Apesar de seu caráter quase excepcional, o sobrenatural está presente diariamente em nossas vidas. Séries como "Sobrenatural'' e películas memoráveis como "O Exorcista'' e "A Bruxa de Blair'' já fazem parte da vida de muitos cinéfilos e curiosos, ainda causando fisgadas na barriga e arrepios de pavor nos mais sensíveis. Todavia, a ideologia materialista da sociedade de consumo difunde a ideia de que apenas aquilo que pode ser tocado e visto, ou melhor, dominado pelos sentidos cognitivos do homem, é real, mas utilizando, paradoxalmente, a velha fascinação do homem pelo sobrenatural como meios de difusão de produtos e serviços. O marketing, sob esse enfoque, é a única utilidade aparente do Sobrenatural, visto como uma mera sombra do passado, um simples aspecto do milenar misticismo que acompanha a humanidade desde seus primórdios, obstruído pelas luzes da razão e da ciência. Mas cabe indagar acerca de um fenômeno curioso: embora a "ideologia oficial'' da sociedade capitalista veja o Oculto como abstração amortizante ou uma amostra do misticismo anacrônico, vêm-se desenvolvendo um grande movimento de oposição a tais visões materialistas, reafirmando a ontologia do Sobrenatural. Segundo os adeptos dessas correntes de pensamento exóticas, lobisomens, vampiros, espíritos e Companhia Ltda. andam entre os desavisados humanos; aqui, cabe investigar: o Sobrenatural é real? Se o for, até que ponto?
Vamos começar nossa análise por um ingrediente fundamental: o medo.
Dizem os antropólogos que o medo é um sentimento vital para a humanidade. Foi o medo da solidão, do escuro e da fome que levou os seres humanos a se unir para enfrentar o hostil ambiente primitivo; contudo, a escuridão, a morte e os inexplicáveis fenômenos da natureza, em algum momento, começaram a ser atribuídos a seres sobrenaturais; em uma palavra, todos os horrores temidos pela humanidade (como as virtudes, ciclos naturais, fenômenos naturais benéficos) foram encarnados em figuras ou entidades, zoomórficas (o que foi mais comum) ou antropomórficas. Surgiram, assim, deuses, demônios e variados monstros, todos entrelaçando-se em mitos. O mito, uma palavra fundamental para a antropologia, é uma narrativa antiga que versa sobre os princípios da sociedade- ele responde, através de elementos sobrenaturais, ao velho enigma do "quem somos? De onde viemos?'', servindo para dar alguma estabilidade axiológica às nascentes sociedades. E o mito do sobrenatural- de que haveria uma ordem superior ou supra física, não sujeita às simples leis na natureza- é uma manifestação universal da humanidade, caraterizada pela ontologização do medo, encarnado na figura de criaturas sobrehumanas. Cada uma delas representava um aspecto do medo (por exemplo, na cultura grega, a Medusa representa as potencialidades malignas da mulher; o minotauro, o perigo das forças silvestres etc) a perpetuar esses pequenos mitos sobreviventes.
Todavia, apesar desse universalismo, o mito do sobrenatural decaiu nos últimos séculos, após dezenas de milhares de anos de hegemonia.
De início, cabe explicar o porque dessa tendência de virada radical de pensamento. Basicamente, o paradigma filosófico da modernidade pressupunha ser apenas os objetos perceptíveis pelos sentidos humanos e por eles interpretados, segundo o método científico, reais. Assim, os fenômenos da natureza são enquadrados em conceitos científicos e explicados segundo leis específicas, provando ao homem de que nada de místico há em sua ocorrência; o próprio homem passa a ser explicado segundo o método científico, e as teorias da evolução, que mostram ser o meio-ambiente e os seres vivos resultados da gradual seleção natural, desterram de vez qualquer explicação sobrenatural acerca da condição humana, associadas aos períodos obscurantistas da humanidade, marcados pela fome, guerras e caos. Trata-se da racionalização do mundo, onde as brumas do Ocultismo são varridas pelo pretensamente infalível método cartesiano-baconiano, junto com o absolutismo, a moral feudalista e as demais crendices primitivas. O mundo passa a ser totalmente explicável, pela razão, nele se incluindo a personalidade humana, cujos medos e fobias são associadas a causas materiais e passam a ser objetos de tratamentos médicos racionais. O sobrenatural passa a ser identificada com a crendice e o misticismo de culturas pouco avançadas filosoficamente, já que todas as sociedades guiariam-se, cada vez mais, através da razão, para organizações coletivas parecidas com a sociedade moderna (e europeia, diga-se, numa filosofia da história progressista e etnocentrista).
Contudo, ocorreu uma grande falha no processo de racionalização do mundo. Descobriu-se, gradualmente, que certos objetos são totalmente incognoscíveis ao homem (os núcleos atômicos; o cosmo além do alcance dos telescópios; a história primitiva da humanidade), e, por outro lado, a suposta ordem a priori da natureza é mera ficção humana, ou seja, o próprio pesquisador cria a ordem da realidade, e mesmo o objeto de estudo! Admitiu-se que o mundo, tal como ele é, não é totalmente acessível ao homem; as explicações fundadas na lógica e na razão foram vistas como meras possibilidades entre as muitas possíveis, já que pergunta-se o seguinte: quem seleciona os meios pelos quais distingue-se o certo do errado, e como o faz? A epistemologia adotada é, então, apenas uma dentre as demais.
Na verdade, o próprio homem capta parte da realidade, selecionando as mais adequadas, dando-lhe sentido e interpretando-as de forma altamente subjetiva (engendrando "imagens'' ou figurações da realidade), sendo lícito dizer que existiria um mundo para cada homem; as necessidades da vivências social, por sua vez, impõem visões majoritárias (imagens de segunda ordem ou figurações coletivas) sobre aspectos básicos da realidade (o Direito, a Moral e a Política, centradas em Deus, no Estado e na coletividade, enquanto figurações), que reprimem as interpretações nocivas ao sistema social. Esse, por sua vez, é o dilema da pós-modernidade, onde há um mundo para cada homem (e um direito, uma moral, uma política...), permanentemente vigiado por um mecanismo repressor que impõe um "mínimo-ético'' ao sujeito. Esse mínimo ético é a própria Lei do Mercado...
Por outro lado, a relativização da moral europeia destruiu a crença de que sua sociedade racional seria a dona da verdade. Com o pós-modernismo, passou-se a aceitar as explicações de mundo das outras sociedades (inclusive as mais primitivas) como de igual valor às sofisticadas visões positivistas modernas.
Sem mais divagações, essa redução do mundo à subjetividade de cada um, além da impossibilidade de captar o mundo como ele é (ser ou noumeno), ao lado da consideração de elementos irracionais impossíveis de serem explicados, ao menos no momento (oriundos da ausência de um sentido a priori da história ou da natureza...) são os pressupostos filosóficos que possibilitaram o retorno do Sobrenatural como um tema de especulação relativamente sério para a maioria das pessoas. O segundo pilar desse estranho retorno foi fornecido pelo próprio sistema capitalista, o filho da razão cientificista: a globalização cultural. Por esta, as produções culturais dos países hegemônicos são difundias e transformadas em manias, estereótipos a serem seguidos pelos que ambicionam serem aceitos pela sociedade da exclusão. Assim, filmes, livros e músicas (até novelas...) são os principais difusores do Sobrenatural no mundo pós-moderno.
Não se trata, porém, do Ocultismo o principal beneficiado por essa conjugação de fatores. Na verdade, o trabalho de marketing capitalista utiliza os velhos modelos de fantasia em geral (histórias medievais-fantásticas, por exemplo, ou relacionados aos ditos "super-herois'') como carro-chefe dessa "cultura enlatada''. Harry Potter, Senhor dos Aneis, Guerra de Tronos, Narnia, Vingadores, Avatar... são campeões de bilheteria ao redor de mundo, e arrecadam ainda mais com os produtos derivados (bonecos, livros, trololós diversos...). O apelo ao terror e ao sobrenatural é invocado com os mesmos objetivos.
Há quem diga que os modismos criados pelo mundo mágico da globalização são meras cartas de distração. São ótimos meios para despolitizar a juventude e encerrar suas forças cognitivas em especulações sobre mundos irreais, enquanto o verdadeiro mundo padece na pobreza, ignorância e exploração que são as motivações das próprias fantasias. Trata-se de um verdadeiro vale-tudo, com o objetivo específico de alienar a juventude e, por meio dessas abstrações "fantásticas'', divulgar os produtos e modo de vida capitalista pós-moderno.
Eis o porque do retorno do Oculto. O mundo perdeu sua razão universal, seu método científico que garantiria a não-existência de horrores além da imaginação nas sombras da realidade, ao passo em que repopularizaram-se velhos mitos sobrenaturais. Não mais como explicações sobre a realidade ou corporificações do medo, que poderiam ser destruídas, contidas ou afastadas por orações, sacrifícios, objetos. Mas sim como amplas distrações e poderosos instrumentos de Marketing.
As grandes empresas não tem, assim, qualquer objeto cultural em reviver o Sobrenatural e o Oculto. Mas sua atuação vem causando consequências imprevisíveis: por todo o mundo, grupos de pessoas vem realmente acreditando no que se divulga pela mídia sobre o sobrenatural. Ou seja: recomeçam a crer em misticismos, magia, monstros. Alguns se excluem em seitas fechadas (e até mesmo chegam a matar, em seus jogos repulsivos, como fica notório de tempos em tempos), enlouquecem ou simplesmente isolam-se do mundo exterior para viver suas fantasias. São movimentos antes irrelevantes, mas que vem alcançando um grau preocupante de expansão.
Cada vez mais, jovens inseguros e depressivos estão se tornando maioria: por viverem mais em busca de fantasias sobrenaturais, acabam perdendo lentamente o contato com o mundo exterior e seus níveis de socialização decaem. O verdadeiro horror da pós-modernidade é uma solidão avassaladora que toma conta daqueles que insistem em correr atrás de abstrações irreais.
Em suma, de mitos cuja função consistia em explicar a realidade e aprisionar o medo em módulos abstratos capazes de serem dominados e destruídos, o Sobrenatural e o Oculto tornam-se verdadeiros objetos de adoração, graças à veiculação do sistema capitalista e à queda do paradigma filosófico da modernidade. Ora, se certas coisas não são explicáveis ou se o objeto de estudo é indescritível em sua essência, explicar o mundo (o inexplicável pela razão) por elementos sobrenaturais e fantásticos não parece ser tão ridículo quanto era no século XIX e inícios do século XX, e, mais que isso, tornam-se uma febre. Se todos os discursos sobre a realidade (inclusive o Sobrenatural) tem o mesmo valor, e se cada homem pós-moderno pode escolher no que acreditar (excetuando-se a absoluta Lei do Mercado...), vinculando-se a missiva propaganda e modismos com relação à fantasias infanto-juvenis, temos o cenário perfeito para o retorno do Sobrenatural. Acompanhado de todos os efeitos colaterais que já citamos.
Que fazer diante de tal cenário? Enquanto os nobres acadêmicos e os demais cidadãos se empenharem em viver nesse mito em de que cada homem pode se auto-determinar e o resto de mundo que se dane (exceto a Lei do Mercado...), onde os mais fortes acabam dominando os fracos mesmo de forma mental (que diria Huxley disso?), só nos resta conscientizar o máximo de pessoas o possível e, cada vez mais, aprofundar nossos laços sociais com a família, amigos e organizações. Só assim superar-se-á os devastadores efeitos nocivos do retorno do Sobrenatural e o verdadeiro monstro que atormenta bilhões de seres humanos, reunindo a vampírica fome insaciável por dinheiro e um grau de profanismo blasfematório digno dos demônios: o capitalismo mundial, a verdadeira mente por trás do boom de filmes, séries, livros sobre o Oculto. Um monstro que vem tornando cidadãos em submissos zumbis: como na magistral cena do filme "O Exorcista'', um dos poucos filmes sobre o Sobrenatural que possui algo mais do que efeitos especiais e medo barato, aqueles que leram este post até aqui estão diante de uma mansão sombria, onde, escondendo-se sob a pele de uma doce garotinha, está um mal milenar pronto para destruir tudo ao redor, jogando as pessoas umas contra as outras e locupletando-se com o sofrimento delas. Hora de ajeitar o chapéu, erguer os olhos e preparar nossas maiores armas para o embate contra a Besta: a conscientização, a coragem, a propagação da verdade e a fé na união e no amor (que, para mim, chama-se Deus). O verdadeiro mal está muito além da telinha, manipulando-nos com cordas de marionete!
Vamos começar nossa análise por um ingrediente fundamental: o medo.
Dizem os antropólogos que o medo é um sentimento vital para a humanidade. Foi o medo da solidão, do escuro e da fome que levou os seres humanos a se unir para enfrentar o hostil ambiente primitivo; contudo, a escuridão, a morte e os inexplicáveis fenômenos da natureza, em algum momento, começaram a ser atribuídos a seres sobrenaturais; em uma palavra, todos os horrores temidos pela humanidade (como as virtudes, ciclos naturais, fenômenos naturais benéficos) foram encarnados em figuras ou entidades, zoomórficas (o que foi mais comum) ou antropomórficas. Surgiram, assim, deuses, demônios e variados monstros, todos entrelaçando-se em mitos. O mito, uma palavra fundamental para a antropologia, é uma narrativa antiga que versa sobre os princípios da sociedade- ele responde, através de elementos sobrenaturais, ao velho enigma do "quem somos? De onde viemos?'', servindo para dar alguma estabilidade axiológica às nascentes sociedades. E o mito do sobrenatural- de que haveria uma ordem superior ou supra física, não sujeita às simples leis na natureza- é uma manifestação universal da humanidade, caraterizada pela ontologização do medo, encarnado na figura de criaturas sobrehumanas. Cada uma delas representava um aspecto do medo (por exemplo, na cultura grega, a Medusa representa as potencialidades malignas da mulher; o minotauro, o perigo das forças silvestres etc) a perpetuar esses pequenos mitos sobreviventes.
Todavia, apesar desse universalismo, o mito do sobrenatural decaiu nos últimos séculos, após dezenas de milhares de anos de hegemonia.
De início, cabe explicar o porque dessa tendência de virada radical de pensamento. Basicamente, o paradigma filosófico da modernidade pressupunha ser apenas os objetos perceptíveis pelos sentidos humanos e por eles interpretados, segundo o método científico, reais. Assim, os fenômenos da natureza são enquadrados em conceitos científicos e explicados segundo leis específicas, provando ao homem de que nada de místico há em sua ocorrência; o próprio homem passa a ser explicado segundo o método científico, e as teorias da evolução, que mostram ser o meio-ambiente e os seres vivos resultados da gradual seleção natural, desterram de vez qualquer explicação sobrenatural acerca da condição humana, associadas aos períodos obscurantistas da humanidade, marcados pela fome, guerras e caos. Trata-se da racionalização do mundo, onde as brumas do Ocultismo são varridas pelo pretensamente infalível método cartesiano-baconiano, junto com o absolutismo, a moral feudalista e as demais crendices primitivas. O mundo passa a ser totalmente explicável, pela razão, nele se incluindo a personalidade humana, cujos medos e fobias são associadas a causas materiais e passam a ser objetos de tratamentos médicos racionais. O sobrenatural passa a ser identificada com a crendice e o misticismo de culturas pouco avançadas filosoficamente, já que todas as sociedades guiariam-se, cada vez mais, através da razão, para organizações coletivas parecidas com a sociedade moderna (e europeia, diga-se, numa filosofia da história progressista e etnocentrista).
Contudo, ocorreu uma grande falha no processo de racionalização do mundo. Descobriu-se, gradualmente, que certos objetos são totalmente incognoscíveis ao homem (os núcleos atômicos; o cosmo além do alcance dos telescópios; a história primitiva da humanidade), e, por outro lado, a suposta ordem a priori da natureza é mera ficção humana, ou seja, o próprio pesquisador cria a ordem da realidade, e mesmo o objeto de estudo! Admitiu-se que o mundo, tal como ele é, não é totalmente acessível ao homem; as explicações fundadas na lógica e na razão foram vistas como meras possibilidades entre as muitas possíveis, já que pergunta-se o seguinte: quem seleciona os meios pelos quais distingue-se o certo do errado, e como o faz? A epistemologia adotada é, então, apenas uma dentre as demais.
Na verdade, o próprio homem capta parte da realidade, selecionando as mais adequadas, dando-lhe sentido e interpretando-as de forma altamente subjetiva (engendrando "imagens'' ou figurações da realidade), sendo lícito dizer que existiria um mundo para cada homem; as necessidades da vivências social, por sua vez, impõem visões majoritárias (imagens de segunda ordem ou figurações coletivas) sobre aspectos básicos da realidade (o Direito, a Moral e a Política, centradas em Deus, no Estado e na coletividade, enquanto figurações), que reprimem as interpretações nocivas ao sistema social. Esse, por sua vez, é o dilema da pós-modernidade, onde há um mundo para cada homem (e um direito, uma moral, uma política...), permanentemente vigiado por um mecanismo repressor que impõe um "mínimo-ético'' ao sujeito. Esse mínimo ético é a própria Lei do Mercado...
Por outro lado, a relativização da moral europeia destruiu a crença de que sua sociedade racional seria a dona da verdade. Com o pós-modernismo, passou-se a aceitar as explicações de mundo das outras sociedades (inclusive as mais primitivas) como de igual valor às sofisticadas visões positivistas modernas.
Sem mais divagações, essa redução do mundo à subjetividade de cada um, além da impossibilidade de captar o mundo como ele é (ser ou noumeno), ao lado da consideração de elementos irracionais impossíveis de serem explicados, ao menos no momento (oriundos da ausência de um sentido a priori da história ou da natureza...) são os pressupostos filosóficos que possibilitaram o retorno do Sobrenatural como um tema de especulação relativamente sério para a maioria das pessoas. O segundo pilar desse estranho retorno foi fornecido pelo próprio sistema capitalista, o filho da razão cientificista: a globalização cultural. Por esta, as produções culturais dos países hegemônicos são difundias e transformadas em manias, estereótipos a serem seguidos pelos que ambicionam serem aceitos pela sociedade da exclusão. Assim, filmes, livros e músicas (até novelas...) são os principais difusores do Sobrenatural no mundo pós-moderno.
Não se trata, porém, do Ocultismo o principal beneficiado por essa conjugação de fatores. Na verdade, o trabalho de marketing capitalista utiliza os velhos modelos de fantasia em geral (histórias medievais-fantásticas, por exemplo, ou relacionados aos ditos "super-herois'') como carro-chefe dessa "cultura enlatada''. Harry Potter, Senhor dos Aneis, Guerra de Tronos, Narnia, Vingadores, Avatar... são campeões de bilheteria ao redor de mundo, e arrecadam ainda mais com os produtos derivados (bonecos, livros, trololós diversos...). O apelo ao terror e ao sobrenatural é invocado com os mesmos objetivos.
Há quem diga que os modismos criados pelo mundo mágico da globalização são meras cartas de distração. São ótimos meios para despolitizar a juventude e encerrar suas forças cognitivas em especulações sobre mundos irreais, enquanto o verdadeiro mundo padece na pobreza, ignorância e exploração que são as motivações das próprias fantasias. Trata-se de um verdadeiro vale-tudo, com o objetivo específico de alienar a juventude e, por meio dessas abstrações "fantásticas'', divulgar os produtos e modo de vida capitalista pós-moderno.
Eis o porque do retorno do Oculto. O mundo perdeu sua razão universal, seu método científico que garantiria a não-existência de horrores além da imaginação nas sombras da realidade, ao passo em que repopularizaram-se velhos mitos sobrenaturais. Não mais como explicações sobre a realidade ou corporificações do medo, que poderiam ser destruídas, contidas ou afastadas por orações, sacrifícios, objetos. Mas sim como amplas distrações e poderosos instrumentos de Marketing.
As grandes empresas não tem, assim, qualquer objeto cultural em reviver o Sobrenatural e o Oculto. Mas sua atuação vem causando consequências imprevisíveis: por todo o mundo, grupos de pessoas vem realmente acreditando no que se divulga pela mídia sobre o sobrenatural. Ou seja: recomeçam a crer em misticismos, magia, monstros. Alguns se excluem em seitas fechadas (e até mesmo chegam a matar, em seus jogos repulsivos, como fica notório de tempos em tempos), enlouquecem ou simplesmente isolam-se do mundo exterior para viver suas fantasias. São movimentos antes irrelevantes, mas que vem alcançando um grau preocupante de expansão.
Cada vez mais, jovens inseguros e depressivos estão se tornando maioria: por viverem mais em busca de fantasias sobrenaturais, acabam perdendo lentamente o contato com o mundo exterior e seus níveis de socialização decaem. O verdadeiro horror da pós-modernidade é uma solidão avassaladora que toma conta daqueles que insistem em correr atrás de abstrações irreais.
Em suma, de mitos cuja função consistia em explicar a realidade e aprisionar o medo em módulos abstratos capazes de serem dominados e destruídos, o Sobrenatural e o Oculto tornam-se verdadeiros objetos de adoração, graças à veiculação do sistema capitalista e à queda do paradigma filosófico da modernidade. Ora, se certas coisas não são explicáveis ou se o objeto de estudo é indescritível em sua essência, explicar o mundo (o inexplicável pela razão) por elementos sobrenaturais e fantásticos não parece ser tão ridículo quanto era no século XIX e inícios do século XX, e, mais que isso, tornam-se uma febre. Se todos os discursos sobre a realidade (inclusive o Sobrenatural) tem o mesmo valor, e se cada homem pós-moderno pode escolher no que acreditar (excetuando-se a absoluta Lei do Mercado...), vinculando-se a missiva propaganda e modismos com relação à fantasias infanto-juvenis, temos o cenário perfeito para o retorno do Sobrenatural. Acompanhado de todos os efeitos colaterais que já citamos.
Que fazer diante de tal cenário? Enquanto os nobres acadêmicos e os demais cidadãos se empenharem em viver nesse mito em de que cada homem pode se auto-determinar e o resto de mundo que se dane (exceto a Lei do Mercado...), onde os mais fortes acabam dominando os fracos mesmo de forma mental (que diria Huxley disso?), só nos resta conscientizar o máximo de pessoas o possível e, cada vez mais, aprofundar nossos laços sociais com a família, amigos e organizações. Só assim superar-se-á os devastadores efeitos nocivos do retorno do Sobrenatural e o verdadeiro monstro que atormenta bilhões de seres humanos, reunindo a vampírica fome insaciável por dinheiro e um grau de profanismo blasfematório digno dos demônios: o capitalismo mundial, a verdadeira mente por trás do boom de filmes, séries, livros sobre o Oculto. Um monstro que vem tornando cidadãos em submissos zumbis: como na magistral cena do filme "O Exorcista'', um dos poucos filmes sobre o Sobrenatural que possui algo mais do que efeitos especiais e medo barato, aqueles que leram este post até aqui estão diante de uma mansão sombria, onde, escondendo-se sob a pele de uma doce garotinha, está um mal milenar pronto para destruir tudo ao redor, jogando as pessoas umas contra as outras e locupletando-se com o sofrimento delas. Hora de ajeitar o chapéu, erguer os olhos e preparar nossas maiores armas para o embate contra a Besta: a conscientização, a coragem, a propagação da verdade e a fé na união e no amor (que, para mim, chama-se Deus). O verdadeiro mal está muito além da telinha, manipulando-nos com cordas de marionete!
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