Até hoje, nas regiões interioranas do Brasil, é comum que, após as missas (ou, cada vez mais comumente, cultos evangélicos) austeras senhoras se unam em pequenas rodas, à porta das Igrejas ou nas calçadas, para propagar rumores sobre as prováveis traições conjugais de algum conhecido ou sobre a união entre rapazes e moças, que vivem como casados, mas sem as bençãos do sagrado matrimônio- diz que casais assim são "amansebados'' ou "amigados''. Até aí, tudo bem. Infelizmente, alguns partidos políticos de esquerda, expandindo-se pelo interior do país- um feito que jamais lograram até a redemocratização-, absorveram o mau-costume dos chefes de família tradicionais de ostentar uma falsa moral (representada pela esposa e filhos, em um lar cristão) enquanto que, na calada da noite, frequentam bordeis ou as casas das amantes.
Durante o dia, e diante dos holofotes da imprensa, certas agremiações de esquerda ostentam nobres ideais. São os legítimos representantes do povo brasileiro, lutam constantemente pela melhoria dos serviços públicos e pela conversão do Estado de mero expectador da economia para agente ativo dela, além de se incubirem da sagrada missão de zelar pela descriminalização do aborto, pela legalização da união gay ou ainda fecham fileiras a favor da igualdade racial. Essa verdadeira ideologia que crê no Estado como o grande promotor do bem-estar social é a esposa da esquerda, seu porto-seguro, sua costela, seu pilar de legitimação. A esposa da esquerda se personifica no próprio povo, que, carinhoso e vislumbrado pelas promessas de seu esposo, se contenta em trabalhar duramente para que o maridão possa empregar os recursos que produzir.
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No fim de tudo, restam os mexericos. A grande imprensa faz o papel daquela senhora encarquilhada austera, que gosta de proclamar aos sete ventos a relação promíscua e hipócrita da esquerda com grupos sociais de direita, talvez visando obter alguma vantagem. O povo e a social-democracia são só um verdadeiro véu que, a partir de uma moral superficialista, encobre as puladas de cerca de um bando de fanfarrões, que se autoproclamam "esquerda'', que deixaram de crer em seu próprio "casamento'' com o povo há muito tempo. Só flertam com o povo ou com a social-democracia em tempos de eleição, e mesmo assim com as prostitutas ou concubinas de cada lado, aos braços dados. O povo até acha bonito, pensa que são só amigos, vota nas mesmas alianças espúrias a cada eleição, indo para a cama com o marido traíra só para ser abandonada no dia seguinte...

Assim, continuamos nesse teatro de hipocrisia. O povo sabe das traições da esquerda, ouve os mexericos da mídia e tenta se comportar como a classe média, no modo de pensar e de se apresentar, fingindo ignorar a tudo. No fim, todo mundo fala de todo mundo, mas todos estão confortáveis com o status quo e se limitam a permanecer onde estão. É uma sociedade, tal como no interior do Brasil, viciada em formas de burlar às próprias regras, doutorada em enganar a si mesma, onde os reluzentes ideais de esquerda brilham, escondendo a opacidade cadavérica na qual se desenrolam as puladas de cerca, a prostituição e o concubinato. Algo em que todos creem como certo, mas que todos sabem, paradoxalmente, que é patentemente desrespeitado. E, como no interior, o que fazemos é falar mal de tudo isso. E como mudar algo?

Só há um remédio para um casamento falido: o divórcio. É hora de pedir a separação entre esquerda e povo, e abandonar de vez ideais empoeirados que apenas encobrem práticas condenáveis; o povo deve se emancipar e livrar-se de imposições ideológicas inúteis... só ele mesmo deve decidir o que é certo ou errado. Que se lixem essas velhas senhoras e suas fofocas: o povo tem o direito de ser livre de uma relação que o aprisiona. Mais um escândalo para os moralistas tradicionais é uma esposa que deixa o marido e passa a ter ideias próprias ou viver por si mesma. Um escândalo necessário, para que o Brasil possa crescer. E viva o divórcio.
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