Em que pese o atual presidente Michel Temer comandar um governo com ministros incapazes e trapalhões, suas jogadas até aqui vem sendo de um maquiavelismo ímpar na política brasileira. Talvez um padrão que possa ser identificado dentre suas muitas manobras é uma conhecida estratégia de avanços e recuos rápidos, onde o presidente, ou seus ministros, propõem alguma ideia absurda para testar a reação social e assim colher dados sobre a viabilidade da medida.
O exemplo mais claro dessa estratégia se deu na celeuma da extinção/recriação do Ministério da Cultura, e mais recentemente no anúncio de uma reforma trabalhista obscura e gravosa ao trabalhador. Mas o que passa despercebido nessas manobras é um efeito pouco debatido: toda vez em que propõe algo absurdo (como reforma trabalhista com picos de jornada em 12 horas, anistia do caixa dois etc.) há o objetivo oculto de aproveitar-se da distração gerada pelas repercussões negativas para se trabalhar pelo que realmente o governo almeja. O efeito de distração também gera um subproduto, o desgaste e o cansaço da opinião pública, já saturada por quase dois anos de crise política. A estratégia, no fundo, é aquela prescrita por Maquiavel há 500 anos, qual seja, "dividir para imperar'', nesse caso bombardeando a opinião pública com discussões infrutíferas e prematuras para desviar sua atenção e diminuir as resistências diante do sonho de consumo do governo.
O conteúdo desse sonho ainda não foi revelado. E, em que pese a maioria dos analistas acharem que o governo tinha planos secretos sobre as reformas e que esses planos foram anunciados de forma atrapalhada e acidental pelos ministros, penso justamente o oposto. As ações, pronunciamentos e entrevistas dos ministros, que pareciam trapalhadas, foram cuidadosamente calculadas para gerar o efeito que geraram. Na primeira fase, repulsa, protesto. Na segunda, distração. Na terceira, cansaço. E, na quarta, ninguém sabe no que dará. A confiar pelo que o próprio governo diz, a PEC dos gastos públicos e a reforma da Previdência são as finalidades essenciais. É viver para ver.
Seja o que for que o governo planeje, está conseguindo, lentamente, vencer pelo cansaço sua oposição. É possível que o que esteja sendo preparado seja da magnitude do Plano Real ou faça parte de um projeto de poder mais amplo do PMDB, que envolve o ministro José Serra e/ou o ministro da Fazenda, Meirelles. Mas como todo bom jogo de xadrez, vai terminar quando as peças do presidente Temer encurralarem a oposição e ocuparem as posições estratégicas do tabuleiro.
Temer joga bem. Pôs o país inteiro na roda. Só falta anunciar o "xeque''.
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