domingo, 29 de julho de 2012

Um retrato do Brasil: o reinado dos seis gigantes


Sem dúvida, uma tarefa colossal para qualquer cidadão é conhecer o país em que vive e o mundo no qual se insere. Colossal, por que sua visão de mundo é bombardeada e condicionada por uma aberrante chuva ácida de informações selecionadas e altamente parciais, sendo extremamente sofrível formar uma própria visão dos fatos. Assim, vamos expor aqui um retrato do Brasil, inserido na assustadora lógica do capitalismo financeiro, norteados por uma análise política de cunho materialista. E a ponta do iceberg pela qual iniciaremos essa investigação é a política, em suas relações intricadas com a economia nacional. 

1- Coalizões partidárias e empreiteiras: a simbiose dos dois gigantes

Cada vez mais, os rumos da política nacional impressionam pelo nível de pragmatismo (ao lado, Lula e José Roberto Arruda) que atingem. Mas se trata de praticidade não na defesa dos interesses públicos; a política brasileira se mostra como uma projeção, na esfera pública, dos interesses privados das mais diversas matizes, usando como meio de satisfação de suas pretensões os recursos econômicos gerados pelo esforço coletivo. E, nessa "apropriação indébita'', estruturam um verdadeiro sistema nem-tão-secreto-assim de complexas alianças para locupletar-se com as gordas riquezas do país.

Tudo começa, apesar do que diz a mídia, nos corruptores, não nos corruptos. As grandes empresas que financiam as campanhas milionárias (as mais caras do mundo) prefeitos, governadores, deputados e senadores acabam conseguindo, por intermédio de seus eleitos, os melhores contratos com o Governo. Só a empreiteira Delta, hoje declarada inidônea, abocanhou mais de 80% das obras do PAC. Os dois principais efeitos dessa perversa aliança são o permanente monopólio dessas empresas nos contratos com a Administração Pública, o que resulta na péssima qualidade da prestação dos serviços prestados, que permanentemente precisam ser reparados e, principalmente, a seleção artificial dos políticos, já que apenas os "escolhidos'' pelas grandes empresas terão maiores chances de ganhar eleições. O Governo não é incompetente, mas é somente comprometido com essas empresas... assim, temos nossos dois primeiros gigantes, as oligarquias e empreiteiras, que não subsistem ao não ser juntas.

Por outro lado, o modelo de governabilidade vigente no Brasil é a próxima peça do quebra-cabeças. De um lado, o poder Executivo é hipertrofiado pelo grande número de poderes que conserva, a partir gestão da Administração pública e do Tesouro, que são usados como moeda de troca, com o Poder Legislativo, para a formação de grandes alianças partidárias que garantam esmagadoras maiorias governistas no Parlamento. Distribuem-se cargos à partidos e liberam-se emendas parlamentares ao Orçamento público mediante o integral apoio e complacência de deputados e senadores em se reduzirem a meros apreciadores de Medidas  Provisórias do Executivo. Por outro lado, os mesmos parlamentares agenciam contratos, por meio de seus indicados políticos a cargos públicos essenciais (ministérios, presidência de estatais, secretarias diversas), com as empresas que lhes financiam ou que lhes garantam os famosos "10%'' de propina, como ficou comum dizer em Brasília. 


Agem, também, destinando recursos do Orçamento, via emendas ao mesmo, para suas bases eleitorais, que, aplicados pelos Municípios, acabam nos bolsos das empreiteiras, que executam as obras previstas. Assim, desde os municípios, passando pelos governos estaduais até Brasília, coalizões nacionais são formadas, visando assegurar que Governos federais, no uso de seus enormes poderes, possam distribuir benesses a seus aliados que, na sequência, repassam os mimos a seus financiadores; é um esquema nacional para arrecadar recursos da sociedade e empregá-los, desde sua cidade, que fica com parte do bolo, aos estados e União, para o benefício pessoal de políticos e empresas.

Qual, então, o interesse dos chefes do Executivo em usar seus poderes, que nas mãos erradas poderiam prejudicar o sistema, em formar tão grotescas alianças? Simples: com maioria no Parlamento e distribuindo o maior número de benesses o possível, pode se perpetuar no poder, já que a tal base governista também age, em suas bases eleitorais, para garantir a vitória do Partido governante do Planalto, nas eleições quadrienais. O verdadeiro objetivo de quem chega à presidência da República, para emular Maquiavel, é permanecer no poder, a qualquer custo, distribuindo benesses aos aliados e a si mesmo. Daí o fato de que os governos federais articularem as campanhas políticas desde os municípios. Os "programas'' de governo e ideologias partidárias são meras plataformas metafísicas para iludir o eleitor e buscar alguma legitimação, que não a simples maioria absoluta dos votos válidos, para o exercício do poder.

Por último, temos uma "esquerda'' política que reduziu os principais debates do país ao "legado e defesa do governo Lula'' e pautas políticas estéreis, como a legalização do aborto, da união gay ou descriminalização do uso de maconha. Hoje, ser de esquerda no país, quando não se tratar de socialistas alienados que parecem receber ordens de cúpulas burocratizadas e sediadas em "Moscou'', resume-se simplesmente na defesa de tais ideias. Não há a proposta da construção de um projeto nacional de país, pouco se discute sobre soberania e muito menos sobre a realidade da economia. O grande defeito dessa esquerda é sujeitar-se às ordens de caciques e líderes, muitos deles medíocres, que manobram seus comandados para alcançar seus próprios objetivos; é um defeito genético da organização dos partidos oriundos de sua inspiração em agrupamentos políticos de cunho marxista, caracterizados por seu extremo centralismo. Hoje, são atores coadjuvantes a serviço do capital, ou mesmo motivos de chacota por sua imensa e persistente ingenuidade.

2- O grande capital industrial e o monopólio do mercado interno

O sistema toma forma, ademais, com a participação de outros gigantes, atores do jogo político. As grandes empresas e indústrias do país são beneficiadas por isenções fiscais e previdenciárias, fato pelo qual monopolizam, em diversas áreas, o mercado interno brasileiro, ou, quando muito, fecham-se em pequenos oligopólios, fatiando o país em zonas de influência. Com a crise, o governo destinou mais de R$ 112 bilhões para essas empresas, na forma de benefícios fiscais e empréstimos a juros subsidiados através do BNDES, em um esforço para evitar a recessão (segundo diz oficialmente), mas com o objetivo real de manter as altas taxas de lucros dessas indústrias. Taxas que serão remetidas ao exterior sob a forma da Remessa ordinária de lucros ao exterior (o valor bruto das isenções fiscais chega a R$ 54 bilhões, enquanto o lucro remetido, R$ 37 bilhões, ou seja, o valor que o governo abriu mão de arrecadar não ficou no país sendo investido, mas reforçou o caixa das matrizes) já que essas empresas são, em grande parte, estrangeiras e possuem suas matrizes foram do país. É o caso da pequena "liga'' de indústrias de automóveis, que receberam R$ 20 bilhões em isenções do governo, sem gerar um único emprego a mais. 


O problema dessa desnacionalização é tão grave que nossas indústrias compram seus componentes de fabricação a preços altíssimos das matrizes e, aqui, formando o produto, repassam o custo artificialmente inflado ao consumidor. Por isso, temos os mais caros eletrodomésticos e automóveis do planeta, que acabam saindo por até o triplo do preço de outros países- isso, em um cenário onde o custo de produção das empresas monopolistas são reduzidas a zero pelas benesses do governo. Assim, acabam arrancando grandes lucros no Brasil, onde o consumidor se endivida para adquirir bens artificialmente caros, que são repassados ao exterior por meio da compra de componentes.

Desnecessário dizer que nenhum Governo resistiria, no poder, sem o apoio dessas grandes indústrias


Essas empresas, que dominam o setor de indústrias de transformação, junto com umas poucas nacionais (produtoras de alimentos e material de construção civil, de baixa tecnologia) somente sobrevivem a partir de tais benesses do Estado. Não investem em inovação e pesquisa, já que importam seus componentes básicos das matrizes, onde realmente é feita a pesquisa tecnológica. Ou seja, o Brasil não possui indústrias nacionais em áreas importantes como automóveis, produção de microchips, eletrodomésticos, engenharia genética, que é motivo real pelo nosso baixo nível de inovação científica. Temos de importar, anualmente, U$ 100 bilhões em tecnologia, isso, porque nossa economia "industrializada'' é totalmente desnacionalizada e monopolizada por empresas estrangeiras.


O custo de produção no Brasil é mantido alto (para os não-monopolistas), pelas parcerias entre essas empresas e o governo, para inibir a competição e garantir o monopólio das transnacionais no país. A economia é reduzida à ineficiência, e com o total beneplácito do Estado. Por outro lado, é comum que tais indústrias, ao invés de realizarem investimentos produtivos, peguem empréstimos, no exterior, a juros baixos (já que os recursos para investimento produtivo são garantidos pelo BNDES...) de menos de 1% e comprem títulos da Dívida Pública, carregados a mais de 8% de taxa de juros, lucrando na diferença das taxas de juros e com a decorrente valorização do câmbio. Os bancos adquirem esses títulos a vista e os repassam, gerando uma verdadeira especulação sobre os títulos da dívida pública, geralmente acompanhada de excessiva liquidez no mercado (já que há sempre alguém vendendo o título), que propicia riscos inflacionários. Assim, de tempos em tempos, o governo tem de vender mais títulos remunerados a uma taxa de juros mais alta, para retirar liquidez (dinheiro, literalmente) do mercado para diminuir o consumo e derrubar a inflação. Juros maiores fazem nossas empresas e bancos continuarem com a mau-prática de continuar a especular com os títulos públicos, lucrando ainda mais com juros maiores, além de valorizar o câmbio, que destrói as pequenas e médias empresas, já que não tem condições de competir com produtos importados, mais baratos por causa do câmbio. As grandes indústrias resistem bem- graças aos incentivos do Governo- e, por outro lado, são em grande parte controladas pelos mesmos grandes bancos que também detêm a maioria das ações das empresas que exportam para o Brasil e destroem nosso empresariado nacional. Isso ajuda a monopolizar ainda mais o mercado brasileiro e a remeter mais recursos ao exterior, como pagamento pelas importações, aos mesmos controladores das empresas que monopolizam nossa produção industrial!

Por outro lado, as benesses do governo acabaram atraindo o maior investimento estrangeiro da história em nossa economia, que chegou a mais de R$ 65 bilhões no último ano- cobrindo o déficit da balança de pagamentos, que chegou aos R$ 58 bilhões.

Desnecessário dizer que essas empresas também financiam seus políticos (aqui, o PT e o PSDB, tão aparentemente opostos, são financiados por elas...) e, mediante as obras de infraestrutura que o Governo realiza por intermédio das empreiteiras, consegue aumentar a competitividade dos seus produtos e obter toda uma infraestrutura necessária à produção industrial. Ou seja, empreiteiras, políticos e grande capital internacional se dão muito bem.

Quem custeia a farra é o brasileiro comum, por meio da carga tributária nominal de 37% do PIB, mas que abocanha 45% da renda dos mais pobres e classe média (ou seja, a carga tributária é draconiana somente para os trabalhadores e pequenos empresários). Ou seja, são eles quem pagam a conta... os ricos pagam menos de 16% de sua renda em tributos, já que estes só cobram menos de 4% do patrimônio e renda destes- a maior parte, diga-se, está em paraísos fiscais, e o Brasil é o quarto maior lavador de dinheiro do mundo, com impressionantes U$ 1,5 trilhão de recursos postos longe do fisco. E, como o Estado continua a precisar de dinheiro, aumenta a carga de tributos sobre o consumo, afetando os mais humildes, que realmente e unicamente consomem no país. Não bastassem os tributos, ainda compram produtos industrializados das grandes empresas, que remetem o lucro para o exterior. É uma dupla espoliação.

Conclusão: você, eu e mais de 170 milhões de brasileiros estudamos, consumimos e trabalhamos para custear os lucros de empreiteiras, que compram políticos para fazer contratos com o Governo, que por sua vez realiza obras de infraestrutura para grandes empresas estrangeiras lucrarem com a fartura de recursos naturais, beneficiadas por isenções fiscais que garantem seu monopólio sobre o mercado brasileiro e com a especulação cambial e monetária. Mas outros grandes atores deve entrar neste teatro dos vampiros para que se complete a peça.

3- A relação com os bancos: especulação e lucros astronômicos

O Governo, não obstante seu impressionante volume de receitas arrancados da sociedade e que somam mais de R$ 2 trilhões, vive em déficits. Ou seja, gasta demais, e, para cobrir a diferença, tem de pedir emprestado... aos bancos. Atualmente, a dívida pública consolidada brasileira, da União, Estados e Municípios, passa dos 52% do PIB (mais de R$ 2,2 trilhões), e, apesar da queda dos juros básicos, ao qual 1/3 da dívida está atrelada, ainda pagamos mais de R$ 600 bilhões em juros aos bancos. Ou seja, o governo tributa ganhos reais da economia e remunera agentes financeiros com eles (com 40% do orçamento da União), que, por sua vez, emprestam mais ao governo para que este continue a beneficiar grandes empresas e empreiteiras nacionais. Ainda mais, os tributos encarecem os já superfaturados produtos industrializados das transnacionais, e uma parte deles vai justamente para elas, como benefícios fiscais. 

Por outro lado, o brasileiro consome via endividamento. Ultimamente, os bancos reduziram um pouco as taxas de juros, por pressão do governo, mas arrancam lucros históricos de mais de R$ 40 bilhões, os maiores do país, porque o número de famílias que usam seus serviços é maior, compensando e ainda sendo mais viável que a perda acarretada por uma tímida redução nos juros; ou seja, houve uma grande expansão do crédito, hoje em 50% do PIB. Hoje, 67% das famílias devem mais de 50% do PIB por causa da farra dos cartões de crédito, no país que ostenta a terceira maior taxa de juros do mundo e a maior taxa para crédito dirigido ao consumidor- mais de 40%. Enquanto isso, o spread (diferença entre taxa de juros que os bancos pagam e que cobram) bancário brasileiro é o maior do mundo, de mais de 35 pontos, enquanto a média mundial é de menos de 10. Ou seja, o denominador comum no endividamento do Governo e das famílias, são os bancos: os consumidores pagam, e os bancos emprestam ao Governo, obtendo de ambos altas taxas de juros. A maior parcela da dívida do país, entretanto, é deles: devem mais de 60% do PIB, entre si. Ou seja, especulam com o dinheiro arrancado dos endividados consumidores e do Governo em seus seletos clubes na bolsa de valores. Também gostam de realizar arriscadas operações cambiais que resultam em uma venda insana de títulos do governo, riscos inflacionários, aumento dos juros e, consequentemente, mais rentabilidade para a banca, como já dito.

Os lucros bancários são remetidos para paraísos fiscais, longe da tributação.


4- O poder do latifúndio e o brilho do Agronegócio

Paralelamente, encaixando-se nesse complexo sistema, estão talvez os mais velhos atores políticos e agentes econômicos do país. São os grandes latifundiários que, beneficiados pela revolução verde e dos investimentos em tecnologia agrícola feitos pelo Governo (através da EMBRAPA), alcançaram níveis impressionantes de produtividade. Hoje, geram mais de 40% do saldo positivo da balança comercial e, junto aos produtores de ferro bruto, respondem por mais de 50% das exportações do pais, na forma de soja, açucar, carne bovina, frutas etc. grande parte direcionada à China, EUA e União Europeia (as mesmas pátrias das grandes empresas industriais que aqui reinam...), beneficiadas pelo aumento de preço das commodities causada pelo surto de demanda interminável da China. Produtos de baixo valor agregado, que geram poucos empregos e mantêm a renda gerada concentrada nas mãos dos grandes empresários.


Essa renda concentrada é bem útil aos fazendeiros para financiar o grupo de políticos mais poderoso do país, a chamada "UDR", ou União "Democrática'' Ruralista, que soma mais de 300 deputados em Brasília. A principal missão deles é garantir recursos para investimentos públicos em logistica, para dar mais competitividade aos produtos brasileiros, além da concessão de benefícios fiscais e empréstimos públicos regados a baixíssimas taxas de juros. Ultimamente, conseguiram substituir o Código Florestal antigo por um novo, que permite zerar todas as áreas de preservação ecológicas permanentes, bem como inúmeros outros "cafunés'', como a anistia por dívidas bilionárias pela devastação ambiental causada para permitir o grande boom do agronegócio que vivemos hoje. Essas devastações ambientais, através das famosas queimadas, são responsáveis por 75% das emissões de CO2 do país- muito mais que carros ou indústrias.


Nossos bons fazendeiros, através de modernos recursos tecnológicos, mas que geram poucos empregos ou mesmo riqueza (menos de 10% do PIB), abastecem a fome de matérias-primas dos grandes centros industriais. Em troca, os brasileiros comuns, que trabalham, em mais de 70% dos casos, no setor de serviços, sendo 88% dos empregos gerados por pequenas e médias empresas, consomem os produtos das grandes transnacionais- ou seja, trabalham para consumir e essas mesmas divisas, remetidas ao exterior pelas filiais das grandes empresas, acabam servindo para adquirir matéria-prima produzida no país. A riqueza gerada pelo brasileiro volta ao país, em pequena escala, mas concentra-se nas mãos de menos de 1% dos brasileiros, que detêm mais da metade das terras cultiváveis.


(Acima, dados sobre a Balança Comercial, de Pagamentos e o grau de investimento na economia)
E, claro, quem possibilita e manobra essas operações entre latifúndio e países estrangeiros são os bancos, que especulam com o preço das commodities, deixados artificialmente altos, já que a demanda por alimentos é menos elástica o possível (ou seja, mesmo com aumentos seguidos de preços sua demanda não diminui). Assim, ganham mais através das taxas de serviços sobre as transações financeiras realizadas. O resultado nefasto dessa política é o aumento do preço de bens básicos em todo o mundo, o que, em dois anos, aumentou em mais de 300 milhões o número de pessoas com grave risco alimentar- ou seja, fome. Hoje, são mais de 1,2 bilhão, concentrados na África e Ásia, onde mercados consumidores de alto poder aquisitivo vivem farras orgíaticas de consumo, principalmente de produtos chineses, enquanto a população morre de fome. Lá, diversos governos foram derrubados ou estão sob risco de serem derrubados- como o do Egito, Líbia, Costa do Marfim e Zimbabué. A inflação dos preços foi o fogo originário que gerou a chamada "Revolta Árabe''. Interessante como as coisas se encaixam, não?



5- A eterna mentira que a gente vê por aqui

O último grande ator dessa peça teatral de terror é uma velha senhora que, dizendo-se livre, é na verdade uma deslumbrante prostituta. Sim, a rainha das mentes brasileiras, a toda poderosa mídia, concentrada nas mãos de cinco famílias sudestinas, é responsável por fazer os brasileiros acreditarem que vivem em um país diferente do real. Suas novelas, filmes, telejornais e diários impressos constroem uma versão oficial dos fatos, muitas vezes distorcendo-os ao extremo ou simplesmente selecionando o que a população deve ou não saber. Levam 190 milhões de pessoas a crerem que os principais problemas do país são a falta de segurança pública e a corrupção dos políticos, mas mantendo os debates em um nível tão baixo que acaba atrofiando o senso crítico da sociedade. A mídia também difunde produtos industrializados e propagandas de bancos, formando um exército de consumidores prontos a serem alegremente espoliados. Ainda mais, a mídia propicia verdadeiros circos que, apelando à baixaria, distraem a população com inutilidades, sejam jogos de Futebol, novelas, perseguições alucinadas de criminosos... são e devem ser, segundo o que quer a mídia, os principais assuntos a serem discutidos pelos endividados brasileiros.

Por outro lado, nossos veículos de informação vendem espaços de propaganda ao Governo, que chega a gastar mais em publicidade do que em investimentos em ciência e tecnologia, reservando mais de R$ 2 bilhões para veicular anúncios mentirosos sobre os êxitos dos programas governamentais. Só a Revista Veja recebe do Governo Federal R$ 1 milhão por edição, para propagandear as ações do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobrás e Governo Federal. É a crônica do "Estado-anunciante''. Oposição entre governo e mídia? Onde? Não aqui no Brasil. Claro, o Governo faz de tudo para garantir o monopólio das cinco famílias mafiosas sobre a mídia nacional, não regulando o setor. 

6- As conclusões: o Brasil privatizado

Concluindo: políticos são financiados por empreiteiras e indústrias, e vendem seu apoio ao majestático e imperial Poder Executivo, que, em troca, distribui uma pequena parcela da máquina pública ao "homem público'', garantindo a formação de coligações nacionais para garantir a perpetuação dos grupos dominantes no poder. Por outro lado, o mesmo Governo mantêm benefícios fiscais e empréstimos subsidiados às grandes empresas, que não investem em inovação, importando componentes a preços superfaturados e empurrando ao consumidor produtos super-inflacionados, já que monopolizam o mercado. Ainda, junto aos bancos, especulam com o câmbio e títulos do governo, forçando altas dos juros e do câmbio cíclicas, que garantem o monopólio do mercado e altas taxas de spread aos bancos (ao lado, a tabela dos setores que mais arrancaram lucros da economia). A carga tributária é mantida alta, principalmente para os mais pobres e classe média, já que estes tem de consumir, e alguém precisa pagar os gastos do Governo. Nossas elites remetem dinheiro aos paraísos fiscais ou os imobilizam sob a forma de patrimônio. 

E, por fim, o agronegócio obtêm fabulosos lucros graças à parceria com o Governo e o Capital externo, e, por meio dos bancos internacionais, vê, via especulação, os preços das commodities inflarem artificialmente, o que aumenta a fome no mundo e desestabiliza regimes políticos de países ricos em recursos naturais, o que favorece golpes de Estado financiados pelos EUA ou UE, e mesmo China. Assim, o país se convertem em uma potência exportadora de produtos primários, custeados, em última instância, com as riquezas geradas pelo povo e apropriadas pelo governo e pelos bancos, estes através de suas altas taxas de juros. O que dizer que, assim, conclui-se que a maior parte de nossas riquezas é mandada para fora do país, e a que fica é distribuída entre agronegócio, bancos e oligarquias políticas, já que as indústrias não são nacionais, em grande parte? A mídia, por fim, faz o gracioso trabalho de dizer que está tudo bem; afinal, o futebol, novelas, sexo e trivialidades importam mais do que a "corrupta'' e "irrecuperável'' política do país... assim, o jargão "todo político é corrupto'' e os escândalos que vemos todos os dias sobre tal prática não chegam nem perto do que acontece de verdade no país. No fim, a corrupção é só um efeito do sistema e meio de ligação entre governo e grandes poderes econômicos. Assim, toda a riqueza produzida no Brasil é privatizada nas mãos dos grandes agentes econômicos e das oligarquias políticas. São seis gigantes que jogam o terrível jogo da exploração econômica, manipulando milhões de pequenos brasileiros com o único objetivo de obterem as maiores vitórias possíveis, traduzidas em gordos lucros concentrados em suas mãos.

Concluo que esse país é dominado por várias quadrilhas. Criminosos, que, fechados em pequenos, assaltam o país, e ainda mandam a maior parte das riquezas para o exterior, como sempre ocorreu desde o "Grito do Ipiranga''. O único ator político que poderia impedir a continuidade desse triste esquema seria o Estado, que, privatizado e convertido em gerente dos interesses econômicos e pessoais predominantes no país, está  amarrado. 

Assim, vivemos em uma terra de faz de conta; faz-se de conta que os assuntos mais importantes para a nação são mera trivialidades; faz-se de conta de que o país é a terra da felicidade tropical, das belas mulheres e da flacidez moral, onde "não existe pecado''; faz-se de conta, a cada dois anos, que a população escolhe seus governantes, ou que, nos últimos anos, melhorou de vida. Vive-se uma falsa imagem de país que está modernizando-se, quando na verdade continua comandado pelas forças mais reacionárias na sociedade. E, apesar de seu imenso tamanho, os brasileiros fingem não saber que os tentáculos de seis gigantes estão dispostos sob todo o território nacional, sugado todos os recursos da nação, concentrando-os no topo da pirâmide social ou remetendo-os ao exterior. Um país de hipócritas, falsários e atores de comédias baratas, que se divertem ao driblar as leis que são aplicadas com todo o rigor aos cidadãos comuns.

É um país dominado pelos piores monstros que se pode imaginar, seis aberrações que, não contentes em explorar os mais fracos, fazem-nos ainda acreditarem que devem ser felizes em trabalhar até a morte para enriquecer seus mestres.  São esses monstros responsáveis por milhares de mortes nos hospitais superlotados, nas ruas dominadas pelo crime organizado e pela condenação, sem chance de apelação, de milhões de brasileiros à uma vida de labuta diária, regada à tímidos salários, tendo como únicas e dopantes distrações um conteúdo midiático e cultural de nível constrangedor. E, não, não há um príncipe de armadura brilhante ou um líder messiânico que possa salvar o país... nenhum caudilho iluminado que, sozinho, consiga vencer esses seis gigantes. Aqueles que tentaram fracassaram terrivelmente, e seus corpos estão nos portões, como aviso. Bem-vindos, esse é o nosso reino das trevas.

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