O ser humano é execrável e, ao mesmo tempo, fascinante, por ser capaz tanto de desonestidades baixas como de feitos notáveis do ponto de vista ético e afetivo. O pior é que, muitas vezes, os atos das pessoas que nos rodeiam oscilam tanto para um extremo como para o outro. São capazes do mais puro amor, mas também do ódio, da violência, do ressentimento.
Muitas vezes, as decepções diárias nos levam a crer que só existem pessoas más; que ninguém gosta de nós genuinamente, porque isso não é possível ao homem, como concluiu tristemente Montagne. Certos pensadores diziam que as relações entre os seres humanos são meros intercâmbios de interesses: o sentimento abstrato (amor, amizade, fraternidade) é algo criado (pelo inconsciente coletivo?) para disfarçar o intento puramente material e egoístico das relações sociais, onde um usa o outro ou para o prazer, ou para sua autoconservação, ou para cobrir-se de glória, esmagando o próximo ou levando-o a depender de nós; é também meio de sujeitar as pessoas, distraí-las, consolá-las (o ópio, o narcótico...), dessa realidade patente, triste e tenebrosa (enlouquecedora!), oferecendo um sentido (a autorealização, a moral, a política...) para simplesmente encobrir a ausência de sentido que há no egoísmo; no fim, um milhão de pessoas acreditam que existem coisas na vida (amor, amizade etc...) cujo valor é muito maior que o dinheiro, o poder e o prazer, enquanto umas mil sabem muito bem que tudo isso é vazio, e buscam o poder negligenciado pela coletividade. No nosso microcosmo, essa lei da hipocrisia explica o caráter anfíbio das pessoas: são boas, quando precisam de nós, e más, quando não precisam. E, claro, usam a "amizade'' ou "amor'' para nos manter apegados a elas, mesmo quando nos maltratam. É o que dizem Maquiavel, Hobbes e outros arautos do "mundo-não-vale-nada''.
Pense bem, dizem os pensadores pessimistas: você trocaria uma pistola automática pela espada do Peter Pan (ou uma cobertura em Miami pelo governo da "terra-do-nunca''?)? Uma conta de dez zeros à direita no banco por "amor''? Pois o que nossos mestres políticos (as elites) fazem é justamente nos oferecer o irreal, o metafísico, enquanto se apropriam eles mesmos do que é real, físico, material, nossa riqueza produzida pelo trabalho, apropriada por eles. Eles nos manipulam para conseguir seu próprio interesse, que é concentrar a riqueza. Voi lá, eis o meio de dominação social mais clássico, via Nietzsche e Marx; para nos libertar dessa prisão, devemos mandar às favas toda moral, todo conhecimento imposto a nós pela coletividade e construir nossa própria verdade, nosso próprio mundo, com nosso próprio pensamento e trabalho; para legitimar tal rebelião do indivíduo contra a sociedade, a filosofia hoje apela descaradamente ao super-relativismo, onde todos os pontos de vista são válidos. No fim, não somos obrigados a ser bons com as pessoas, já que elas não valem nada, e podemos esmagá-las, na concorrência da vida (o mercado, sempre ele...), de consciência tranquila, realizando a lei de seleção de Nietzsche: os melhores tem de esmagar os fracos. Veja que essa é a idelogia do capitalismo neoliberal, que muito aprecia o existencialismo, já que este proclama a morte das verdades gerais e universais, quebrando todos os meios de unir a coletividade em torno de ideais comuns. Só resta o indivíduo, sua propriedade e sua capacidade de administrar seus recursos privadamente. O homem se torna uma ilha.
Muitas vezes, as decepções diárias nos levam a crer que só existem pessoas más; que ninguém gosta de nós genuinamente, porque isso não é possível ao homem, como concluiu tristemente Montagne. Certos pensadores diziam que as relações entre os seres humanos são meros intercâmbios de interesses: o sentimento abstrato (amor, amizade, fraternidade) é algo criado (pelo inconsciente coletivo?) para disfarçar o intento puramente material e egoístico das relações sociais, onde um usa o outro ou para o prazer, ou para sua autoconservação, ou para cobrir-se de glória, esmagando o próximo ou levando-o a depender de nós; é também meio de sujeitar as pessoas, distraí-las, consolá-las (o ópio, o narcótico...), dessa realidade patente, triste e tenebrosa (enlouquecedora!), oferecendo um sentido (a autorealização, a moral, a política...) para simplesmente encobrir a ausência de sentido que há no egoísmo; no fim, um milhão de pessoas acreditam que existem coisas na vida (amor, amizade etc...) cujo valor é muito maior que o dinheiro, o poder e o prazer, enquanto umas mil sabem muito bem que tudo isso é vazio, e buscam o poder negligenciado pela coletividade. No nosso microcosmo, essa lei da hipocrisia explica o caráter anfíbio das pessoas: são boas, quando precisam de nós, e más, quando não precisam. E, claro, usam a "amizade'' ou "amor'' para nos manter apegados a elas, mesmo quando nos maltratam. É o que dizem Maquiavel, Hobbes e outros arautos do "mundo-não-vale-nada''.
Pense bem, dizem os pensadores pessimistas: você trocaria uma pistola automática pela espada do Peter Pan (ou uma cobertura em Miami pelo governo da "terra-do-nunca''?)? Uma conta de dez zeros à direita no banco por "amor''? Pois o que nossos mestres políticos (as elites) fazem é justamente nos oferecer o irreal, o metafísico, enquanto se apropriam eles mesmos do que é real, físico, material, nossa riqueza produzida pelo trabalho, apropriada por eles. Eles nos manipulam para conseguir seu próprio interesse, que é concentrar a riqueza. Voi lá, eis o meio de dominação social mais clássico, via Nietzsche e Marx; para nos libertar dessa prisão, devemos mandar às favas toda moral, todo conhecimento imposto a nós pela coletividade e construir nossa própria verdade, nosso próprio mundo, com nosso próprio pensamento e trabalho; para legitimar tal rebelião do indivíduo contra a sociedade, a filosofia hoje apela descaradamente ao super-relativismo, onde todos os pontos de vista são válidos. No fim, não somos obrigados a ser bons com as pessoas, já que elas não valem nada, e podemos esmagá-las, na concorrência da vida (o mercado, sempre ele...), de consciência tranquila, realizando a lei de seleção de Nietzsche: os melhores tem de esmagar os fracos. Veja que essa é a idelogia do capitalismo neoliberal, que muito aprecia o existencialismo, já que este proclama a morte das verdades gerais e universais, quebrando todos os meios de unir a coletividade em torno de ideais comuns. Só resta o indivíduo, sua propriedade e sua capacidade de administrar seus recursos privadamente. O homem se torna uma ilha.
Mas acho tudo isso mais divagação genérica do que realidade.
Na verdade, o pior do ser humano, em toda sua desonestidade e maldade, se dá quando ele se absolutiza e passa agir no mundo com a clara intenção de ser por ele adorado, ou de por seus interesses privados acima de tudo. O melhor que o ser humano oferece, por outro lado, é quando se dedica ao próximo, ao outro, ou às causas nobres e ideais: o paradoxo nessa última ideia é que o puro idealismo é impotente (não transforma, por si mesmo, a realidade) e o pragmatismo a serviço das ideias (o "transformar as ideias em fatos'') acaba por poluir os ideais fundadores. Quem não se recorda de um certo partido, outrora bastião da ética e dos interesses sociais, que, vendo-se no poder, para realizar (supostamente) suas bandeiras ideológicas, precisou "vender sua alma'' e fazer valer a secular diretriz da política "os fins justificam os meios''? A realidade perverte os ideais, e, no fim, as converte em meio de dominação, de doutrinação e de legitimação. Pense bem: imagine que, numa sociedade dominada pela corrupção e pelo império de uma elite de políticos, empresários e banqueiros, um movimento popular chega ao poder. Cabeças rolam (literalmente), reformas são feitas em nome dos ideais republicanos, democráticos e socialistas; mas os problemas não desaparecem, nas canetadas dos revolucionários. O regime cria seus próprios vícios, decorrentes da fantasia de suas ideias e e derrota destas na quebra-de-braço com as circunstâncias da realidade e o mau-caratismo das pessoas. O ideal da revolução apenas legitima um novo tipo de dominação que, apesar de realizar algumas bandeiras, se rende ao pragmatismo: no fim, o ideal é apenas uma justificativa para uma nova elite chegar ao poder, com o único fim de locupletar-se com o trabalho alheio. Os revolucionários, contrariando suas ideias dialéticas, se tornam reacionários, em interesse próprio, é claro.
Assim, podemos, mesmo em nome do próximo e de grandes ideais, agir em nosso próprio e mesquinho interesse, encobrindo-os com uma máscara de nobreza. Sábios iluminados que prometem resolver os problemas num passe de mágica são altamente questionáveis; profetas do egoísmo e do "salve-se quem puder'' do existencialismo acabam proferindo palavras vazias que apenas aumentam a angústia de nossos tempos.
A potencialidade negativa dos ideias e do coletivismo não implica que estes são condenáveis. Nesse ponto, a lição do cristianismo é notável: dedique-se ao próximo e o ame como a si mesmo, mas, em vez de liderá-lo, dominá-lo ou elevar-se sobre ele, sirva, seja o menor. Isso implica em duas ações: abdicar do poder potencial sobre o outro e recolher-se, humildemente, a serviço dele, mas sem distinção e sem buscar algo em troca. Amor desinteressado, diga-se. Para Cristo, aquele que é menor, social, política e culturalmente (os "pobres de espírito'') é o maior espiritualmente. Essas ideias simples ferem de morte o egocentrismo existencialista e o pessimismo quanto ao ser humano, bem como o falso sentimentalismo que encobre, como uma capa, os dois primeiros: mostram que é possível ao ser humano agir, amorosa e desinteressadamente, por ideias e pela coletividade. A própria morte de Cristo e seus seguidores em nome dessas ideias não revela nada além do supremo sacrifício pelo próximo, por Deus, pela verdade.
Na verdade, o pior do ser humano, em toda sua desonestidade e maldade, se dá quando ele se absolutiza e passa agir no mundo com a clara intenção de ser por ele adorado, ou de por seus interesses privados acima de tudo. O melhor que o ser humano oferece, por outro lado, é quando se dedica ao próximo, ao outro, ou às causas nobres e ideais: o paradoxo nessa última ideia é que o puro idealismo é impotente (não transforma, por si mesmo, a realidade) e o pragmatismo a serviço das ideias (o "transformar as ideias em fatos'') acaba por poluir os ideais fundadores. Quem não se recorda de um certo partido, outrora bastião da ética e dos interesses sociais, que, vendo-se no poder, para realizar (supostamente) suas bandeiras ideológicas, precisou "vender sua alma'' e fazer valer a secular diretriz da política "os fins justificam os meios''? A realidade perverte os ideais, e, no fim, as converte em meio de dominação, de doutrinação e de legitimação. Pense bem: imagine que, numa sociedade dominada pela corrupção e pelo império de uma elite de políticos, empresários e banqueiros, um movimento popular chega ao poder. Cabeças rolam (literalmente), reformas são feitas em nome dos ideais republicanos, democráticos e socialistas; mas os problemas não desaparecem, nas canetadas dos revolucionários. O regime cria seus próprios vícios, decorrentes da fantasia de suas ideias e e derrota destas na quebra-de-braço com as circunstâncias da realidade e o mau-caratismo das pessoas. O ideal da revolução apenas legitima um novo tipo de dominação que, apesar de realizar algumas bandeiras, se rende ao pragmatismo: no fim, o ideal é apenas uma justificativa para uma nova elite chegar ao poder, com o único fim de locupletar-se com o trabalho alheio. Os revolucionários, contrariando suas ideias dialéticas, se tornam reacionários, em interesse próprio, é claro.
Assim, podemos, mesmo em nome do próximo e de grandes ideais, agir em nosso próprio e mesquinho interesse, encobrindo-os com uma máscara de nobreza. Sábios iluminados que prometem resolver os problemas num passe de mágica são altamente questionáveis; profetas do egoísmo e do "salve-se quem puder'' do existencialismo acabam proferindo palavras vazias que apenas aumentam a angústia de nossos tempos.
A potencialidade negativa dos ideias e do coletivismo não implica que estes são condenáveis. Nesse ponto, a lição do cristianismo é notável: dedique-se ao próximo e o ame como a si mesmo, mas, em vez de liderá-lo, dominá-lo ou elevar-se sobre ele, sirva, seja o menor. Isso implica em duas ações: abdicar do poder potencial sobre o outro e recolher-se, humildemente, a serviço dele, mas sem distinção e sem buscar algo em troca. Amor desinteressado, diga-se. Para Cristo, aquele que é menor, social, política e culturalmente (os "pobres de espírito'') é o maior espiritualmente. Essas ideias simples ferem de morte o egocentrismo existencialista e o pessimismo quanto ao ser humano, bem como o falso sentimentalismo que encobre, como uma capa, os dois primeiros: mostram que é possível ao ser humano agir, amorosa e desinteressadamente, por ideias e pela coletividade. A própria morte de Cristo e seus seguidores em nome dessas ideias não revela nada além do supremo sacrifício pelo próximo, por Deus, pela verdade.
Assim, o que explica disparidade de comportamento das pessoas é a oscilação entre esse amor incondicional e o egoísmo. O homem evolui como o mitológico Sísifo empurra a pedra montanha acima: as vezes, somos capazes de subir, penosamente, e, as vezes, de descer, rapidamente. E, claro, dentro de nós sempre se desenrola essa luta entre amor e egoísmo, e, vez ou outra, um dos dois vence a parada; mas, como compreendeu Rosseau, nossa "natureza'', nossa humanidade, é composta exatamente do "lado bom'' do ser humano: é o "amar'' que nos faz diferentes dos animais e imagem e semelhança de Deus. O egoísmo é uma característica animalesca. Não se decepcione quando um pai, mãe, irmão, amigo ou ente admirado agir como um idiota. Lembre-se que é a presença dos defeitos no caráter humano que o tornam passível de evolução, melhora, refinamento, e que nada está dado, mas tudo está para ser construído, e, acima de tudo, a personalidade do homem entra nesse processo.. O mundo está aí para ser consertado! Mãos a obra!
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