segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Os grandes escândalos de corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso


Um dos assuntos preferidos da grande mídia brasileira é o controverso julgamento da Ação Penal 470, dito processo do "mensalão''. O suposto esquema de compra de votos armado para assegurar uma maioria parlamentar para o governo do PT, entre 2003 e 2005, se tornou o símbolo da corrupção política no país, relacionada, sempre, ao PT e demais partidos ditos de centro-esquerda. O assunto é um tema recorrente dos partidos de oposição.

O problema é que, sendo os petistas comandantes de esquemas de corrupção ou não, a mídia faz questão de esconder, junto aos políticos conservadores, os escândalos do governo Fernando Henrique Cardoso. Segue matéria publicada no Blog de Paulo Henrique Amorim.

DENÚNCIAS ABAFADAS

Já no início do seu primeiro mandato, em 19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas esse órgão se notabilizou [no governo FHC] exatamente por abafar denúncias.

O CAIXA 2 DE FHC


As campanhas de FHC, em 1994 e em 1998, teriam se beneficiado de um esquema de caixa-dois. Em 1994, pelo menos R$ 5 milhões não apareceram na prestação de contas entregue ao TSE. Em 1998, teriam passado pela contabilidade paralela R$ 10,1 milhões. A principal fonte dos recursos eleitorais ilícitos: bancos privados, como o Oportunity (de Daniel Dantas), grandes latifundiários e empresas estrangeiras. Eduardo Jorge, assessor de FHC, foi o principal operador deste e de muitos outros esquemas, como o das privatizações.


CASO SIVAM


Também no início do seu primeiro mandato, surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.

A PASTA ROSA


Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar definitivamente os “processos da pasta rosa”. Era uma alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de “engavetador-geral da República”.


COMPRA DE VOTOS PARA A APROVAÇÃO DA EMENDA DA REELEIÇÃO


A reeleição de FHC custou caro ao país. Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de votos de parlamentares, conforme inúmeras denúncias feitas à época, visando garantir os dois terços necessários, nas duas Casas Legislativas, para a aprovação da Emenda. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI [Não se pôde apurar outros 'vendedores', quem comprava os votos e se era com recursos públicos].


AS PROPINAS NAS PRIVATIZAÇÕES


O processo de privatização dos bens públicos brasileiros foi um dos mais desastrados do mundo. Ao todo, 70 estatais foram privatizadas, com arrecadação de R$ 70 milhões. O problema é que o governo- via BNDES- financiou boa parte do processo, injetando bilhões nas estatais, além de financiar, para as empresas adquirentes, empréstimos à uma taxa de juros camarada. Até aí, nada demais, fora a incompetência. Contudo, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. denunciou, em seu livro "A Privataria Tucana'', que políticos do PSDB receberam centenas de milhões de dólares para beneficiar certas empresas nos leilões. 

A privatização do sistema Telebrás e da Vale do Rio Doce foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de FHC e do senador José Serra e ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil, é acusado de pedir propina de R$ 15 milhões para obter apoio dos fundos de pensão ao consórcio do empresário Benjamin Steinbruch, que levou a Vale, e de ter cobrado R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Contudo, o maior escândalo se deu com o uso do Banestado (um banco estadual) para o desvio e lavagem de dinheiro, rumo aos paraísos fiscais, da ordem de R$ 124 bilhões. Até hoje, o governo brasileiro só recuperou R$ 2,2 milhões desses recursos

A PRIVATIZAÇÃO DA VALE DO RIO DOCE (CVRD)

Apesar da mobilização da sociedade em defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em, ao menos, R$ 30 bilhões. Foi crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, gigantesca infraestrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram lucro anual de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da CVRD. reportagem publicada na revista da Veja revela que o ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, indicado para o cargo pelo então ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, com o aval de Serra, teria pedido uma propina de R$ 15 milhões ao presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Benjamin Steinbruch, para "organizar" o consórcio vencedor do leilão de privatização da mineradora. A existência do pedido de propina é corroborada na reportagem por dois tucanos de altíssima plumagem: Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e Paulo Renato Souza.

PRIVATIZAÇÃO DA TELEBRAS


O jogo de cartas marcadas da privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC, citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos” comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que, nos dois anos e meio anteriores à “venda”, o governo investiu na infraestrutura do setor mais de R$ 21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que o governo FHC impediu que fosse investigada.

O DNER E AS FRAUDES EM OBRAS PÚBLICAS

O DNER foi o principal foco de corrupção no governo de FHC. Seu último avanço em matéria de tecnologia da propina atende pelo nome de precatórios. A manobra consiste em furar a fila para o pagamento desses títulos. Estima-se que os beneficiados pela fraude pagavam 25% do valor dos precatórios para a quadrilha que comandava o esquema. O órgão acabou sendo extinto pelo governo. Um levantamento do Tribunal de Contas da União, feito em 2001, indicou a existência de 121 obras federais com indícios de irregularidades graves. A maioria dessas obras pertence a órgãos como o extinto DNER, os ministérios da Integração Nacional e dos Transportes e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Uma dessas obras, a hidrelétrica de Serra da Mesa, interior de Goiás, deveria ter custado 1,3 bilhão de dólares. Consumiu o dobro.

EX-CAIXA DE FHC


A privatização do sistema Telebrás foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de FHC, do senador José Serra e do ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco, articulando o apoio da PREVI para beneficiar o consórcio do "Opportunity", que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão. 

Além de “vender” o patrimônio público, o BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações, ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.

O JUIZ LALAU E A FRAUDE MILIONÁRIA DO TRT PAULISTA


A escandalosa construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998, mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável: “assinei sem ver”.

A FARRA DO PROER 


O “Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional” (PROER) demonstrou, já em sua gênese, no final de 1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas para economistas da CEPAL, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC. Hoje, a equipe econômica do governo FHC responde, na Justiça Federal, a um processo por dano ao erário, lavagem de dinheiro e corrupção ativa, por destinar recursos do programa a bancos suspeitos.

DESVALORIZAÇÃO DO REAL


De forma eleitoreira, FHC segurou a paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998, mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país. Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas. Há indícios da existência de esquema dentro do BC para a venda de informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com 1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.

A LISTA DE FURNAS


Nas eleições de de 2002, a estatal FURNAS, dirigidas por indicados tucanos, operou um grande esquema de caixa 2, visando eleger candidatos do governo contra a ameaça petista. Segundo se sabe, cerca de R$ 40 milhões foram distribuídos para tucanos (Serra, Aécio Neves, Alckmin), membros do PFL de ACM, o PTB de Armando Monteiro Neto, o PP de Maluf e o PMDB de Sarney; ao todo, foram 156 políticos beneficiados, a grande maioria deles obtendo vitórias eleitorais. Os recursos vieram do superfaturamento de obras e fraudes em licitações da estatal junto à empreiteiras, que lavaram o dinheiro e transferiram o recurso para as contas secretas dos candidatos de FHC, sob a direção atenta da cúpula tucana. Ou seja, abuso de poder econômico, lavagem de dinheiro, peculato, fraude de licitação, dano ao erário, superfaturamento de obras públicas e mesmo formação de quadrilha estariam tipificados, em um processo muito mais grave que o mensalão petista. É claro, como se trata do governo FHC, está convenientemente arquivado.

SUDAM E SUDENE


 De 1994 a 1999, houve orgia de fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), ultrapassando R$ 2 bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4 bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos do “Fundo de Investimentos do Nordeste” foram aplicados. Como fez com a SUDAM, FHC extinguiu a SUDENE, em vez de colocar os culpados na cadeia.


A MÁFIA DOS VAMPIROS

A chamada “Operação Vampiro” desvendou uma quadrilha que atuava no Ministério da Saúde, nas licitações para a compra de medicamentos. As investigações indicam que “vampiros” da máfia do sangue faziam parte do esquema PC Farias da rede de corrupção de Collor. Porém, a máfia seguiu atuando impunemente. No governo FHC, o ministro José Serra conviveu por quatro anos com os mafiosos sem incomodá-los, enquanto embolsavam R$ 120 milhões por ano. Difícil imaginar que Serra não soubesse de nada do que estava acontecendo sob seu nariz.



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Homem que não vendeu sua alma- Parte 1


A última semana do mês de agosto, e especialmente o dia de hoje, deveria ser um mês de reflexão cívica para o Brasil. Há 62 anos um tiro de revólver foi disparado na suíte presidencial do Palácio do Catete, e do coração esmigalhado pela bala não verteu apenas sangue, mas um série inesquecível dos momentos mais importantes e determinantes da história nacional. A vida que espirou naquele quarto, onde os regentes da nação se acomodaram após exaustivos dias de trabalho comandando o país desde a queda do imperador Pedro II, era de um idoso de feições ovais, pequena estatura e de um sorriso que cativou milhões de brasileiros: ali, ele serenamente deixara a vida para enlaçar-se nas ancas da bela e pálida Clio, deslizando pelas valsas da história. E, mesmo passado tanto tempo, ainda é lembrado com carinho por aqueles viveram sob seu governo.


Getúlio Vargas é um nome símbolo para a política nacional. Basicamente, esse símbolo significa a concepção de um Estado intervencionista, que se sobrepõe à sociedade, agindo como principal agente promotor do desenvolvimento econômico e social, fundador, cultor e guardião na nacionalidade brasileira e, em última instância, a única força política capaz de fazer frente aos desígnios dos poderosos que comandaram o país com mãos de ferro e chicotes de feitor desde sua fundação. 

Mais que simples anti-liberalismo, Vargas traz a ideia da instalação das primeiras estruturas de bem-estar social da nação (legislação trabalhista, aposentadoria, educação e saúde públicas), que anteciparam em muito o propalado New Deal norte-americano de Franklin Delano Roosevelt. A obra politica de Vargas, nesse ponto, é a organização moderna do Estado brasileiro, com todas suas instituições características, que conduziram o Brasil de uma sociedade retrógrada e agrarista para o seleto clube das nações industrializadas, eliminando ou atenuando vícios políticos como o patrimonialismo, o coronelismo e o clientelismo. Em suma, tratam-se de todas as ideias adversárias, de forma histórica, ao que se chama, convencionalmente e para fins didáticos, de "elites nacionais'', instituídas pelo latifúndio, escravismo, parceria com o capital externo e, tardiamente, em uma pseudo-liberalismo importado, como toda sua ideologia, das grandes nações da Europa e da América do Norte. É a luta eterna entre nacionalismo e liberalismo, entre esquerda e direita, simplificada na figura de um único homem.


O suicídio de Getúlio foi a primeira forte explosão da luta entre nacionalistas e ditos entreguistas, depois da independência. Sobrevieram a eleição de JK, o desastre janista, a queda de Goulart e o profundo e doloroso mergulho da ditadura militar, cujo fim deu à luz a alvorada da democracia da Nova República. Ainda hoje, o cenário político brasileiro é embalado por debates oriundos, para não dizer idênticos, da era Vargas, sendo os principais partidos ditos "de esquerda'' (como o PT e o PDT) os defensores do legado getulista- acusado, muitas vezes, de "populista''-, enquanto os defensores do mercado livre continuam a luta da UDN, dessa vez sem um Carlos Lacerda, contentando-se com um Fernando Henrique qualquer. Passadas seis décadas da morte do grande homem, seu legado continua a viver.


E foi em nome de uma luta entre ideias, e não entre homens, que Getúlio Vargas efetuou um disparo mortal contra si mesmo. O homem-símbolo se matara, para mostrar que ideias sobrevivem aos homens, sendo-lhe superiores, eternas como a própria esperança. No fim de tudo, era apenas mais um homem, provido de virtudes e defeitos como qualquer outro: afinal, entre seus erros se encontram a instalação de uma ditadura, em 1937, a cruel perseguição e morte de opositores, a censura à imprensa. Mas até mesmo um ditador pôde encontrar o seu perdão- e "O dia da remição'' será uma das postagens futuras da série que se inicia aqui. 


Assim, nessa semana, estaremos relembrando os governos- e a personalidade- daquele que 
é, indubitavelmente, o maior estadista que o país já conheceu. E, aqui, a reflexão vai além do homem e atinge as ideias- igualdade social, democracia, soberania nacional são palavras que se cruzam e se fundem, tanto em 1954 quanto hoje, e mais do que nunca tem de ser trazidas do ostracismo no qual estão trancafiadas.

"Seu nome ficou na história
Pra nossa recordação
Seu sorriso era a vitória
Da nossa imensa nação
Com saúde ele venceu
Guerra e revolução
Depois foi morrer a bala
Pela sua própria mão.''


(Teixeirinha, faixa "24 de Agosto'', LP Saudades de Passo fundo, 1962).

sábado, 18 de agosto de 2012

Tânatos, Fobos e Hipnos, a Santíssima Trindade: o panteão dos deuses pós-modernos

 Os deuses pós-modernos e suas oferendas: sacrifícios humanos

Religião é algo que combina muito pouco com a pós-modernidade. A aversão dos nossos tempos a certos valores e crenças morais de cunho universalista e ontológicos, reveladas por instâncias superiores à mente humana pelo "Sagrado'' é um verdadeiro palavrão diante de uma sociedade guiada pelo pensamento existencialista, hipersubjetivista e, por vezes, niilista que marca a pós-modernidade. Mas mesmo em épocas assim - e a pós-modernidade não será a primeira ou a última era de império do relativismo que a humanidade conheceu, conhece ou conhecerá-  podem ser explicadas de acordo com as "divindades'' que nela predominam. Deuses que não possuem nomes, nestes dias, mas que, com fins meramente expositivos- e com vistas a usar um pouco de etnologia das palavras para explicar melhor quem são esses novos velhos deuses- vamos nomeá-los com os epítetos criados pelos bons e velhos gregos.

Tânatos era, como é hoje, o deus da morte da Grécia Antiga. Cruel e implacável em sua armadura de ossos e tendões humanos, perseguia e vencia mesmo os mais bravos heróis, e nem Hércules ou Aquiles lhes escaparam, na mitologia. Hoje, Tânatos é a morte que amedronta o ser humano, sendo o motivo pelo qual a sociedade experimentou avanços tecnológicos, culturais e materiais sem precedentes, construindo cidades de pedra, impérios alimentados pelo ouro negro, maravilhas das comunicações, sistemas políticos e sociais complexos e eficientes que garantem proteção, conforto, e bem estar a pelo menos uma parte da humanidade. É uma sociedade que, diversamente da matriz medieval (que saudava a morte como libertação e mesmo um obstáculo superável, a partir da esperança na ressurreição e na vida eterna), está em permanente fuga da morte (que é todo custo evitada): a humanidade organizada, onde os homens se unem para se guardarem, alimentarem e auxiliarem (ou, resumindo bruscamente, se explorarem mutua e reciprocamente), é uma dádiva do medo ancestral da morte, solidificada na solidão, na fome, no frio; hoje, Tânatos é a exclusão do sistema econômico capitalista (visto como o sistema que assegura a vida), que reserva suas benesses (a vida) para uns poucos eleitos, enquanto outros são ofertados à Tânatos, os pobres e miseráveis do mundo. Embora não seja adorado, Tânatos é o cruel perseguidor que é a fonte da adoração de seus irmãos.

Diziam alguns sábios antigos que o verdadeiro e mais poderoso dos deuses era Fobos (ou Phobos), o Medo. O seria da morte, sem o Medo da morte? Fobos é a força vital pelo qual sociedades e sistemas culturais foram criados, isto é, para perpetuar a vida, atrasar a morte e para construir uma base pelo qual os descendentes daqueles que sobreviverem um pouco mais também possam viver; o medo das coisas faz com que o homem tente evitá-las, vencê-las até. As tradições coletivas ajudaram os gregos e os povos antigos a manter o meio de vida que assegura a segurança material diante da fome, da guerra e do frio, e nelas os ancestrais sobreviveram, de certa forma. Na pós-modernidade, a falta de vinculação às tradições, onde cada homem é senhor absoluto de suas opções morais, fez agigantar o medo. Medo do sofrimento, medo da morte (que é o medo de ser excluído do sistema), que leva o homem a buscar integrar-se á nova ordem pós-moderna para sobreviver. Aqui reside o paradoxo da pós-modernidade: o super-homem, teoricamente livre, não pode optar senão pelos valores impostos pelo capitalismo neoliberal para ser aceito socialmente, e com isso, tranquilizar-se do medo e fugir da morte. É uma ditadura de (des)valores disfarçada de liberdade absoluta e dela decorrente, já que optar por ideias contrárias ao sistema traz o fantasma do Medo e da Morte como maiores sanções. 

Mas um mundo fundado em deuses do Medo e da Morte seria insuportável. E, aqui, entra o irmão de Tânatos, Hipnos, o deus grego do sono. O sono traz tranquilidade e paz interior, e nela mesmo um mendigo pode sonhar com castelos encantados ou coberturas de luxo de frente à praia de Copacabana. O sonho (em grego, Morfheus, o filho de Orfeu) oferece ilusões que amortizam as dores e afastam o medo; e os melhores sonhos, na pós-modernidade, são os prazeres oferecidos pelo sistema (bens materiais, sexo, admiração alheia), que podem ser comprados, segundo reza a cartilha capitalista, pelo esforço, trabalho e lucro - ou pela especulação financeira desinibida; filosoficamente, a maior das ilusões e a de que, determinando todos os seus valores e objetivos, o homem pode ser seu próprio deus. Conjuntamente, o sono leva as pessoas a se conformarem com a sociedade e a dirigirem suas atenções aos sonhos de prazer: no fim, o sono leva a submissão do homem ao ideário capitalista neoliberal, por meio das promessas deste, materializadas nos sonhos que este oferece, enquanto o mundo, tal como ele é (um reino de horror onde homens exploram uns aos outros) fica encoberto. 

É uma fenômeno chamado por Marx de "alienação'', e que, em seu tempo, era manifesto na religião, o ópio do povo. Hoje, o ópio do povo são os sonhos do capitalismo, acalentados por bilhões, mas realizados por pouquíssimos- o que explica a onda de depressão sentimental que afeta todo o planeta, manifesta nos assustadores índices de suicídio e autodestruição por vícios em drogas; as pessoas descobrem, tarde demais, que simplesmente consumir, satisfazendo os prazeres, não traz felicidade alguma. Perdem o sentido de suas vidas e definham dolorosamente, quando os sonhos evaporam no ar como a névoa da manhã quando cortada pelos raios do sol; quando percebem que não são deuses, mas mortais. Hipnos submete os homens à ordem e, tal como o personagem mitológico, sussurra lascívias aos desavisados filhos de Adão da pós-modernidade, levando-os ao seu reino de ilusões e mentiras- que é o que os sonhos são.

Mas o Panteão da pós-modernidade não age como na mitologia grega, onde os deuses tinham seus próprios interesses e pouco se lixavam uns para os outros. A morte impulsiona os homens a se organizar na ordem capitalista, assim como o medo, que funcionam como punições àqueles que contra ela se rebelarem; o sono e os sonhos ajudam a esconder a realidade, tornando-a suportável e até desejável; e, no fim, os três são um só deus, já que um depende do outro e por meio deles se realiza. Talvez a maior das mentiras contadas por esses deuses e seus sacerdotes-  mega-banqueiros, empresários, políticos-, veiculadas por meio da mídia (o mensageiro dos deuses, ou um Hermes pós-moderno, se preferirem; curiosamente, Hermes também era o deus dos ladrões...) seja a de que o sistema capitalista realmente salva da morte e supera o medo. Na verdade, o próprio capitalismo e a pós-modernidade se assentam no medo e na morte, onde os homens se matam e dominam uns aos outros para impor suas opções morais ou satisfazer seus prazeres, numa guerra de todos contra todos, onde cada homem é o lobo do homem. (Ao lado, Hipnos e Tânatos).


Não por acaso, o capitalismo pós-moderno comandou as maiores guerras da história (com seus 200 milhões de mortos), sendo responsável pelo maior número proporcional de seres humanos, em todos os tempos, em situação de extrema desnutrição (fome) e pela maior explosão de concentração de renda já vista, a ponto de fazer os faraós corarem de vergonha. E toda essa grande mentira faz perceber que os três deuses são apenas fazes de uma única divindade, demoníaca e monstruosa: o Mercado, o sistema, o capitalismo pós-moderno, aquele que diz trazer liberdade aos homens (que supostamente a teriam por via do consumo e do trabalho livre) quando, paradoxalmente, lhes impõe a maior das tiranias. A tirania do indivíduo sobre ele mesmo, que acredita ser seu próprio deus (no sentido de fonte da moral e da razão), a ditadura de seu medo da morte e da exclusão social, mas também de sua busca pelos sonhos do prazer, que ele próprio aceita!

A razão da ascensão de deuses tão hediondos assim é simples. O Deus até então dominante, cristão e platônico, foi morto e enterrado, simbolicamente, pelo "progresso'' técnico e filosófico humano. Nietzsche e Feurbach acreditavam em Deus como uma criatura feita à imagem e semelhança do homem, que esqueceu que a criou e lhe deu vida própria. Sendo esse Deus apenas uma ilusão para confortar a humanidade ou par favorecer a dominação de classes opressoras (segundo Marx), não há uma ordem moral ou social estabelecida, a razão não tem sua fonte em Deus e muito menos a história segue um padrão racional. Deus, na pós-modernidade, está morto e, com ele, todos os valores morais e a própria razão como meio de entender o mundo. O grande vácuo deixado por Ele foi ocupado pelo Medo, pela Morte e pelo Son(h)o, que se unem nem um único rosto, o Mercado. Substituímos o amor, a misericórdia, a busca do bem-coletivo e a esperança, o quadripé fundamental do cristianismo, pela morte, medo, sonhos vazios e submissão a um sistema brutal e despótico.

A terrível Santíssima Trindade de nossos dias é, além de mentirosa, dona de um apetite voraz. Os sacrifícios humanos feitos a eles, como os do 1,25 bilhão de almas que padecem de fome ou dos 1 milhão de iraquianos mortos na guerra dos EUA contra seu país são exemplos disso. Um rapaz da periferia de alguma grande cidade brasileira, com grande potencial em ciências naturais, mas que nunca obteve acesso a estudos de qualidade e que, por isso, passa a vida como mecânico amador, tal como seu pai, também é exemplo de mais uma vida imolada nos altares de sangue e ossos, por nossa sociedade a nossos deuses.


Digo que se tratam de deuses, de certa forma, porque neles estão presentes a submissão da humanidade à uma força superior (quem mais poderoso, do que o medo, a morte e o son(h)o?), que tem um culto organizado, sacerdotes, profetas e fieis, que somos nós. Talvez sejam mais como os "espíritos'' da humanidade, como Nietzsche uma vez preconizou, o Dionisíaco (a destruição criativa, o caos, a busca do prazer) e o Apolíneo (a luz, a ordem, a moral). Se a humanidade oscilou de uma era onde o Apolíneo dominava para os tempos de supremacia do Dionisíaco, hoje são os três deuses que se sobrepõe à ordem ou ao prazer. (Ao lado, representação moderna de Tânatos, a morte)

O maior dos trunfos do panteão é simples: sua ditadura cruel é desejada pela humanidade, porque esta entende que, por meio dela, pode ser livre, realizar prazeres, mesmo que isso tenha consequências; que podem ser deuses de si mesmos. Mas o  deus único do Mercado é o único verdadeiro, já que o fato de o sistema se apoia no medo, na morte e no son(h)o fica oculto.

Esses são os deuses que tememos e adoramos sem saber, que não tem vontade própria ou um rosto. Um panteão oculto, filho da crise filosófica e espiritual da humanidade que, eliminando os deuses da velha ordem (e "o'' Deus, o arquiteto do universo, fiador da razão e fonte da moral, no qual, pessoalmente, creio), não deixaram ao homem mais que instintos, o medo da morte e os sonhos. Eles explicam o espírito da atual época e lhe personificam... e, como todos os deuses, ídolos de coração de pedra, podem ser destruídos. 

Quando a humanidade voltar a não temer a morte ou a exclusão e der o último grito de liberdade, Tânatos, Hipnos e Fobos, unidos no Mercado, serão derrubados de seus tronos e queimados no altar do esquecimento. A última rebelião contra os deuses, a última revolução, é a libertação do medo e dos falsos sonhos que o capitalismo oferece. Isso implica em ser perseguido pelos paladinos do sistema. 

Felizmente, essa rebelião já começou. O mundo pós-moderno se derrete rapidamente, mergulhando no caos que dará início a uma nova era... a contestação já é global e, apesar de mal-estruturada, contagia cada vez mais pessoas com a descrença no capitalismo. Normalmente, os deuses morriam, na cultura grega, sem a adoração de seus fieis ou sem oferendas; e, como tal, sem medo da morte ou dopada por sonhos medíocres, a humanidade poderá ser livre. Nesse sentido, sobram dois caminhos: voltar ao Deus cristão, que espera de braços abertos, ou ir em direção ao desconhecido, correndo atrás da ancestral promessa de que o próprio homem pode ser seu deus (e que, como vimos em Roma, nas ditaduras fascistas e no atual pós-modernismo, não deu lá muito certo). Assim, talvez um dia, mais próximo do que pensemos, sobre nós haverá apenas o céu.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O casamento de Dilma Rousseff


O lugar da cerimônia não foi uma igreja. Tampouco esteve presente um juiz de paz. Na plateia, os homens mais ricos do Brasil, comandados por Eike Batista, o mágico empresário do setor petrolífero que ganhou bilhões sem extrair uma única gota do precioso ouro negro das profundezas do mar, foram as testemunhas do esperado casamento da presidente (e do governo) Dilma Rousseff. A certidão de casamento consistia em um documento oficial, assinado por Passos, ministro dos Transportes, Guido Mantega, da Fazenda, a bela Glaisy Hoffman, da Casa Civil, e pela noiva, Dilma. O nome do noivo era simples: privatização.

Dilma tentou aliviar o escândalo de seus correligionários e apoiantes políticos com a nova união. "Meu querido, não são privatizações'', ela disse, irritada, quando perguntada sobre o Programa de Investimentos em Logística lançado ontem. O tal plano, suavizado com o termo "concessão'' de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos, prevê R$ 133 bilhões em investimentos, do setor privado, em mais de 7,5 mil km de rodovias e 10000 km de ferrovias, usando para as últimas o modelo de Parcerias público-privadas. Essencialmente, o governo vai  "vender'' o desfrute comercial de vias logísticas por valores simbólicos, à empresas que assumam o dever de conservar, construir e administrar os bens cedidos. E, ainda mais, vai gastar do próprio bolso, assumindo a construção de certos trechos ou emprestando dinheiro e juros baixos, via TJLP (que caiu a 5,5%), onde as empresas poderão pagar em até 20 anos. Ou seja, o governo vai, além de privatizar estradas e ferrovias, financiar, com um evidente prejuízo, os lucros das concessionárias, com essa taxa de juros camarada, que poderão cobrar pedágios somente com 10% das obras concluídas. Para disfarçar, uma nova estatal foi criada par "gerenciar'' as obras. A diferença dos modelos privatistas passados é que o que for arrecadado pelo governo nas vendas das concessões vai ser aplicado nas obras.

O governo afirmou que quer solucionar os entraves na logística nacional, dando competitividade aos produtos brasileiros. Não por acaso, os novos milhares de quilômetros de ferrovias e rodovias ficam situados no coração do agronegócio brasileiro, bem como cortam as grandes cidades industrias do país. Regiões de infraestrutura precária, desnecessário dizer, foram esquecidas, como o sertão nordestino e a região norte em peso, dando seguimento ao processo de desenvolvimento da região centro-sudeste em detrimento das demais.

O PSDB, o partido autor das grandes privatizações de bens públicos do Brasil durante a era FHC, saudou Dilma, antes mesmo de seus aliados políticos. O próprio Fernando Henrique parabenizou a presidente por beijar a cruz das privatizações- que, segundo ele, seriam uma rendição do petismo ao "sucesso'' do modelo privatista, diante da ineficácia das medidas paliativas adotadas por Dilma para responder à crise internacional. Essas medidas, porém, - isenções fiscais, desoneração da folha de pagamento e fartura de crédito para indústrias da transformação, bem como desvalorização do câmbio, presentes no Plano Brasil Maior- apenas integravam, o tempo todo, o plano do governo para enfrentar a crise, no qual as privatizações foram previstas para dinamizar a economia, ativando, por meio de grandes obras, toda a cadeia produtiva nacional, fazendo circular riqueza, diminuindo a poupança e aumentado o consumo interno, fazendo o combalido PIB brasileiro crescer. Nesse sentido, a redução dos juros para 8% ao ano liberou capital do rentismo e da poupança para as atividades produtivas- as concessões de Dilma, por exemplo, teriam taxa de lucro de cerca de 13%, uma verdadeira tentação para os bancos, empresas e concessionárias. 

O capital externo está autorizado a investir. O pacote revela o centro nervoso da política econômica do governo: apenas manter o status quo sem realizar grandes reformas jurídicas e estruturais- como a tributária, trabalhista e previdenciária. Ainda mais, tem-se graves suspeitas de que nas obras de tais rodovias e ferrovias serão um prato cheio para corruptos de plantão desviarem algumas verbas públicas e empresários ambiciosos superfaturarem aqui e ali. 

O objetivo da equipe econômica é baixar o custo-total das mercadorias produzidas no país (através da integração entre queda dos juros, o Plano Brasil Maior e o Programa de Investimentos em Logística) e aumentar o nível de demanda da economia com as obras que se seguirão. Para tal, negou reduzir os custos com a máquina pública e com despesas financeiras- a famosa dívida pública- e resolveu delegar a condução da economia aos agentes privados. O tal Programa é apenas um precedente do que virá pela frente, suspeita-se. Trata-se de uma privatização em sentido amplo, já que o usufruto dos meios de transporte passará às empresas por décadas, voltando ao governo depois de gastas e ultrapassadas... o problema é: se o pedágio cobrado pelas empresas for muito alto, o feitiço vira contra o feiticeiro e os produtos nacionais encarecem, em vez ficarem competitivos. A produção diminuirá, junto coma  demanda pelos produtos nacionais, mais caros, contra os mais baratos, estrangeiros. 

Dilma busca gerenciar a economia sem muitos apelos políticos. Enquanto Lula fugia das privatizações, por causa da opinião pública, Dilma lixa-se para ela e para a esquerda e decidiu ser feliz. E ser feliz para ela é perseguir números, metas e objetivos planificados, e pouco importa se deverá cuspir em seus ideais e privatizar até a Petrobrás para cumprir seus insanos planos burocráticos. Mas, para o bem do Brasil, esperemos que a união pragmática entre a presidente e seu novo marido, a privatização, dê errado, apesar dos incentivos e bençãos de Eike Batista e seus colegas bilionários. Afinal, não há muito tempo, um certo sociólogo, em seu governo, afirmou que privatizar estatais era necessário para fazer o país crescer- e a taxa de crescimento de seu governo foi de 1,9 % anuais, com longas recessões (1997, 1998, 1999 e 2001). Um certo pensador disse que a história se repete: a primeira vez, como tragédia, a segunda, como farsa. E a farsa (e mentira) é de que privatizar bens públicos no Brasil dinamiza a economia e induz o crescimento. 

"No crescimento e na estagnação, no pibão e no pibinho, até que a derrota nas urnas ou a recessão nos separem'' teria sido um ótimo voto nupcial, não?

O concubinato da (pseudo)Esquerda: escândalo da política



Até hoje, nas regiões interioranas do Brasil, é comum que, após as missas (ou, cada vez mais comumente, cultos evangélicos) austeras senhoras se unam em pequenas rodas, à porta das Igrejas ou nas calçadas, para propagar rumores sobre as prováveis traições conjugais de algum conhecido ou sobre a união entre rapazes e moças, que vivem como casados, mas sem as bençãos do sagrado matrimônio- diz que casais assim são "amansebados'' ou "amigados''. Até aí, tudo bem. Infelizmente, alguns partidos políticos de esquerda, expandindo-se pelo interior do país- um feito que jamais lograram até a redemocratização-, absorveram o mau-costume dos chefes de família tradicionais de ostentar uma falsa moral (representada pela esposa e filhos, em um lar cristão) enquanto que, na calada da noite, frequentam bordeis ou as casas das amantes. 

Durante o dia, e diante dos holofotes da imprensa, certas agremiações de esquerda ostentam nobres ideais. São os legítimos representantes do povo brasileiro, lutam constantemente pela melhoria dos serviços públicos e pela conversão do Estado de mero expectador da economia para agente ativo dela, além de se incubirem da sagrada missão de zelar pela descriminalização do aborto, pela legalização da união gay ou ainda fecham fileiras a favor da igualdade racial. Essa verdadeira ideologia que crê no Estado como o grande promotor do bem-estar social é a esposa da esquerda, seu porto-seguro, sua costela, seu pilar de legitimação. A esposa da esquerda se personifica no próprio povo, que, carinhoso e vislumbrado pelas promessas de seu esposo, se contenta em trabalhar duramente para que o maridão possa empregar os recursos que produzir.

A noite, porém, a esquerda política, manifesta no Partido dos Trabalhadores e suas agremiações associadas, como PDT, PSB e PCdoB  (mas também em seu opositor, o PSDB, aquele vizinho chato que posa de moralista e critica a conduta imoral do outro, sendo ele mesmo ainda mais pervertido), corre para a casa das amantes ou para os prostíbulos da política. Ali, nos prostíbulos, fecham acordos subterrâneos com velhas prostitutas como o PMDB, o PP e o PR, usando como moeda de pagamento o loteamento da máquina pública e o rateamento dos recursos públicos entre si.  Nas casas das concubinas, os bancos , o agronegócio e o grande empresariado, o povo é esquecido enquanto partidos vivem noites quentes de amor, onde os recursos produzidos pela idiota da esposa (o povo) são gastos em viagens às Bahamas ou na compra de champagne importado. A ideia de que o Estado deve promover o bem-estar social é usada como capa que encobre a verdadeira visão de nossos partidos sobre o Leviatã: a de máquina extratora de riquezas da coletividade em proveito dos próprios políticos, de suas prostitutas e concubinas, enquanto a povo, a esposa traída e conformada, se diverte com futilidades. 

No fim de tudo, restam os mexericos. A grande imprensa faz o papel daquela senhora encarquilhada austera, que gosta de proclamar aos sete ventos a relação promíscua e hipócrita da esquerda com grupos sociais de direita, talvez visando obter alguma vantagem. O povo e a social-democracia são só  um verdadeiro véu que, a partir de uma moral superficialista, encobre as puladas de cerca de um bando de fanfarrões, que se autoproclamam "esquerda'', que deixaram de crer em seu próprio "casamento'' com o povo há muito tempo. Só flertam com o povo ou com a social-democracia em tempos de eleição, e mesmo assim com as prostitutas ou concubinas de cada lado, aos braços dados. O povo até acha bonito, pensa que são só amigos, vota nas mesmas alianças espúrias a cada eleição, indo para a cama com o marido traíra só para ser abandonada no dia seguinte...


Nesse teatro de hipocrisias, o que mais escandaliza algumas outras senhoras- como a classe média- é que, diferentemente do que ocorre nas regiões interioranas do Brasil, o concubinato da esquerda com forças de direita ou de agrupamentos que  se oponham tácita ou expressamente às ideias oriundas da cartilha marxista se manifesta à luz do dia. Lula, o líder do PT, aparece abraçando Paulo Maluf, em um belo dia de sol, enquanto todos aqueles populares que um dia apoiaram o PT contra o corrupto líder do PP lançam os impropérios típicos de esposas traídas. José Serra quase fez um book em parceria com Alfredo Nascimento, do PR, acusado de abuso de poder quando ministro de Dilma; Eduardo Campos deu às mãos a Jarbas Vasconcelos em um grito uníssono pela vitória do PSB em Recife. Em centenas de cidades Brasil a fora, PT e DEM se coligam com o fim de conquistar prefeituras. Mas o pior é que, enquanto sustentam uma vazia retórica em nome da distribuição de renda, PT, PDT e outros são financiados pelo capitalismo mais selvagem que conhecemos- o agronegócio, os bancos bilionários e as grandes transnacionais. Tudo isso, para o horror da classe média e das normas da moral tradicional, de forma escancarada, a luz do dia. ''Uma vergonha!", diz a mídia, chocada, à sua comadre, a classe média alta. Esta resmunga um "sempre soube'', enquanto ambas fingem reprovar a imoralidade. Estranhamente, não fazem nada para mudar a situação, e, por baixo dos panos, recebem algumas benesses da esquerda: falam de quem querem, e ninguém mais o pode fazer (monopólio da mídia) e se furtam aos impostos (sonegação), que são relegados ao povo. 

Assim, continuamos nesse teatro de hipocrisia. O povo sabe das traições da esquerda, ouve os mexericos da mídia e tenta se comportar como a classe média, no modo de pensar e de se apresentar, fingindo ignorar a tudo. No fim, todo mundo fala de todo mundo, mas todos estão confortáveis com o status quo e se limitam a permanecer onde estão. É uma sociedade, tal como no interior do Brasil, viciada em formas de burlar às próprias regras, doutorada em enganar a si mesma, onde os reluzentes ideais de esquerda brilham, escondendo a opacidade cadavérica na qual se desenrolam as puladas de cerca, a prostituição e o concubinato. Algo em que todos creem como certo, mas que todos sabem, paradoxalmente, que é patentemente desrespeitado. E, como no interior, o que fazemos é falar mal de tudo isso. E como mudar algo? 


Só há um remédio para um casamento falido: o divórcio. É hora de pedir a separação entre esquerda e povo, e abandonar de vez ideais empoeirados que apenas encobrem práticas condenáveis; o povo deve se emancipar e livrar-se de imposições ideológicas inúteis... só ele mesmo deve decidir o que é certo ou errado. Que se lixem essas velhas senhoras e suas fofocas: o povo tem o direito de ser livre de uma relação que o aprisiona. Mais um escândalo para os moralistas tradicionais é uma esposa que deixa o marido e passa a ter ideias próprias ou viver por si mesma. Um escândalo necessário, para que o Brasil possa crescer. E viva o divórcio.

domingo, 5 de agosto de 2012

As eleições em Garanhuns: a definição de um voto e uma chance para a esperança



Tenho fortes divergências ideológicas com o PSOL, diga-se. Talvez por, contrastando com sua orientação materialista oriunda do marxismo, serem os psolistas excessivamente idealistas. Mas, ora, não é disso que precisamos? Homens e mulheres que lutem por ideias, não por montes de papel e cobre; que vejam além da modorra cinzenta da normalidade; que ousem construir onde os outros simplesmente se conformem em cruzar os braços e ver desmoronar. Mas mesmo com homens com ideias, como podem eles sós mudarem algo? Eles precisam de votos- e aqui entramos nós, os eleitores.

O primeiro passo na definição de um bom voto, para mim, é análise do panorama político, econômico e social do país, Estado ou município. E o de Garanhuns não é bom. 

Pouco se legisla na Câmara de Vereadores, muito menos se administra na Prefeitura, e, pior, não se ousa, em todos os sentidos, seja na elaboração de projetos ou na busca por recursos públicos conveniados com outros entes governamentais. Limitam-se nossos "líderes'' a ver a vida (e as oportunidades) passar(em), com o único fim de permanecerem mais tempo no poder, e a ideia de sujarem seus pezinhos delicados e principescos com a lama das estradas rumo a Recife ou Brasília, em busca de recursos ou atenção dos poderosos do país para a esquecida Garanhuns, lhes causa repugnância. Não há planejamento ou integração com as camadas populares ou outras esferas de governo, e os gestores públicos parecem administrar a Coisa Pública como se fossem bens pessoais seus, em um irritante e secular costume patrimonialista, já que o que importa não é desenvolver o município, mas apenas garantir "mais quatro anos'' no comando do suculento orçamento "público'' municipal. Esse intento continuísta subterrâneo dos governantes é a causa geratriz do desemprego ascendente, contrastando com o loteamento da máquina pública, que vive em seguidos déficits fiscais; é causa do analfabetismo e do sucateamento das escolas e postos de saúde, uma lástima vergonhosa; das poucas empresas que se aventuram a vir a cidade (com poucas e notórias exceções no último ano), e dos ainda mais reduzidos projetos de obras e serviços públicos que saem do papel, perdidos em uma burocracia infernal de um Plano Diretor ultrapassado.

Mais que isso: os garanhuenses não sentem interesse pela sua própria política, vista como privilégio de uns poucos (endinheirados), acreditando que pouco ganham apoiando um ou outro candidato a vencer suas brigas políticas, onde só importam a consecução de seus interesses. Porque, independentemente de quem vença, Garanhuns continuará presa a um passado negro e sem desenvolvimento, que marcou o Brasil dos anos 80 e 90, mas que ainda corre por essas bandas do Agreste. Esse é o mais terrível efeito de uma política municipal que se acha privatizada, onde existe uma democracia em que o povo só é consultado de 4 em  anos, e, depois, é como se desmanchasse-se como um torrão de açucar na água. O inviolável direito ao voto parece não fazer diferença alguma.

Aliás, o histórico problema da venda de favores nas campanhas em troca de votos é o sustentáculo desse sistema viciado. Alguns eleitores obtêm vantagens do candidato e, uma vez usufruídas, dão por quitadas suas obrigações de cidadãos. Votam nos candidatos que lhes garantam empregos, consultas médicas gratuitas, material de construção ou mesmo um "quartinho'' de cachaça. Assim, os eleitores de Garanhuns também privatizam a política: será que não pensam que todas as benesses que recebem dos "seus'' candidatos muitas vezes são pagas com dinheiro público, que poderia estar sendo empregado no desenvolvimento do município? E que é essa relação de submissão deles próprios com os políticos que lhes causa uma eterna dependência destes? Que não podem trabalhar, educar-se ou tratar-se como deveriam e poderiam porque essa mesma casta política se perpetua no poder?

O segundo fator do bom voto, já visto o panorama geral, é identificar as necessidades do Município, Estado ou país, que sejam essenciais para superar os problemas enfrentados. Em Garanhuns, precisamos de reformas jurídicas urgentes, seja na Lei Orgânica, no Plano Diretor ou no Código Tributário. Precisamos desenvolver políticas públicas que fomentem o emprego, o investimento privado e a produção agrícola, seja por meio de uma nova política tributária (isenções fiscais, condicionadas à promoção de atividades culturais, pro exemplo) ou pelo preparo da infraestrutura da cidade para que receba indústrias e novos empreendimentos comerciais. A juventude precisa ser capitalizada, intelectualmente, seja por meio de qualificação profissional ou pela celebração de convênios com outras esferas de governo ou empresas privadas. A arte, a cultura e a história do município precisam ser recuperadas ou redescobertas, porque uma cidade sem memória é um monte de construções e pessoas sem identidade. 

Deve-se investir pesadamente na esfera do turismo. A cidade necessita de reformas estruturais que preparem sua logística para o aumento populacional e para a livre passagem de pessoas (principalmente, turistas), mercadorias e veículos. Falta articulação política com os demais municípios e esferas de governo. Os serviços públicos básicos devem ser reestruturados, remodelados segundo o modelo gerencial de administração, para perseguir metas qualitativas, sobretudo na área da educação, com valorização dos professores e reequipação das escolas sucateadas, e na saúde, mediante construção de postos de saúde, implementação de programas de saneamento básico (que diminuíriam em 70% as ocorrências nos hospitais por coibir a proliferação de doenças evitáveis...), equipando o Hospital Municipal para realizar exames mais complexos, além de contratar profissionais urgentemente.

Todas essas necessidades coletivas devem ser escalonadas, das mais urgentes às menos necessárias. Se possível, poder-se-ia  integrar a solução de um problema coma de outro. Um exemplo: é mister a necessidade de mais empresas em Garanhuns, que empreguem mão-de-obra e gerem riqueza, lançando mais consumidores no mercado local e iniciando um processo de crescimento econômico virtuoso. Ora, porque não, além de conceder as isenções fiscais de praxe aos novos empresários, criar outros estímulos (um coquetel duplo de incentivos fiscais, talvez?) para aqueles que mantiverem programas de qualificação de mão-de-obra ou patrocinarem eventos culturais ou festivos? Ou para os empresários que contratem 10% de mão-de-obra entre jovens sem experiência?

Por último, a definição do voto exige um olhar para as candidaturas apresentadas. E aqui pesa o componente da subjetividade.

Quando escolho um candidato, procuro averiguar seu histórico. Onde estudou, em que época, qual sua trajetória na faculdade, sua atuação enquanto profissional, pai ou mãe; e, ademais, se é ou não uma pessoa de passado limpo, sem prender-se nem à condenações na justiça nem a conchavos políticos espúrios, que considero tão ruins quanto as primeiras. O que me encanta mais é saber que o homem ou mulher em que voto teve uma vida de superação, defendeu ideais em tempos sombrios, enfrentou os donos do poder e que, com base em sua experiência de vida, muito além das meras teorias dos empoeirados livros da Academia, propõe mudanças que expressam a situação social concreta vividas pelas pessoas. Propostas políticas que nascem da vivência social de uma população, enfim.

Em Garanhuns, temos quatro candidatos a prefeito. 

Um deles, empresário e deputado estadual, tem como principal trunfo ser apoiado por diversas esferas de governo. Todavia, trata-se de um apoio frouxo e instável, já que foi articulado nos últimos dias de definição das candidaturas, quando a candidatura de Antônio João Dourado foi abandonada pelo governador. Quem garante que o candidato manterá essa articulação com o governador e a presidente, já que mal conseguiu enfrentar a imposição de AJD como candidato do governo estadual psebista? Além dos mais, as ideias políticas do candidato são vagas, expressas em discursos onde se promete de tudo, sem apontar os meios pelos quais realizar as façanhas previstas. Há uma vaga impressão de que o candidato apoia a qualificação do trabalhador e a melhoria das condições estruturais para as empresas que atuam no município, principalmente porque o senador Armando Monteiro, o paladino das indústrias do Brasil, é o principal padrinho político do prefeiturável. Seu pólo eleitoral são comerciantes, comerciários e a classe média em geral. Seu ponto fraco é a classificação baixa de sua equipe.

O segundo desenvolveu sua carreira política em Caetés. Pouco inovou em serviços públicos quando governou a dita cidade, e sua gestão teve diversas contas rejeitadas. Tem uma evidente liderança carismática, sendo muito querido pelas classes populares, que se identificam com ele. Basicamente, propõe um governo mais ligado aos interesses populares, sem propostas definidas. Vende-se, com sua candidatura, a ideia de que, com ele, será como se um cidadão comum estivesse no governo; a mesma técnica de marketing usada por Lula, em toda sua carreira: ele sempre foi tão comum, bebendo suas cervejas e jogando peladas, usando expressões de cunho popular e expressando emoções tão genuinas que o eleitor nele se vê. Ou seja, nosso segundo candidato é um "populista''.

O terceiro candidato já governou Garanhuns por oito anos, tendo articulado a vitória do atual governante do municipio, rejeitado por mais de 70% da população. Realizou grandes obras de embelezamento da cidade e ganhou alguns prêmios de gestão pública, quando esta se resumia a cortar gastos públicos e aumentar os impostos. É o autor do modelo de governabilidade vigente na cidade: amplas maiorias na câmara, obras públicas desintegradas de objetivos maiores e "bairrismo'', ou seja, falta de articulação com deputadores estaduais, federais, governadores e senadores, o "silvinismo''. Agora, defende políticas mais voltadas ao eleitorado jovem, como o primeiro emprego e reforço dos cursos da AESGA, além de prometer tirar a cidade de sua estagnação econômica e social (causada, em última instância, por ele mesmo, quando prefeito e padrinho político do atual governo). É o candidato preferido das classes mais altas e de maior poder aquisitivo.

O quarto é uma figura curiosa. Engenheiro, filiado ao PSOL, um esquerdista histórico e idealista que não participa dos conchavos políticos deploráveis que maculam os outros candidatos. Disputa eleições há mais de duas décadas, sem nunca alterar suas ideias. É aquele que, a primeira vista, o eleitor comum qualificaria de "o mais fraco'', porque não tem o poder econômico dos outros nem suas bases de apoio. Mas, paradoxalmente, é aquele que tem as melhoras propostas para a cidade. Em seu programa "mínimo'' de governo, propõe ampliar o acesso das classes populares à gestão pública (garantindo o acesso às informações públicas, desatualizadas hoje em dia) e instituir conselhos populares, incentivar a produção de gêneros agrícolas diversificados no município, implantar o passe-livre para estudantes e implantar novos cursos na AESGA, implantar postos de saúde, abrigos para idosos, construção de museus, centro de convenções e espaços culturais. O que mais me chamou atenção foi sua política urbanística, onde falou-se em criar mecanismos para reduzir os alugueis (o município vive uma onda de especulação imobiliária...), ressocializar favelados, reformar calçadas, adquirir imóveis históricos (antes que não sobrem nenhum deles...), rever o Plano Diretor para que se construam prédios acima dos três andares e se agilize a licença de construção, além da implantação de vias expressas, pontes e alargamento de ruas. Medidas simples, pouco dispendiosas, que injetariam uma boa leva de recursos na cidade e seriam um chamariz para novas empresas se instalarem nessas terras "esquecidas pelas capitais''. O ponto mais polêmico do longo programa é a construção do teleférico: mas, ora, Gravatá já tem o seu. Com um bom projeto e uma cobrança, quando em funcionamento do maquinário, de poucos reais por passageiro, rapidamente recuperar-se-ia o gasto de construir um aqui na cidade. E poder-se-ia garantir o acesso ao maior monumento turístico de Garanhuns: ela mesma, em sua majestosa projeção em sete colinas enevoadas. Poucas medidas potencializariam mais o turismo em nossa região.

Os objetivos do programa de governo são claros. Talvez muito mais que impor de cima para baixo um programa de governo, a candidatura abre espaço para que os cidadãos próprios decidam o melhor para a cidade, através dos meios de participação popular possibilitados nos conselhos populares. Tratam-se dos homens e mulheres da cidade, não simplesmente delegando o governo a um grupo de homens, mas participando das decisões tomadas por eles, em um evidente avanço do sistema representativo. 

Com esse homem na prefeitura, e com apoio popular, acredito que Garanhuns pode tomar seu destino nas próprias mãos. Finalmente, desde os anos 60, as massas terão voz. E, assim, chegamos ao maior feito político que pode ser conquistado pelo município: desprivatizar a política e devolvê-la ao povo! É, ao meu ver, a maior das promessas e o verdadeiro corpo essencial das ideias que levam Paulo Camelo a ser candidato à prefeitura do município. Acredito que, participando ativamente da gestão do município, o cidadão garanhuense possa livrar-se das amarras que lhes prende a uma dependência vergonhosa e imoral de favores políticos obtidos de candidatos de conduta legal duvidosa. E é por isso que votarei nele, nessas próximas eleições, por causa de seu passado limpo, de suas ideias de esquerda autêntica e pelo fato de suas propostas terem o condão de combater o maior dos problemas da cidade, a dita privatização da política e a exclusão do povo de sua própria democracia; veja que considerei todos os passos para um bom voto, os problemas do municipio, suas necessidades, a ponderação dos candidatos e a escolha da pessoa de um. Superado isto, o céu é o limite. (Abaixo, propaganda partidária que elucida um programa de governo tradicional, regado a populismo de direita e projetos tímidos).

 
É por isso que, apesar das contraposições ideológicas, vou preferir votar em ideias, que se materializam em homens dignos de devolver ao povo as rédeas de seu destino. Rejeito políticos miraculosos, que se apresentam como super-homens facilitadores das vidas de seus rebanhos eleitorais, mas aprovo homens de carne e osso que permitirão que mais pessoas como ele tenham acesso ao poder que lhes é de direito. Garanhuns pode superar seus problemas e realizar todos seus sonhos, seja de ser uma cidade desenvolvida e socialmente ajustada, seja de ser uma potência local da indústria, agricultura e educação. Assim, espero que essa pequena reflexão tenha introjetado mais ânimo em seus poucos eleitores e lhes tenha aguçado o  até então mórbido ânimo para a política. Porque a esperança supera vidas e caras, perpetua-se por séculos e se traduz na coragem de homens e mulheres que, contra tudo, "ousam ousar'', ousam pensar diferente, ousam querer mais do que é enfiado goela abaixo pelos poderosos. Dia 7 de outubro, será o nosso dia de ousar e de, sim, revolucionar. O que me diz?

*Obs. : as imagens apresentadas foram coletadas, via Google, de blogs regionais, como o de Roberto Almeida, da Agenda Garanhuns e outros.