domingo, 5 de agosto de 2012

As eleições em Garanhuns: a definição de um voto e uma chance para a esperança



Tenho fortes divergências ideológicas com o PSOL, diga-se. Talvez por, contrastando com sua orientação materialista oriunda do marxismo, serem os psolistas excessivamente idealistas. Mas, ora, não é disso que precisamos? Homens e mulheres que lutem por ideias, não por montes de papel e cobre; que vejam além da modorra cinzenta da normalidade; que ousem construir onde os outros simplesmente se conformem em cruzar os braços e ver desmoronar. Mas mesmo com homens com ideias, como podem eles sós mudarem algo? Eles precisam de votos- e aqui entramos nós, os eleitores.

O primeiro passo na definição de um bom voto, para mim, é análise do panorama político, econômico e social do país, Estado ou município. E o de Garanhuns não é bom. 

Pouco se legisla na Câmara de Vereadores, muito menos se administra na Prefeitura, e, pior, não se ousa, em todos os sentidos, seja na elaboração de projetos ou na busca por recursos públicos conveniados com outros entes governamentais. Limitam-se nossos "líderes'' a ver a vida (e as oportunidades) passar(em), com o único fim de permanecerem mais tempo no poder, e a ideia de sujarem seus pezinhos delicados e principescos com a lama das estradas rumo a Recife ou Brasília, em busca de recursos ou atenção dos poderosos do país para a esquecida Garanhuns, lhes causa repugnância. Não há planejamento ou integração com as camadas populares ou outras esferas de governo, e os gestores públicos parecem administrar a Coisa Pública como se fossem bens pessoais seus, em um irritante e secular costume patrimonialista, já que o que importa não é desenvolver o município, mas apenas garantir "mais quatro anos'' no comando do suculento orçamento "público'' municipal. Esse intento continuísta subterrâneo dos governantes é a causa geratriz do desemprego ascendente, contrastando com o loteamento da máquina pública, que vive em seguidos déficits fiscais; é causa do analfabetismo e do sucateamento das escolas e postos de saúde, uma lástima vergonhosa; das poucas empresas que se aventuram a vir a cidade (com poucas e notórias exceções no último ano), e dos ainda mais reduzidos projetos de obras e serviços públicos que saem do papel, perdidos em uma burocracia infernal de um Plano Diretor ultrapassado.

Mais que isso: os garanhuenses não sentem interesse pela sua própria política, vista como privilégio de uns poucos (endinheirados), acreditando que pouco ganham apoiando um ou outro candidato a vencer suas brigas políticas, onde só importam a consecução de seus interesses. Porque, independentemente de quem vença, Garanhuns continuará presa a um passado negro e sem desenvolvimento, que marcou o Brasil dos anos 80 e 90, mas que ainda corre por essas bandas do Agreste. Esse é o mais terrível efeito de uma política municipal que se acha privatizada, onde existe uma democracia em que o povo só é consultado de 4 em  anos, e, depois, é como se desmanchasse-se como um torrão de açucar na água. O inviolável direito ao voto parece não fazer diferença alguma.

Aliás, o histórico problema da venda de favores nas campanhas em troca de votos é o sustentáculo desse sistema viciado. Alguns eleitores obtêm vantagens do candidato e, uma vez usufruídas, dão por quitadas suas obrigações de cidadãos. Votam nos candidatos que lhes garantam empregos, consultas médicas gratuitas, material de construção ou mesmo um "quartinho'' de cachaça. Assim, os eleitores de Garanhuns também privatizam a política: será que não pensam que todas as benesses que recebem dos "seus'' candidatos muitas vezes são pagas com dinheiro público, que poderia estar sendo empregado no desenvolvimento do município? E que é essa relação de submissão deles próprios com os políticos que lhes causa uma eterna dependência destes? Que não podem trabalhar, educar-se ou tratar-se como deveriam e poderiam porque essa mesma casta política se perpetua no poder?

O segundo fator do bom voto, já visto o panorama geral, é identificar as necessidades do Município, Estado ou país, que sejam essenciais para superar os problemas enfrentados. Em Garanhuns, precisamos de reformas jurídicas urgentes, seja na Lei Orgânica, no Plano Diretor ou no Código Tributário. Precisamos desenvolver políticas públicas que fomentem o emprego, o investimento privado e a produção agrícola, seja por meio de uma nova política tributária (isenções fiscais, condicionadas à promoção de atividades culturais, pro exemplo) ou pelo preparo da infraestrutura da cidade para que receba indústrias e novos empreendimentos comerciais. A juventude precisa ser capitalizada, intelectualmente, seja por meio de qualificação profissional ou pela celebração de convênios com outras esferas de governo ou empresas privadas. A arte, a cultura e a história do município precisam ser recuperadas ou redescobertas, porque uma cidade sem memória é um monte de construções e pessoas sem identidade. 

Deve-se investir pesadamente na esfera do turismo. A cidade necessita de reformas estruturais que preparem sua logística para o aumento populacional e para a livre passagem de pessoas (principalmente, turistas), mercadorias e veículos. Falta articulação política com os demais municípios e esferas de governo. Os serviços públicos básicos devem ser reestruturados, remodelados segundo o modelo gerencial de administração, para perseguir metas qualitativas, sobretudo na área da educação, com valorização dos professores e reequipação das escolas sucateadas, e na saúde, mediante construção de postos de saúde, implementação de programas de saneamento básico (que diminuíriam em 70% as ocorrências nos hospitais por coibir a proliferação de doenças evitáveis...), equipando o Hospital Municipal para realizar exames mais complexos, além de contratar profissionais urgentemente.

Todas essas necessidades coletivas devem ser escalonadas, das mais urgentes às menos necessárias. Se possível, poder-se-ia  integrar a solução de um problema coma de outro. Um exemplo: é mister a necessidade de mais empresas em Garanhuns, que empreguem mão-de-obra e gerem riqueza, lançando mais consumidores no mercado local e iniciando um processo de crescimento econômico virtuoso. Ora, porque não, além de conceder as isenções fiscais de praxe aos novos empresários, criar outros estímulos (um coquetel duplo de incentivos fiscais, talvez?) para aqueles que mantiverem programas de qualificação de mão-de-obra ou patrocinarem eventos culturais ou festivos? Ou para os empresários que contratem 10% de mão-de-obra entre jovens sem experiência?

Por último, a definição do voto exige um olhar para as candidaturas apresentadas. E aqui pesa o componente da subjetividade.

Quando escolho um candidato, procuro averiguar seu histórico. Onde estudou, em que época, qual sua trajetória na faculdade, sua atuação enquanto profissional, pai ou mãe; e, ademais, se é ou não uma pessoa de passado limpo, sem prender-se nem à condenações na justiça nem a conchavos políticos espúrios, que considero tão ruins quanto as primeiras. O que me encanta mais é saber que o homem ou mulher em que voto teve uma vida de superação, defendeu ideais em tempos sombrios, enfrentou os donos do poder e que, com base em sua experiência de vida, muito além das meras teorias dos empoeirados livros da Academia, propõe mudanças que expressam a situação social concreta vividas pelas pessoas. Propostas políticas que nascem da vivência social de uma população, enfim.

Em Garanhuns, temos quatro candidatos a prefeito. 

Um deles, empresário e deputado estadual, tem como principal trunfo ser apoiado por diversas esferas de governo. Todavia, trata-se de um apoio frouxo e instável, já que foi articulado nos últimos dias de definição das candidaturas, quando a candidatura de Antônio João Dourado foi abandonada pelo governador. Quem garante que o candidato manterá essa articulação com o governador e a presidente, já que mal conseguiu enfrentar a imposição de AJD como candidato do governo estadual psebista? Além dos mais, as ideias políticas do candidato são vagas, expressas em discursos onde se promete de tudo, sem apontar os meios pelos quais realizar as façanhas previstas. Há uma vaga impressão de que o candidato apoia a qualificação do trabalhador e a melhoria das condições estruturais para as empresas que atuam no município, principalmente porque o senador Armando Monteiro, o paladino das indústrias do Brasil, é o principal padrinho político do prefeiturável. Seu pólo eleitoral são comerciantes, comerciários e a classe média em geral. Seu ponto fraco é a classificação baixa de sua equipe.

O segundo desenvolveu sua carreira política em Caetés. Pouco inovou em serviços públicos quando governou a dita cidade, e sua gestão teve diversas contas rejeitadas. Tem uma evidente liderança carismática, sendo muito querido pelas classes populares, que se identificam com ele. Basicamente, propõe um governo mais ligado aos interesses populares, sem propostas definidas. Vende-se, com sua candidatura, a ideia de que, com ele, será como se um cidadão comum estivesse no governo; a mesma técnica de marketing usada por Lula, em toda sua carreira: ele sempre foi tão comum, bebendo suas cervejas e jogando peladas, usando expressões de cunho popular e expressando emoções tão genuinas que o eleitor nele se vê. Ou seja, nosso segundo candidato é um "populista''.

O terceiro candidato já governou Garanhuns por oito anos, tendo articulado a vitória do atual governante do municipio, rejeitado por mais de 70% da população. Realizou grandes obras de embelezamento da cidade e ganhou alguns prêmios de gestão pública, quando esta se resumia a cortar gastos públicos e aumentar os impostos. É o autor do modelo de governabilidade vigente na cidade: amplas maiorias na câmara, obras públicas desintegradas de objetivos maiores e "bairrismo'', ou seja, falta de articulação com deputadores estaduais, federais, governadores e senadores, o "silvinismo''. Agora, defende políticas mais voltadas ao eleitorado jovem, como o primeiro emprego e reforço dos cursos da AESGA, além de prometer tirar a cidade de sua estagnação econômica e social (causada, em última instância, por ele mesmo, quando prefeito e padrinho político do atual governo). É o candidato preferido das classes mais altas e de maior poder aquisitivo.

O quarto é uma figura curiosa. Engenheiro, filiado ao PSOL, um esquerdista histórico e idealista que não participa dos conchavos políticos deploráveis que maculam os outros candidatos. Disputa eleições há mais de duas décadas, sem nunca alterar suas ideias. É aquele que, a primeira vista, o eleitor comum qualificaria de "o mais fraco'', porque não tem o poder econômico dos outros nem suas bases de apoio. Mas, paradoxalmente, é aquele que tem as melhoras propostas para a cidade. Em seu programa "mínimo'' de governo, propõe ampliar o acesso das classes populares à gestão pública (garantindo o acesso às informações públicas, desatualizadas hoje em dia) e instituir conselhos populares, incentivar a produção de gêneros agrícolas diversificados no município, implantar o passe-livre para estudantes e implantar novos cursos na AESGA, implantar postos de saúde, abrigos para idosos, construção de museus, centro de convenções e espaços culturais. O que mais me chamou atenção foi sua política urbanística, onde falou-se em criar mecanismos para reduzir os alugueis (o município vive uma onda de especulação imobiliária...), ressocializar favelados, reformar calçadas, adquirir imóveis históricos (antes que não sobrem nenhum deles...), rever o Plano Diretor para que se construam prédios acima dos três andares e se agilize a licença de construção, além da implantação de vias expressas, pontes e alargamento de ruas. Medidas simples, pouco dispendiosas, que injetariam uma boa leva de recursos na cidade e seriam um chamariz para novas empresas se instalarem nessas terras "esquecidas pelas capitais''. O ponto mais polêmico do longo programa é a construção do teleférico: mas, ora, Gravatá já tem o seu. Com um bom projeto e uma cobrança, quando em funcionamento do maquinário, de poucos reais por passageiro, rapidamente recuperar-se-ia o gasto de construir um aqui na cidade. E poder-se-ia garantir o acesso ao maior monumento turístico de Garanhuns: ela mesma, em sua majestosa projeção em sete colinas enevoadas. Poucas medidas potencializariam mais o turismo em nossa região.

Os objetivos do programa de governo são claros. Talvez muito mais que impor de cima para baixo um programa de governo, a candidatura abre espaço para que os cidadãos próprios decidam o melhor para a cidade, através dos meios de participação popular possibilitados nos conselhos populares. Tratam-se dos homens e mulheres da cidade, não simplesmente delegando o governo a um grupo de homens, mas participando das decisões tomadas por eles, em um evidente avanço do sistema representativo. 

Com esse homem na prefeitura, e com apoio popular, acredito que Garanhuns pode tomar seu destino nas próprias mãos. Finalmente, desde os anos 60, as massas terão voz. E, assim, chegamos ao maior feito político que pode ser conquistado pelo município: desprivatizar a política e devolvê-la ao povo! É, ao meu ver, a maior das promessas e o verdadeiro corpo essencial das ideias que levam Paulo Camelo a ser candidato à prefeitura do município. Acredito que, participando ativamente da gestão do município, o cidadão garanhuense possa livrar-se das amarras que lhes prende a uma dependência vergonhosa e imoral de favores políticos obtidos de candidatos de conduta legal duvidosa. E é por isso que votarei nele, nessas próximas eleições, por causa de seu passado limpo, de suas ideias de esquerda autêntica e pelo fato de suas propostas terem o condão de combater o maior dos problemas da cidade, a dita privatização da política e a exclusão do povo de sua própria democracia; veja que considerei todos os passos para um bom voto, os problemas do municipio, suas necessidades, a ponderação dos candidatos e a escolha da pessoa de um. Superado isto, o céu é o limite. (Abaixo, propaganda partidária que elucida um programa de governo tradicional, regado a populismo de direita e projetos tímidos).

 
É por isso que, apesar das contraposições ideológicas, vou preferir votar em ideias, que se materializam em homens dignos de devolver ao povo as rédeas de seu destino. Rejeito políticos miraculosos, que se apresentam como super-homens facilitadores das vidas de seus rebanhos eleitorais, mas aprovo homens de carne e osso que permitirão que mais pessoas como ele tenham acesso ao poder que lhes é de direito. Garanhuns pode superar seus problemas e realizar todos seus sonhos, seja de ser uma cidade desenvolvida e socialmente ajustada, seja de ser uma potência local da indústria, agricultura e educação. Assim, espero que essa pequena reflexão tenha introjetado mais ânimo em seus poucos eleitores e lhes tenha aguçado o  até então mórbido ânimo para a política. Porque a esperança supera vidas e caras, perpetua-se por séculos e se traduz na coragem de homens e mulheres que, contra tudo, "ousam ousar'', ousam pensar diferente, ousam querer mais do que é enfiado goela abaixo pelos poderosos. Dia 7 de outubro, será o nosso dia de ousar e de, sim, revolucionar. O que me diz?

*Obs. : as imagens apresentadas foram coletadas, via Google, de blogs regionais, como o de Roberto Almeida, da Agenda Garanhuns e outros.

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