terça-feira, 11 de dezembro de 2012

República dos togados: a opressão Suprema


Me irritaram as declarações de suas excelências os ministros do STF sobre as "revelações'' de Valério sobre Lula. "Tem de ser apurado'', diziam, com expressão séria, deslumbrados pelos holofotes; ora, isso é uma obviedade, e ainda mais uma função (no mínimo) condizente ao Ministério Público (ou a polícia!). 

Suas excelências revelaram uma tremenda arrogância e deram a forte impressão de querer, eles mesmos, dirigir as investigações e, investidos da sanha punitiva-justiceira, aplicar a pena ao Lula. É um dos motivos pelos quais a AP 470 fere normas processuais do Direito Internacional: ora, o magistrado, além de julgar, preside os inquéritos e investigações! Uma aberração, disse a Corte interamericana de direitos humanos; aquele que investiga não pode julgar, como S. Ex. Barbosinha fez, sob pena de violar frontalmente a ideia de juiz "imparcial'' (leia-se: desconectado psicologicamente dos interesses postos em juízo)! Senhores ministros, suas opiniões não tem valia ou importância neste "caso'': acaso agora vão realmente extrapolar suas funções, reunir uma faceta do poder Executivo (repressão ao crime, "poder de polícia'' de segurança pública), e, enfim, oficializar a opressão, no dizer de Montesquieu, resultante da concentração de poderes nas mãos dos santos togados? Teremos, enfim, como os produtos multi-uso tão em moda, um STF que é Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário, três em um? Vós não sois autoridades policiais (talvez pretendam...?) para opinar em tais casos, excelências, escândalos meramente políticos, que partem de denúncias velhas, já desbaratadas há 7 anos. 

Trata-se de mais um ataque hediondo da Folha de S.P. com fins meramente políticos, parte da estratégia da oposição política (formada por parte da mídia, partidos tucanoides e certos agentes econômicos ocultos) ao atual governo, que se baseia na condenação ética do governo petista (mensalão, Cachoeira, as coalizões que sustentam o PT, a distribuição de cargos, as fraudes em obras públicas, a "criminalização'' da polític petista...) e no suposto "excesso'' de estatismo ineficiente na economia (a redução das tarifas de energia elétrica, a desoneração dos impostos, a guerra contra os juros, o "endividamento assustador'', a "pesada'' carga tributária, a perda de capacidade de investimento...), causador na paralisação do crescimento econômico: os senhores ministros mostram muito bem seu "lado'' e, agindo como peças nessa engrenagem política, despojando-se da dignidade de membros da cúpula do Judiciário (que deveria permanecer afastada dessas intrigas politiqueiras e sujas, justamente para não contaminar-se), acabam agindo mais como peões da oposição, esquecendo-se de seu devido papel como defensor da Constituição e não de "guarda'' (o super-ego, é clássico!) da sociedade. E o pior: se mostram, sempre, como pretensamente imparciais!

Ora como diferenciar quando um Ministro age segundo suas funções institucionais, quando age como cidadão e quando age como político pragmático-em-busca-de-vantagens-mesquinhas? E, oh, o que fazer quando o ministro usa seu cargo para satisfazer seus próprios interesses políticos/pessoais (vaidades!)? Ora, então, privatizamos nosso STF às vaidades, interesses e finalidades dos próprios ministros, que as alcançam "jogando'' com os dois grupos políticos que se digladiam pelo poder no Brasil. 

Porque, oras, o ex-ministro Ayres Brito flerta com a chance de se tornar senador, da mesma forma que o Poderoso Joaquim Barbosa sonha em chegar ao Planalto. Se tem chance, é outra história. Não só por pretensões tão ambiciosas agem os ministros: as vezes, pressionam o Executivo com uma decisão negativa aos interesses deste, com o fim de obter um incremento orçamentário (ou seja, nos próprios salários); em outras, violam a Constituição para garantir a impunidade a empresários (Dantas?) ou lhes são ternamente favoráveis em ações bilionárias a quem dizem preencher os requisitos de "repercussão geral'', nos recursos extraordinários. E assim vai. O pior de tudo é quando um ministro (Fux) se dirige ao mundo inteiro e diz, praticamente, que vendeu uma sentença e prometeu julgar um caso em favor de interesses políticos ("mensalão? Eu mato no peito!'') para obter apoio com o fim de cingir a toga negra dos ministros do Supremo. E, claro, tudo isso na maior naturalidade, como se o tráfico de influência tivesse sido descriminalizado... o fisiologismo sempre invadiu o Judiciário, mas nunca de maneira tão forte, principalmente porque os juízes cada vez mais deixam de ser paus-mandados dos políticos e se tornam cada vez mais ativos, poderosos por, note-se, acumular funções que seriam dos políticos, sejam legisladores ou administradores públicos (ativismo judicial e judiciarização da política, o que seria de suas excelências sem vocês?).

Quando um Tribunal Superior que passa a atuar como agente político ativo, afundado no mundo de vaidades e troca-de-favores do sistema político, é como se o árbitro do jogo de futebol passasse a jogar em um dos times (ou cria um terceiro time para disputar a partida!)... se o órgão-controlador passa a "jogar'', quem zelará pela aplicação das regras? Quem controlará o show de vaidades da república dos togados? Esperemos que essa República togada tenha um rápido e implacável fim, assim que contrariar os interesses do povo brasileiro (o que não demorará a ocorrer!): temos a tendência, em nossa história como país, de subordinar recursos, espaços e assuntos públicos, coletivos, estatais, em nome de interesses privados. Falou-se num Império dos escravistas, República do café, República populista, República militar-tecnocrática, onde há sempre um grupo que monopoliza o poder... mas, após uma calma transição, os agentes que privatizaram (ou estão privatizando) o Estado em nome de seus interesses são os sacerdotes da deusa Têmis, quase deuses, verdadeiros sábios platônicos iluminados que podem ver o mundo brilhante das essências do Direito e, ao retornar à "caverna'', impor essa "verdade'' aos alienados e condenados habitantes da escuridão de poder, oferecendo a libertação dos grilhões, bondosamente, aos pobres miseráveis... figindo realizar a República platônica, onde os sábios comandam guerreiros e campônios, alguns magistrados querem perpetuar velhas práticas e formas de dominação com base em "truques pirotécnicos'' de hermenêutica jurídica e ativismo judicial. Transformam a Justiça em show, espetáculo, em meios capitalizadores dos próprios julgadores e seus interesses! E, por fim, transformam cidadãos em palhaços, que ficam a contemplar o poder ser disputado por mais um agente político privado que pouco lixa-se para os interesses coletivos... e, pior, esses cidadãos incautos, estimulados pela fúria parcialmente vingativa do STF, ainda aplaudem suas excelências! Com a devida vênia, isto é uma fraude à democracia!

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