maior é, de maneira simbólica, incluir as populações excluídas na política no município: Zé é o "messias'', o "libertador'', que oferece as benesses do poder, restritas a grupos fechados (a marca do silvinismo), aos populares; o homem que vai acabar com os atuais grupos políticos e, enfim, liderar os excluídos sociais, nessa verdadeira revolta, dirigida das periferias contra o centro da cidade, para o Éden das delícias do assistencialismo.

Mas o risco da política de Garanhuns ser totalmente privatizada e revertida às práticas oligárquicas (imperantes em Caetés, reza a lenda), agora é real, já que o município já governado pelo Zé foi o campeão da pobreza em Pernambuco, ostentando um IDH sub-humano, com uma dívida pública altíssima e servições públicos sucateados, embora seu grupo político domine, com mãos de ferro, a política da terra de Lula. 

Assim, Parabéns à toda a elite política atual, tudo isso é obra de vocês e de sua falta de política, gerência, visão, articulação, de simples sensibilidade social! Vocês tentaram monopolizar a politica municipal por anos, excluindo a população dela, e agora estão prestes a perdê-la! E o maior prejudicado será o próprio povo, que ingenuamente crê em Zé como seu líder. A grande obra dos quatro (des)governos silvinistas pode ser o início do "reinado'' dos Sampaio na terra da Simoa, o retrocesso da cidade ao tempos do puro populismo. Esse osso eles não vão largar até terem sugado a última gota de tutano... 

Agora, silvinistas e "régistas'' vão tentar o tudo ou nada contra o 31, e o prêmio dessa guerra privada é o multimilionário orçamento municipal, centenas de cargos públicos comissionados e o prestígio político da nona maior economia do Estado. O povo? Pouco importa, não é? 

Eu me divirto com isso tudo... "tragicomédia'', eis o termo para resumir as eleições municipais de 2012. Por isso, ainda voto em Paulo Camelo. Porque a população precisa entender que não são "messias'' iluminados ou grandes chefes políticos que vão mudar a cidade da água para o vinho e, dessa forma, fazer chover sobre as cabeças de todos benesses sem fim. Já é hora de amadurecer politicamente e, enfim, tomar o processo político nas próprias mãos. 

Enfim, são dois os cenários dominantes: ou Garanhuns opta pela mescla do silvinismo e do régismo, um ser político híbrido que aparenta não poder sobreviver muito tempo, ou cai nos braços da rebelião do Zé. Mas ainda há outra opção: o voto no diferente, na ousadia, no PSOL. Essa é minha opção, e a sua?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Uma luz sobre o lado sombrio da Igreja Católica - Parte um


Desde o fim do Regime Militar, e talvez antes, as universidades brasileiras são dominadas pelo pensamento esquerdista, em suas várias vertentes. Essa constatação tem suma importância, já que são nossas instituições de ensino superior e seus docentes que produzem obras pedagógicas sobre a História do Brasil e do mundo para todos os níveis de ensino; ou seja, o ambiente acadêmico acaba por imprimir sua ideologia nas suas publicações (muitas delas adotadas nas escolas pelo MEC), levando os incautos estudantes das séries iniciais a acreditar ser a versão histórica contada ali inquestionável, ou, no mínimo, a "verdade''.

Dentro dessa "doutrinação'', uma das figuras históricas mais atacadas é a Igreja Católica, acusada diversas vezes de matanças generalizadas, obscurantismo, combate ao racionalismo e imposição de seus dogmas, além da associação com os poderes políticos dominantes e opressores. Basicamente, a doutrina da Igreja, com seus dogmas apoiados no método aristotélico-platônico (com a clássica divisão entre matéria e ideia, superfície e essência, onde esta última é composta pelas normas de Deus, como valores e virtudes divinas, enquanto a matéria é vista como algo negativo e pecaminoso. Na teologia cristã, corresponde à adversidade pecado x graça) é condenada por imputar à revelação divina o sentido do mundo e como devem se comportar os homens (as normas morais). Segundo o tradicional pensamento materialista-marxista, essa revelação divina esconde a vontade das classes dominantes, que usaram a Igreja como porta-voz de suas necessidades e pilar legitimador de sua tirania. A visão da "verdade'' como algo metafísico - e, portanto, transcendente à matéria, uma heresia para o materialismo- revelado por Deus à sua Igreja também agiria como um "narcótico'' nas consciências individuais, uma distração dos verdadeiros problemas merecedores da atenção humana. Alguns pensadores chegam a afirmar que papas e bispos montaram a mais cruel e eficiente ditadura das consciências, através da doutrinação maciça, seja pela fé e crendice popular, seja pela força e pelo sangue.

Trata-se de uma acusação de duplo genocídio, um contra populações- minorias étnicas, membros de outros credos e rebeldes cristãos, os "hereges''- e outro contra a própria razão- a criticidade, o racionalismo, o libertarismo. A pergunta que muitos estudantes fazem com relação a esses ataques, em um país católico, é simples: teria mesmo a Igreja Católica cometido tão graves crimes? Vamos desmistificar alguns mitos criados pelo "pensamento único'' que domina as universidades.

1- A polêmica fundação da Igreja: dádiva de Constantino?

As controvérsias começam com o que seria o "início oficial'' da Igreja Católica, que, segundo (certos) historiadores, teria se dado com a fundação e organização, pelo imperador romano Constantino, de dioceses e paróquias por todo o império, sob a autoridade do bispo de Roma, Silvestre I. As teses fundamentais da Igreja, por sua vez, teriam sido afirmadas/impostas com o Concílio de Niceia, com a afirmação da divindade de Cristo e a virgindade perpétua de Maria. A partir daí, uma religião antes minoritária e perseguida ganhou apoio do Estado e, no fim do século IV, foi imposta a todos os habitantes do império.

Apesar da sedução de certeza que esta tese oferece, ela retrata apenas parte do processo de formação da Igreja. Desde a ressurreição (para os que creem) de Cristo, diversas pessoas começam a pregar o cristianismo sem necessariamente se organizarem para isso em uma instituição. Contudo, os apóstolos originais mantiveram contato entre si e uma certa homogenia de ideias, fundando não uma instituição, mas uma comunidade de cristãos, em Jerusalém e, logo mais, várias outras, já que o método de pregação consistia em mandar membros de cidade em cidade, e, logo convertidas algumas pessoas, deixar a liderança da nascente comunidade nas mãos das pessoas mais velhas (de onde vem o nome presbiteros, "homem velho'', que é a raiz do título "padre''). O pregador e fundador do núcleo cristão, geralmente um apóstolo ou discípulo deste, se correspondia frequentemente com as comunidades formadas, geralmente solvendo dúvidas e orientando os fieis no correto cumprimento da religião cristã, centrada na celebração eucarística. O método pode ser muito bem visto nas cartas de S. Paulo e S. Pedro, que constam na Bíblia. Já poucos anos após Cristo se retirar de cena, os apóstolos realizaram o primeiro dos concílios, em Jerusalém, onde definiram que Gregos e pagãos não precisam ser circuncidados para serem batizados.

Pouco depois, com o aumento de complexidade das comunidades, com várias a orientar, os apóstolos ordenaram (''impondo-lhes as mãos'') sucessores e discípulos diversos com o fim de "guardar''  fé; esses vigilantes receberam o nome de "episcopos'' (em grego, guardiões, pastores), que é raiz da palavra "bispo''. O bispo de Roma, por sua vez, tinha grande autoridade moral dentre os demais e dele vinham as principais orientações religiosas, já sendo reconhecido como Papa (Petrus Apostulos, principes apostolos), que, em grego, também significa "papaizinho'', ou "painho'', embora o detentor do título fosse eleito pelo povo de Roma e não tivesse todas a funções de hoje (como proferir dogmas ex cathedra).

Em outras reuniões, os apóstolos e seus sucessores fixaram um conjunto de dogmas que praticamente permaneceu inalterado até 325, quando ocorreu o Concílio de Niceia, que apenas o reorganizou racionalmente; algumas crenças marginais, porém, misturaram elementos pagãos ao cristianismo, resultado em doutrinas incompatíveis com o evangelho (como o maniqueísmo, o arianismo etc). Ou seja: o fundamento dogmático da Igreja, bem como sua organização básica estruturada em padres, bispos e no papado, já estava estabelecido desde o século I, sendo apenas publicizado, dilapidado e compilado pelos bispos, no concílio de Constantino. Não por acaso, o núcleo cristão conduzido pelos apóstolos entrou em conflito com outros grupos cristãos, como os arianos e nestorianos, bem posteriores à pregação apostólica. Assim, cai por terra o mito de que a doutrina e a hierarquia da Igreja foram "criadas'' pelo imperador ou a seu mando.

Na verdade, Constantino apoiava a corrente dos arianistas, que negavam a Cristo sua face humana. Ele não usou a força militar do império para expandir a fé católica, que, tampouco, o apoiou- a única "benesse'' real do imperador foi o Édito de Milão, que assegurou liberdade religiosa aos cristãos, e de forma alguma imposição de sua religião a todo o império - a expansão do catolicismo pelo império se daria por obra dos próprios cristãos.

Em Niceia, apenas reafirmou-se o que já existia, em termos de doutrina, contra as heresias arianas e nestorianas. Se essa reafirmação serviu para o fortalecimento da monarquia imperial, foi muito mais por decorrência ou efeito secundário de Niceia do que causa desta.

2- Os elementos pagãos na Igreja Católica: faltou originalidade?

Ainda referente á formação da Igreja, muitos historiadores argumentar que, durante o processo de afirmação do cristianismo, a Igreja terminou por absorver diversos elementos de origem pagã, como a forma dos templos, as imagens e funções dos santos (que ocupariam a função dos semi-deuses mitológicos), o incenso, as vestes dos sacerdotes (a mitra, a casula, a estola, o báculo e a túnica) e mesmo datas festivas, como o 25 de dezembro. Isso sem falar em uma centena de símbolos (o alfa e o ômega, o ostensório, as rosáceas), títulos e práticas. (Ao lado, Mitra).

É inegável que existiram elementos em comum entre o paganismo e o cristianismo. Não se pode esquecer que muitos pagãos convertidos trouxeram práticas e crenças de seus velhos credos para a nova fé. Nessa bagagem, se incluem as vestes da época, que eram usadas independentemente das celebrações religiosas, já que eram o vestuário padrão da época (túnica, estola, por exemplo), e acabaram, por força do costume, sendo mantidas nas celebrações cristãs, mesmo quando o vestuário padrão foi alterado pelos séculos. Assim, os paramentos cristãos que vê-se em bispos e padres são baseados em vestes romanas, que não invocavam qualquer significado religioso (o vestuário sacerdotal pagão era o manto, adornos diversos, calças, coroas de louros, cinturões de prata, e por aí vai, totalmente diverso das roupas cristãs; ou nenhum, se se tratavam de cultos sexuais). Os símbolos cristãos (o cordeiro da páscoa, a cruz, os títulos de Cristo etc) são de origem mais judaica do que pagã; por outro lado, uns poucos tem uso no paganismo, embora com sentido totalmente diverso. A própria cruz era um símbolo de maldição, não de divindade, entre os pagãos. Já quanto à polêmica data do 25 de dezembro- nascimento do deus sol, Apolo, ou de Mitra-, cabe uma observação simples. O panteão romano possuia centenas de deuses, onde cada um fazia aniversário em um dia do ano. Fatalmente, o dia do nascimento de Jesus coincidiria com a natividade de algum desses deuses. Aliás, a conversão das datas da Bíblia, que trariam o período aproximado de nascimento de Jesus, do calendário judaico para o gregoriano (adotado por nós) cai exatamente na última semana de dezembro.

Os templos foram, em pequena parte, reaproveitados do paganismo, e seguiam a mesma ordenação judaica, que lembra, de fato, as construções pagãs. A presença de um altar é clássica (bem como a ideia de sacrifico de sangue), junto com as imagens dos santos, que, segundo a doutrina da Igreja, tem função apenas de recordar o testemunho daqueles que retratam- uma função de reverenciação, não de adoração. As preces dirigidas aos santos tem fundamento bíblico, já que Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos; e o "poder'' de homens e mulheres que morrem em testemunho da fé, e são alçados à companhia do Pai, se resume em apenas rogar a Deus que conceda a graça pedida, ao contrário dos deuses menores, que tinham poder por si mesmos; estes serviam à própria grandeza, enquanto os santos servem à grandeza de Deus. Claro que, por uso e costume, certos santos acabaram associados a certas causas- a gravidez, a chuva, a fertilidade dos campos, a boa governança- , embora essas crendices não tenham valor dogmático algum. 

Uma crítica mais séria com relação à cópula paganismo/catolicismo passaria, necessariamente, pelo maniqueísmo. Tal doutrina, uma seita da religião persa, acreditava na existência natural do bem e do mal na matéria, que se digladiavam em uma luta cujo desenrolar seria o fim dos tempos. A ideia de que o homem tem, naturalmente, o mal dentro de si, é vista como o embasamento pelo qual Santo Agostinho elaborou a doutrina do pecado original; todavia, na doutrina agostiniana, o homem adquiriu o pecado, não o tendo naturalmente, (já que é imagem e semelhança de Deus). Aliás, o dualismo persa fundava-se em dois deuses opostos, onde um não era "melhor'' que o outro. Já o cristianismo se apoia na existência de um único Deus.

Por outro lado, a acusação de que a figura de Cristo foi inspirada em Mitra, Khrishna e outros deuses sequer merece contraposição. As doutrinas religiosas respectivas são tão alienígenas entre si que exclui-se qualquer "coincidência'' entre ambas, além da patente falta de documentos históricos - inexistentes, em tal caso- que comprove tal tese absurda.

Enfim, a acusação de que o catolicismo é uma síntese entre paganismo e cristianismo - não tendo "originalidade'', e, portanto, veracidade, como religião fundada pelo próprio Deus- é, no mínimo, infundada, se não fantasiosa.

3- As Cruzadas: a matança em nome da fé?

Avançando um pouco no tempo, e deixando para trás certas polêmicas (a corrupção no papado, durante o século IV, e a "pornocracia'' do século X), chegamos aquele que, se não for o maior, é, ao lado da Inquisição, considerado como um dos maiores crimes da religião católica: as expedições militares, conduzidas pela nobreza europeia, contra os mulçumanos, visando libertar a Terra Santa de seu domínio. 

Antes de mais nada, comecemos por analisar como a Europa estava naqueles tempos. Depois de um longo período de invasões por parte de vikings, sarracenos e magíares, as terras cristãs conheceram certo alívio. Todavia, o fortalecimento dos senhores feudais levou a constantes guerras internas, já que os poderes centrais não podiam garantir a ordem, com cada vez mais roubos, assassinatos e estupros. 

Por outro lado, a Europa vivia um período de grande aumento populacional, que gerou as fortes disputas por terras e poder. O comércio começou a renascer. Como a produção agrícola, base da economia feudal, era extensiva, ou seja, só aumentaria com o crescimento da área plantada, novas terras se faziam necessárias para atender a demanda de alimentos. Mas onde conseguir mais terras?

Nesse cenário, a única instituição que conseguia garantir um mínimo de paz era a Igreja, que elaborou normas morais rígidas (códigos de conduta, como o da cavalaria) para conter a anarquia social que ameaçava destruir a civilização, resultando em prolongadas guerras, fomes e mortes. Em suma, a Igreja era a pedra a basear a luz da ordem contra as trevas do caos.

A dispersão do poder político e a super-fragmentação da Europa medieval abriu um gigantesco vácuo, que somente a Igreja poderia ocupar. Ela se tornou o centro de produção de normas morais e jurídicas que garantiram legitimidade a ordem feudal, a única possível diante do cenário caótico da Europa. Isso implica dizer que o modelo feudal respondia satisfatoriamente às necessidades sociais reinantes; por outro lado, a hegemonia cultural da Igreja criava um fator de unidade que, no futuro, seria o cimento da construção dos Estados nacionais. Seria ela o único fator que levaria os europeus a se unirem em uma causa em comum.

Dentro dessas normas morais, oriundas de dogmas religiosas, estavam as peregrinação a lugares santos. E, desde o império romano, os cristãos viajavam à Palestina para visitar os lugares santos, sem serem molestados; situação que mudou radicalmente quando os turcos seldjúcidas conquistaram Jerusalém e passaram a massacrar grupos de cristãos que se aventuravam a ir aos lugares onde Cristo viveu. Essa insegurança levou a formação de grandes expedições, resguardadas por verdadeiros exércitos, com o fim de garantir segurança para as peregrinações.

Por outro lado, o Império Bizantino fora derrotado pelos mesmos turcos e se encontrava por um fio. Evocando a causa comum contra os pagãos (embora bizantinos e católicos tenham rompido em 1054, no grande cisma do oriente), o imperador Alexis pediu ajuda ao Papa Urbano II, que convocou bispos de toda a Europa e, em Clermont, conclamou uma grande multidão de fidalgos e populares para retomar a Terra Santa, considerada o umbigo do mundo, o reino dos céus e o lugar de remição de todos os pecados cometidos; "francos! Vós dois grandes cavaleiros? Pois empenhem a lança para rasgar as trevas e libertar o sepulcro de Nosso Senhor! Deus o quer!'', dizia o Papa, para o êxtase da multidão, reunida no castelo de Clermont. O apelo imperial foi apenas o gatilho que detonou o processo. Por outro lado, mercadores europeus, que visavam ampliar seus parcos negócios através do domínio do um valioso entreposto comercial que era Jerusalém, entraram com o dinheiro para construir navios e comprar armas para os exércitos nobres.

Logo, uma turba de camponeses partiu para o leste, saqueando castelos e incinerando tudo em seu caminho, até chegar às portas de Constantinopla. Lá, a dita cruzada dos mendigos partiu para a Turquia e foi exterminada pelos turcos. 

Os nobres se uniram sob o comando de grandes duques, embora os exércitos tenham se compondo de camponeses desgarrados, que queriam livrar-se dos laços de submissão feudal; cavaleiros oriundos da baixa nobreza e filhos não-primogênitos, que não tinham direito à terras; mercenários, criminosos, bêbados inverterados e, por fim, mercadores (venezianos e genoveses) sedentos de lucro. Em suma, tratavam-se dos "excluídos'' (a exceção dos duques) da sociedade que se formava: a Terra Santa seria um lugar para eles. Essa era a promessa implícita nas palavras de Urbano II, quando se referiu ao perdão dos pecados. A Terra de Cristo era o lugar de um novo começo para os excluídos resultantes do modelo feudal, que, ao mesmo tempo, cresceu tanto que se viu como única alternativa a expansão geográfica (como a produção agrícola, base da economia feudal, era extensiva, ou seja, a colheita só aumenta com o crescimento da área plantada, novas terras se faziam necessárias²).

Diante disso, alguns parecem esquecer que os valores de coexistência mútua e pacífica entre povos são relativamente recentes. Na idade média, um povo precisava conquistar seu espaço, geralmente contra outras etnias, pela força da espada. E as cruzadas nada mais foram que um movimento de expansão da sociedade europeia rumo à novas terras, por necessidades econômicas, demográficas (super-população), políticas e religiosas; um movimento de expansão cultural, populacional e militar, legitimado pela religião. Os mesmos sarracenos atacados fizeram o mesmo ao conquistar impérios inteiros pela força; da mesma forma que os chineses, durante a dinastia Jing; os mongóis, sob a liderança de Gengis Khan; a França de Luís XIV, a Inglaterra pós-revolução gloriosa, os EUA pós-2ª guerra. Impérios e riqueza são forjados pela guerra. Se a religião não fosse fundamento do cruzadismo, qualquer outro poderia ter sido elaborado, já que sua causa foi de ordem sócio-econômicas. Ou seja, a doutrina cristã (um fator superestrutural) não "causou'' as cruzadas, mas sim fatores de ordem estrutural, já citados

Essas constatações não fazem muita diferença quando se retratam as batalhas dos cruzados na Palestina. Retratos de canibalismo, massacres de mulheres e crianças e saques furiosos foram frequentes. O pior se deu quando, em 1099, os exércitos cristãos, sob a liderança do duque de Lorena e seus pares da Normandia, conquistaram Jerusalém e, numa onda de fúria, mataram, em três dias, 100 mil pessoas, incluindo cristãos de outras vertentes, judeus, velhos, crianças, mulheres grávidas. Não há como negar a selvageria do ataque.

Os mais sensíveis podem se indignar. Mas essas situações eram de praxe no sombrio mundo medieval, não sendo consideradas crimes na época, mas direito de guerra dos vencedores, da Noruega à China. Não houve ordem alguma do Papa, bispos ou da orientação oficial da Igreja sobre tais massacres, embora alguns pregadores tenham exagerado e condicionado a morte de sarracenos ao perdão dos pecados; os saques ocorreriam de qualquer modo, conclui-se. A Igreja, em geral, dizia que os inimigos mortos em combate não resultavam em ofensa ao mandamento do "não-matar'', já que se tratava de "malecídio'', matar o mal; ou seja, a Igreja oferecia apenas a absolvição do ato de matar na guerra, já que, em qualquer conflito armado, tal prática fosse óbvia. A orientação oficial da Sé sobre o assunto era de que indefesos, como mulheres e crianças, deveriam ser poupadas, mesmo sendo islâmicos.

No mais, tirando alguns excessos cometidos durante a primeira cruzada, as demais foram relativamente tranquilas. Os europeus invadiram o território, dividiram-no em feudos e estruturam esses senhorios a laços de vassalagem com o Reino de Jerusalém, numa reprodução do regime feudal da Europa, comprovando a tese de que o sistema europeu desejava, com as cruzadas, uma expansão geográfica, ao invés de uma pura empresa religiosa. Fé não alimenta bocas ou faz correr moedas de ouro. Como já dito, nobres de baixo nascimento, camponeses, mercenários e exilados diversos colonizaram a Terra Santa, embora em número infinitamente inferior ao da população local, que permaneceu mulçumana, com todos os direitos de cultivar sua fé garantidos, em um clima de liberdade religiosa vital para assegurar alguma estabilidade para um reino onde, para cada cristão, existiam 10 sarracenos ou mais.

O Reino cristão permaneceu firme por décadas, até que alguns radicais, objetivando dominar rotas comerciais, atacaram caravanas de islamitas, nos territórios dominados por Saladino, sultão do Egito, Síria e Bagdá. A situação foi bem conduzida pelo rei de Jerusalém da época, Balduíno IV, o leproso, um habilidoso político e diplomata, que buscou, junto com alguns nobres (como Balian de Ibelin, retratado no filme "Cruzada'') estabelecer a paz e a tolerância mútua entre os credos. Sua morte pôs fim ao projeto e levou Guy de Lusignan, casado com a irmã de Balduíno, Sibila, ao trono, junto com o bando de radiciais responsáveis pelos saques às caravanas de Saladino. No fim, Saladino declarou guerra aos cristãos e conquistou Jerusalém, poupando os cristãos. As demais cruzadas fracassaram todas, menos a sexta, liderada por Frederico II; as últimas foram comandadas pelo rei francês Luís IX, mais tarde São Luís (acima). Mesmo assim, os cruzados terminaram expulsos da Palestina e, a partir daí, o sistema feudal europeu, diante do aumento do comércio, do poder real e das contradições do sistema (baixa produção, revoltas campestres etc) entrou em uma lenta autofagia, que só terminaria coma Revolução Francesa.

As cruzadas, porém, se deram em outras regiões, como no Báltico e atual Prússia (cruzada dos cavaleiros teutões contra os eslavos), no sul da França (Simon de Monfort liderou uma tropa para destruir os albigenses; o objetivo oculto era fortalecer a monarquia francesa) e na península ibérica (cruzada pela expulsão dos mouros da região). Todas de cunho expansionista- econômico, diga-se de passagem. Já ocorriam batalhas por tais objetivos, em suas respectivas regiões, muito antes do Papa (no caso, Inocêncio III) convocar as respectivas cruzadas.

5- A suposta tirania e a "opulenta'' riqueza da Igreja Medieval

Explicadas as Cruzadas, podemos passar a um ponto um pouco mais polêmico. A ação da Igreja, após sua aliança com Carlos Magno, prolongando-se até o início do modernidade, é maculada, por historiadores, como um período sombrio onde a razão era abominada, normas morais eram impostas pela força e sacerdotes integravam a cúpula de uma sociedade que explorava violentamente os pobres e indefesos. As acusações mais graves versam sobre a "conversão forçada'' de pessoas simplórias ao catolicismo ao enriquecimento fabuloso da instituição católica ao custo da miséria generalizada.

Realmente, a Igreja deteve mais da metade das terras na Europa, e recebia 10% da "riqueza'' de todos os territórios cristãos. Essa riqueza, contudo, não financiava o luxo de clérigos, que viviam, em sua maioria, da caridade do povo, nem da cúpula da Igreja, embora esta tenha sido suscetível a abusar do poder; a ideia básica era de que os recursos eram da instituição e deveriam ter sido usados na evangelização e manutenção das paróquias e dioceses. Foi assim, por um bom tempo, já que a sociedade feudal, eminentemente agrária, não gerava riquezas além de sacas de trigo, cevada e, talvez, algum bom vinho - a riqueza, no fim das contas, eram bens primários, como alimentos, que eram distribuídos para o sustento do clero e das inúmeras obras de caridade da Igreja. Alguns economistas liberais de nossos tempos criticam esse "solidarismo'' católico acusando-o de tornar os pobres medievais "preguiçosos e dependentes'', impedindo-os de gerar riqueza e restaurar um sistema econômico complexo -  como o de Roma.

Assim, por 600 anos, a Igreja viveu das mesmas condições materiais da população. A grande reviravolta se dá com as cruzadas, o despertar do comércio e o fortalecimento das monarquias feudais. Lentamente, a Igreja é içada ao posto de única instituição a garantir a estabilidade dos novos Estados em surgimento, bem como a coexistência destes. Por outro lado, as riquezas da Igreja deixam de ser meros bens consumíveis e se monetarizam, excedendo, em volume, quantias que chegariam, em nossos dias, facilmente aos bilhões de dólares. Iniciou-se um processo, lento e desgastante, de corrupção do clero pela riqueza manejada e "secularização'' da atividade da Igreja, convertida em um ente político a disputar a soberania na Europa com as novas monarquias. Nessa época, Inocêncio III, o papa cruzadista já citado, iniciou o projeto megalomaníaco de transformar a Casa de Pedro em um império universal, ordenando aos exércitos franceses que lutassem contra os dois focos de oposição ao poder papal -  a Inglaterra de João Sem-terra e o sacro-império de Otão IV. Ambos foram esmagados na batalha de Bouvines, em 1214, que resultou na ascensão de Frederico II ao trono imperial, na concentração do poder nas mãos da família real dos Capetos e no declínio das forças feudais, personificadas na Inglaterra, vassala dos Capetos. 

Estranhas e curiosas consequências nasceram de tal batalha ainda, como a imposição da magna Carta ao rei João. O apoio francês ao papa não se dava somente por devoção religiosa: a monarquia usou o poder da Igreja para unificar a cunhagem de moedas e os pesos e medidas dentro da França, bem como para fortalecer o poder real, transformando o país no mais poderoso, economicamente, da Europa. No fim, o rei Felipe IV, o Belo, negociou com o papado a "legalização'' da usura (empréstimos a juros ou lucro), até então proibida pela Igreja e, com o apoio de uma já poderosa burguesia, comandou uma inciativa inédita até então. Tomou de assalto a Igreja.

Mas como? O rei inciou uma querela com o Papa Bonifácio a respeito da tributação ou não do clero. Quando o Santo padre negou a ambiciosa inciativa de Felipe, este simplesmente ordenou a seu exército que capturasse o papa, que, pouco depois, morreu de desgosto. Com a força dos seus 30 mil soldados, Felipe transferiu a sede do papado para a França, em Avignon, onde, subornando os cardeais no conclave, conseguiu eleger Beltrão de Got, um cruel arcebispo francês, como Papa. Desnecessário dizer, Beltrão, agora Clemente V, cedeu às exigências do rei e passou a apoiar o processo de construção da autoridade real, destinando somas arrecadadas pela Igreja em toda a Europa em empréstimos duvidosos à Coroa francesa, que também já devia mundos e fundos aos Templários. Quando percebeu que a ordem militar templária dispunha dos recursos que precisava para fortificar cidades, manter exércitos e fomentar o comércio, Felipe IV ordenou a Clemente que dissolvesse a ordem e confiscou todos os seus bens.

A partir daí, a Igreja iniciou uma guerra -  contra ela mesma. Anti-papas foram eleitos, depostos, reeleitos e enforcados, enquanto uma onda de corrupção se alastrava sobre o clero, onde padres e bispos viviam com concubinas, mantinham relações homossexuais e até participavam - em pequena escala- de cultos satânicos. Pregadores mendigos apareciam do nada, insuflando rebeliões nas massas camponesas contra os abusos do clero. Esse momento de crise da Igreja coincidiu com a grande crise do feudalismo, cujas contradições internas explodiam, devido à super-população e à disputa pelo poder entre reis e nobres, na forma de grandes revoltas dos servos e guerras arrasadoras entre as monarquias. Tratavam-se das terríveis calamidades que se pretendia superar com as cruzadas - o sistema feudal não expandiu e acabou explodindo.

A sede do papado permaneceu quase 70 anos na França - durante o chamado Grande Cisma do Ocidente-, e só em 1414 um papa, Martinho V, conseguiu ser o único titular do cargo. A luta pelo poder dentro da instituição, sua conversão em instrumento político nas mãos da monarquia francesa e o crescente nível de riquezas administradas pelo clero em contraposição ao empobrecimento geral da população quase destruíram a mais antiga instituição do planeta na época. Contra isso, um grupo de clérigos de Cister, fundados pelo mesmo papa Bonifácio que enfrentou Felipe IV, liderou uma renovação nas práticas do clero, condenando padres casados, punindo aqueles que desviavam os recursos da Igreja e se distanciando das questões políticas -  esse grupo respondeu ao caos da sociedade feudal com a dureza necessária. Isso se resume a dizer que a Igreja puniu, com elevado rigor, todos seus membros que se distanciavam de suas normas de conduta, bem como seus próprios fieis. Torturas, humilhações e mortes se deram aos milhares, numa violência proporcional ao caos social reinante -  no fim, a sociedade europeia manteve sua coesão, em vez de se despedaçar em inúmeras seitas sob o comando de senhores da guerra ou companhias de comércio inescrupulosas. A verdade é que, sem esse rigor, a ordem social poderia ter sido dissolvida, não acarretando uma revolução democrática - como pensam alguns teóricos socialistas-, mas abrindo espaço ou para a dominação da Europa pelo Islã ou para ainda mais fome (1317), pestes (1346-1353) e guerras (1337-1455).

Assim, alguns historiadores costumam dizer que a Igreja aliou-se aos novos monarcas absolutos que emergiram desse caos do fim da era medieval para manter a ordem social excludente e os privilégios do clero. E estão certos. Só esquecem de lembrar que, nesse período, já adentrando ao Renascimento, a cúpula da Igreja transformou-se em uma casta controlada por um complexo jogo de influências políticas e comerciais, onde a religião era a última coisa que importava. Um verdadeiro véu a ocultar a podridão do clero. Mas, ora... os próprios membros do baixo clero revoltaram-se contra essa situação. E eles não estavam sós: vários bispos e mesmos cardeais pregaram em favor da restauração dos princípios evangélicos e denunciaram a transformação da Igreja de Cristo em títere de reis e companhias de comércio. Em suma, como já devem ter percebido, caros leitores, desde a luta entre Bonifácio e Felipe IV, houve uma verdadeira batalha de classes - e ideias- dentro da Igreja. Ela estavam longe de ser una.

Um dos partidos a combater, dentro da Igreja, daria luz a um movimento inicialmente reformista, mas que posteriormente romperia com Roma. A reforma protestante nasceu do esforço de recuperar a Igreja e expurgar, dela, os interesses políticos e comerciais.

6- A Santa Inquisição: genocídio ou propaganda?

Como vimos, a Igreja deixara de ser a instituição universal que fundava a ordem moral e social coletivista dos princípios do feudalismo, assegurando o surgimento de uma nova Europa dos escombros do império romano, para se tentar se tornar um império temporal, nos moldes do romano. Essa tentativa malograda resultou no controle do clero por parte das monarquias, foi uma das causas da crise do feudalismo e do terrível caos do século XIV. Nem mesmo os abades de Cister recuperaram a Igreja, que se converteu em mais um principado terrestre em tudo, menos no nome, alimentando movimentos de contestação e de luta no interior do clero que se transformariam na Reforma Protestante.

A Reforma Protestante baseou-se na tentativa de purificar as práticas viciadas do clero com respeito à venda de indulgências, cobrança para ministrar sacramentos e reconfigurar a doutrina dogmática da instituição; o objetivo era proibir a monetarização da religião cristã, consequência da ascensão do comércio, mas ao mesmo tempo "remodelar'' a doutrina oficial para torná-la compatível com a ideologia da classe burguesa, transformando o cristianismo solidarista em um cristianismo individualista. Nada de santos, imagens, terços e, sobretudo (isso sim, de mais relevante) da autoridade do Papa. Essa exclusão do bispo de Roma se dava porque os movimentos protestantes foram financiados e apoiados, posteriormente, por príncipes e reis desejosos de por as mãos nas riquezas da Igreja.

Como forma de combate ao protestantismo, a Igreja restaurou a força da Inquisição, fundada no século XIII, tendo sido responsável pela morte, tortura e prisão de milhões de pessoas. O problema dessa interpretação, muitas vezes repetida centenas de vezes em nossa formação educacional (e uma mentira cem vezes dita torna-se verdade para quem ouve) é que não há correspondência entre os fatos e tais ideias. A Inquisição não tinha autoridade para matar, sendo esta prerrogativa dos reis (o Estado), já que o Estado moderno já nascera. Como tal, os reis usaram a Inquisição para extirpar a oposição ao seu poderio, tomando terras e bens dos opositores políticos da monarquia. 

Cabe esclarecer os fatos: com a crise do mundo feudal e as grandes guerras, pestes e fome subsequentes, o misticismo da população despertou e um dos bodes expiatórios das mazelas da época eram as mulheres que viviam à margem da sociedade - desde prostitutas à curandeiras. A maioria das "bruxas'', como foram acusadas em um movimento supersticioso que começou na atual Croácia, no século XV, foram mortas, enforcadas ou queimadas, pelos próprios populares, literalmente linchadas por povos desesperados, que precisavam culpar alguém pelos problemas sociais. A Igreja acabou com essas execuções e regulou o processo, pondo fim a um clima de terror e, no fim, salvou milhares de pessoas da morte certa nas mãos de radicais religiosos.

O próprio número de "vítimas'', a partir do funcionamento da Inquisição, não foi alto; alguns historiadores falam em menos de 50 mulheres condenadas e queimadas por "bruxaria'' na Espanha, sendo, em todo o ocidente, menos de 200 as vítimas. As mortes "comuns'' (aquelas imagens que se tornaram praxe no imaginário coletivo, jovens e liberais mulheres "livres'' mortas por "bruxaria'') eram raras, já que, quando os investigados eram pobres - não inimigos do rei, diga-se-, as confissões se davam depressa. Muitas das vezes, sem tortura. A "pena'' era a expiação dos pecados com penitências, votos de castidade e afins. E, no fim, poucas fogueiras foram erigidas - a maioria, durante cinco anos, durante o reinado de Felipe II, na Espanha, que estavam em guerra contra os protestantes dos Países Baixos. Desnecessário dizer, a maioria dos mortos ( e dos torturados) nessas "fogueiras santas'' eram prisioneiros holandeses e flamengos, (durante a rebelião dos Países Baixos) militares ou autoridades das regiões rebeladas, que, na prática, recebiam a pena de morte por traição ao rei - que também era interpretada como traição à religião, ou seja, heresia, muitas vezes com o plus da bruxaria (principalmente quando as forças espanholas eram derrotadas, o que se explicava pela "magia negra'' praticada pelas forças neerlandesas...). Claro que os protestantes holandeses e suiços - calvinistas- deram o troco e chacinaram milhares de soldados católicos em suas próprias fogueiras...

As ditas guerras religiosas que mataram centenas de milhares tinham pouca motivação religiosa. A disputa era por terras, na Europa e no Novo Mundo, monopólios comerciais e mesmo vaidades pessoais dos reis (vide Henrique VIII...). A Igreja tentou se inserir nessas disputas, mas eram dela as únicas vozes de protesto contra a matança desenfreada, a ganância e a cobiça dos reis. Também era ela a única a colher órfãos, viúvas, feridos e esfomeados - enquanto algumas igrejas protestantes alegavam que cada um deveria prover a si mesmo, sendo sua miserabilidade um "castigo'' por não trabalhar o suficiente... lembra muito o liberalismo posterior, não?

Em suma, o verdadeiro "genocida'' por trás da Inquisição chama-se Estado Moderno. O resto é propaganda de neo-ateístas e historiadores frustrados com a permanência e solidez da Igreja no século XXI diante do fracasso do comunismo.


Muito bem, essa foi a primeira parte da série "Uma luz sobre o lado sombrio da Igreja Católica''. Na próxima parte, vamos discutir um pouco sobre o papel da Igreja na colonização das Américas, sua polêmica relação com o racionalismo e as ciências da natureza e o suposto apoio ao nazismo por parte do papado. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O sete de setembro de 1822: uma invenção cara


Notoriamente, regimes autoritários, no Brasil, escolheram datas e personagens históricos com o fim de, apregoando-se às suas imagens, construir um pilar de legitimidade para sua permanência no poder. Foi com esse fim que o regime imperial, vigorante no Brasil após o corte de laços com Portugal, criou o mito do herói Pedro I, um corajoso príncipe que empunhou sua espada e proclamou a soberania da nação tupiniquim, em uma tarde ensolarada do dia 7 de setembro de 1822.

A divulgação de uma versão oficial sobre o tal evento começou quando o mesmo monarca- já transformado em imperador- governou o país com mão-de-ferro. Após nove anos, "sua majestade'', o grande herói da independência, mergulhou o país em dívidas, enfrentou e esmagou sanguinariamente uma revolta de grandes proporções (a Confederação do Equador), iniciou e perdeu uma guerra com a Argentina, imprimiu moeda a torto e direito (causando a primeira hiper-inflação de nossa história) e, por fim, abriu os portos brasileiros aos produtos ingleses, de forma irrestrita e ainda mais intensa do que quando da chegada da corte ao país, em 1808, o que acabou com qualquer chance de industrialização. No fim, a população, cansada de seu autoritarismo e movida pelas penúrias resultantes da política econômica imperial, reuniu-se no Paço, e, junto com militares do exército, pediu que o monarca tivesse o bom senso de formar um ministério digno. Arrogantemente, Pedro I se recusou, e, avisado pelos oficiais do Exército de que estes não deteriam qualquer levante popular em caso extremo de revolta, assinou a abdicação, aos choros e socos no gabinete imperial, do governo, literalmente, fugindo da responsabilidade pelo país que fundara e, após 23 anos, voltou para Portugal.

Todavia, a imagem do tirano que quis governar o Brasil para uma pequena elite portuguesa- remanescentes da autoridade da antiga metrópole-, o chamado "partido português'', que, em troca, apoiou a concentração do poder político nas mãos do soberano, foi amplamente glorificada nos anos seguintes à sua derrubada. Durante o reinado de Pedro II, o proclamador da "independência'' se tornou um grande líder que, em suas biografias - patrocinadas pelo governo imperial, diga-se- não perderia em nada para um Alexandre, o Grande. Criou-se uma versão oficial do sete de setembro de 1822, cristalizada em obras de arte produzidas - ou melhor, copiadas- tendo em base famosas telas europeias. Apesar de esquecido durante a República Velha, o primeiro imperador brasileiro e seus "feitos'' voltam a ser glorificados com a república de 1946- nos livros didáticos, daí em diante, D. Pedro se tornou "descobridor do Brasil'', por exemplo, num grotesco erro histórico que, ainda hoje, é repetido como fato por várias pessoas- hoje, idosas- que foram educadas a partir dos anos 50.

Sendo assim, ainda hoje, por causa do baixo nível de criticidade dos livros didáticos adotados em sala de aula- e com felizes exceções- a independência do Brasil ainda é vista como o feito de um único homem, sem participação popular, onde o país passa a ser governado por si mesmo sem dar satisfações a qualquer poderio externo. Esta é outra grande mentira.

A independência foi negociada para manter esses homens e mulheres da pintura ao lado onde sempre estiveram- na base da sociedade, sustentando uma elite corrupta e egocêntrica.

A dita independência foi, no fundo, a manutenção de um regime político-econômico fundado com a abertura dos portos, em 1808. O que ocorreu, naquele ano, foi a permissão, dada aos brasileiros, para comercializar com as nações amigas- leia-se, Inglaterra. Assim, os latifundiários brasileiros, escravistas, produziam gêneros tropicais, vendendo-os diretamente ao mercado europeu, sem intermediação da metrópole- que adquiria tais gêneros por baixos preços e os revendia a países europeus com o dobro ou triplo do que pagou-, o que aumentou seus lucros e permitiu o aumento das compras de produtos manufaturados e, já então, industrializados. O retorno do regime colonial significaria a queda dos lucros e a transferência da riqueza produzida no país para Portugal- já que a metrópole impunha o exclusivismo comercial à colônia, onde esta era obrigada a adquirir manufaturas portuguesas, de alto custo e de maior valor agregado, geradoras de mais empregos, e a vender produtos tropicais a baixo preço. Com a abertura dos portos, nossa elite econômica passou a comprar bens internacionais mais baratos, e conseguiu preços maiores pelos seus produtos; ao custo da mão-de-obra escrava, pela qual, não diluindo os lucros por mão-de-obra assalariada, toda a riqueza obtida era concentrada nas mãos dos grandes proprietários.

E assim deu-se a gloriosa independência: cartas e notas de milionários empréstimos trocadas entre as elites brasileiras e portuguesas. Ao lado, D. Pedro toca, no piano, o hino da independência.

Essas elites, de longe as mais poderosas forças políticas do país, apoiaram D. Pedro e o induziram a aceitar o posto de soberano de um país que já era, economicamente, mais forte que Portugal, com o fim de manter o status quo- a vantagem era de que, sendo filho do rei português, um acordo familiar poderia ser assinado, sem sangue (o que não aconteceu), garantindo a independência. Quando Pedro se revelou mais instável do que se supunha, foi deposto. Por fim, como a quebra dos laços com a metrópole- diga-se, fim do monopólio comercial por parte de Portugal- interessava grandemente à rainha dos mares, a Inglaterra, esta convenceu os portugueses a aceitar a "soberania'' do novo país. O preço da "persuasão'' foi alto: 3 milhões de libras, como "compensação'' aos portugueses, emprestados pelos banqueiros ingleses Rothschild- isso sem falar em uma guerra cara, travada, por parte do Brasil, através de mercenários ingleses, que deixou cinco mil mortos, por conta de teimosia dos comerciantes portugueses em perder o monopólio da economia brasileira. A última parcela dessa enorme quantia foi paga apenas em 1890. Enfim, a independência não foi apenas inventada pelo regime imperial com o fim de legitimar-se (como fundador da pátria, do Estado e da soberania), mas comprada, a um alto custo- a milionária dívida brasileira foi continuamente "rolada'', e empréstimos foram feitos para cobrir dívidas antigas, a juros cada vez maiores, comprometendo a capacidade de investimento do Estado, cujas receitas eram drenadas para o pagamento de tais compromissos; como não bastasse, os funcionários e ministros responsáveis pela área econômica comumente desviavam os empréstimos obtidos dos banqueiros ingleses, que se perdiam em uma burocracia infernal.

Mais que tudo isso, a instauração do regime imperial via independência foi a grande cartada contra-revolucionária da elite brasileira: a forma de retirar de movimentos populares, partidários de grande transformações sociais, a bandeira da independência, que, para tais radicais, seria o carro-chefe da grande revolução, que se resumia à reforma agrária, criação de escolas e universidades, fomento da indústria e abolição da escravatura. O sete de setembro foi o simples afastamento de tais ideais de cena, já que os grandes latifundiários conduziram o processo e fundaram o Estado nacional segundo seus necessidades, fundando um regime autoritário que esmagou, posteriormente, revoltas de cunho popular- durante a regência, notadamente- e impos à força o escravismo até 1888, e mesmo uma ordem social baseada nas sementes do coronelismo, na estratificação social e na importação e adoção da cultura europeia. Em suma, tratava-se da fundação de uma ordem social estável, pelo menos para as elites lucrarem. Não coincidentemente, quando aboliu-se a escravidão, o regime imperial caiu, já que sua razão de ser extinguira-se.

Em suma, o Brasil tem como data mais importante o dia em que um príncipe orgulhoso e autoritário agiu como títere das classes dominantes e garantiu a preservação do status quo social, ao custo do endividamento do país e de sua condenação ao escravismo neocolonial, um atraso econômico e social cujos efeitos duram até hoje; o pior é que, depois, tentou-se glorificar o processo, como se fosse motivo de orgulho para os brasileiros. Sim, a independência foi inventada pelas elites e imposta goela abaixo da população como um grande feito histórico por todo esses anos; ainda pagaram caro por isso, não mais que a população brasileira. A sociedade nacional de hoje, assim, continua carregada de preconceitos, na concentração de terra e nos pequenos e grandes privilégios, pois emergiu do império e foi garantida, a sangue, ferro e fogo, pelo Estado, durante todos esses anos (com exceções). E tudo graças aquele ato simbólico feito às margens lamacentas do Ipiranga- um boné desbotado atirado ao chão, por um nobre português, vestido como um guarda qualquer, montado em um burro, mais enraivecido pela intensa diarreia do que pela carta autoritária das cortes portuguesas. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Em defesa das cotas sócio-raciais para as universidades públicas: o giro igualitário e a aurora da justiça social


Nos últimos meses, o Brasil viveu uma verdadeira revolução histórica, em termos jurídicos, condizente à educação, especificamente no ensino superior. Em primeiro, o Supremo Tribunal Federal declarou os mecanismos de cotas raciais e sociais em universidades públicas plenamente constitucionais, por unanimidade. E, por fim, um projeto que tramitara no Congresso Nacional por quase 10 anos foi aprovado e sancionado pela presidência da República, criando a obrigação legal, para as universidades públicas, de reservar 50% de suas vagas para alunos negros, carentes ou oriundos da escola pública. Não obstante, alguns veículos de imprensa e partidos mais à direita guincharam contra as medidas, classificando-as como mais uma medida paliativa e populista por parte de um governo que se furta a solver os problemas da educação básica.

Apesar da ignorância e da evidente carga preconceituosa dessas críticas, elas não deixam de ter algum fundamento. A educação básica, apesar de universalizada, é uma das piores do mundo, onde a média dos alunos fica abaixo dos 4, em exames internacionais; o pior mesmo é que quase 50% dos alunos não estão nas séries corretas, sendo a grande parte analfabeta funcional, como cerce de 1/3 da população brasileira. O efeito óbvio desse ensino de má qualidade é o baixo nível do universitário brasileiro, onde os alunos, de forma trágica, acabam por sair, em 37% dos casos, como semi-analfabetos! E o pior é que esse percentual vergonhoso vem crescendo. Mas a grande confusão que se faz é imputar esse desempenho péssimo de nossos universitários aos cotistas: são as instituições privadas, que não adotam o sistema de cotas, as responsáveis por tal lástima educacional. A indústria de diplomas foi acionada no governo FHC, onde, a cada 6 horas, um curso de ensino superior era aberto no setor privado. 

A causa desse desempenho, aliás, também se liga à péssima educação básica recebida pelos brasileiros, que chegam, em 76% dos casos, nas universidades privadas, sem dominar conhecimentos básicos como leitura e raciocínio lógico. Melhorar o ensino público é uma alternativa lógica, que é o principal argumento contra as cotas. Mas com a atual estrutura do Estado (sucateado, dividido em feudos políticos, preso por gastos inúteis) fica muito difícil, muito menos com um país tão grande; leva tempo, décadas, até que os resultados se façam sentir. Todavia, as cotas versam sobre vagas na universidade pública- que. no Brasil, é de excelência-, e o que se esconde, implícito da raiva dos meios de comunicação contra as cotas, é a ideia de que algo de tão elevado nível não pode ser oferecido a qualquer um, mas aos mais "aptos''. A elite branca, moradora de conjuntos habitacionais fechados e que gosta de se divertir estourando os cartões de crédito em Miami.

Dessa forma, não se pode negar que, a curto prazo, as cotas são a única via de acesso à universidade para milhões de estudantes pobres, e 87% deles são negros. Por quanto tempo eles teriam de esperar para chegar à universidade, sem cotas? Não se trata de menosprezar a capacidade de ninguém, mas de instituir formas de tratamento diferenciadas, porque as condições de alunos da escola privada e da pública são adversativas. A ideia é equilibrar a balança e tratar os desiguais de forma desigual, seguindo o princípio da igualdade aristotélica. Esses cotistas entrariam (como já entram) em boas universidades, vão se formar, vão experimentar aumento em sua renda e vão educar os filhos como nunca; o rendimento deles nas universidades chega a superar o de alunos que entraram pela via normal. O resultado é melhoria da educação da classe mais pobre, diminuição da desigualdade social -já que o meio reprodutor dela, a monopolização da educação pelas elites, principalmente a superior, é quebrada com as cotas- entre outras coisas. A melhor notícia é que, apesar inicialmente o desempenho dos cotistas ser um pouco baixo da média, com o decorrer do curso, seu aproveitamento intelectual iguala-se e, muitas vezes, supera o dos outros estudantes. Ou seja, se podemos reservar vagas para grupos sociais excluídos sem comprometer o desempenho das universidades e a qualidade do alunato, por que não tentar?

O percentual de 50% como reserva de vagas ficou um pouco alto, para alguns... mas a combinação dos requisitos sociais e raciais foi muito bem vinda. Um país onde um branco ganha duas vezes mais que um negro, onde o analfabetismo e mortalidade infantil entre os negros é três vezes maior que entre os brancos, precisa de cotas raciais, não por incapacidade dos negros, mas para simplesmente igualar as chances. É fácil para um estudante de classe média alta, morador de um condomínio de luxo, egresso dos mais caros colégios das capitais, criticar o sistema de cotas e chamá-lo de injusto, por que reservaria 50% das vagas para jovens pobres, que mal tem casa própria, frequentaram escolas aos cacos, sem um ensino de qualidade e são alvo de preconceito social. Será injusto mesmo, ou apenas um ajuste das condições de competição? Como o "mauricinho'' poderia ter o mesmo tratamento do jovem negro que sempre é confundido, por policiais, com traficantes e criminosos diversos? É justo isso? Será que, além de deter vantagens sociais esmagadoras contra o jovem pobre, o mauricinho ainda teria direito a mais esse "plus'', competindo de igual pra igual com quem não é igual a ele, socialmente?

O pior é quando se tenta usar as cotas como fator de discriminação. Tratar de forma justa e igualitária setores diferenciados pelas condições sociais é realizar a verdadeira igualdade, não macula-la. A justiça é uma proporcional distribuição dos bens sociais (tal como a educação) para cada um que tem direito a eles, da forma que necessitarem para se tornarem iguais, socialmente, aos demais indivíduos. 

Entendo que talvez não pareça ser justo, a primeira vista, para quem tente uma vaga nas universidades sem ser cotista. Mas os requisitos cobrados apenas favorecem a exclusão de grande parte da sociedade da participação no ensino público superior que elas mesmas financiam com seus impostos- e, no Brasil, os pobres arcam com boa parte das receitas do Estado, por causa da tributação indireta: 45% da renda das classes mais baixas é arrancada para os cofres do Estado. Não me parece justo que o povo custei a educação dos filhos da "elite'' e não possa ter acesso às universidades "públicas''; o que se tem é uma verdadeira reformulação do conceito de recurso público (antes, propriedade das elites, mesmo geradas pelo povo; hoje, recurso gerado pela coletividade e aplicado pelo bem da coletividade, na qual também se incluem as elites!). As vagas, na distribuição imposta pela lei (metade dos 50%, restritos a critérios raciais) ficam mais condizentes com o formato da sociedade: os ricos e classe média, com 50% delas (as vagas não reservadas), a classe média baixa e pobre, que se forma na escola pública, com outros 50% (reservadas por cotas). Selecionamos, assim, os melhores alunos de cada classe, e não mais somente os melhores dentre a elite formada em colégios particulares; para aqueles que dizem que a reserva de vagas para alunos de escolas públicas beneficia apenas uma pequena parcela dos alunos (oriundos de colégios de referência e aplicação), cabe lembrar que a Lei de Cotas prevê o casamento do critério social com a seleção dos cotistas. Já os membros de classes mais abastadas continuam a ter acesso ao ensino superior porque eles também podem pagar por isso, nas instituições privadas... e o incômodo individual por perder a vaga para um cotista é compensado pelo imenso benefício social que dela resulta. E mais gente tem acesso à universidade. A ideia de, em vez de cotas, implantar-se subsídios aos alunos pobres é boa, não nego, mas a longo prazo. A curto, não tornaria o jovem pobre da periferia capaz de competir com o filho de um empresário de sucesso. 

As cotas, assim, são um paliativo urgente e necessário; e, sobretudo, uma medida temporária, enquanto a educação pública não puder oferecer chances iguais a todos os brasileiros.

Em suma, a institucionalização das cotas sócio-raciais para as universidades públicas quebra o meio reprodutor da desigualdade social, tornando o Estado provedor, via recursos públicos, do bem estar educacional da coletividade. No fim, realizamos o princípio constitucional da igualdade ao tratar de forma diferenciada grupos socialmente diferenciados, conquistando uma das maiores vitórias políticas da história do Brasil: a quebra dos privilégios das classes abastadas no setor educacional. O Brasil emerge, coma  Lei de Cotas, mais justo, mais igual, mais fraterno, pronto para, a partir desse precedente, realizar a grande revolução política em prol da igualdade social em todos os níveis, tão evitada pelas classes dirigentes desde a independência.