O governador esfregou os olhos preguiçosamente. No relógio
da parede, as cinco da tarde chegavam sob cada pequeno avanço do ponteiro
dourado e com uma brisa suave, mas gélida, eriçava os pelos do braço forte do
primeiro mandatário do Estado. Parecia um aviso, um alerta; talvez o cochilo
diário da tarde fosse acompanhado pela fatura que só pecado da preguiça pode gerar.
Levantando-se, apanhou seu celular na mesa de mármore da
sala, deixando sua amada varanda para trás, arrastando os pés. Com um esgar de
aborrecimento, notou as mais de dez chamadas perdidas e um permanente toque
anunciando a chegada de diversas mensagens de aplicativos. Não era justo que
até a paz do domingo lhe fosse negada. Tinha convicção, nesse sentido, de que
homens de bem não faziam nada aos domingos e só as raposas, bandidos ou
vagabundos se ocupavam de ofícios quaisquer no dia que foi reservado pelo
Sagrado para o descanso. Pensava isso não por que fosse religioso: afinal,
aproveitar-se daquilo que aos seus olhos eram as coisas boas da religião e
dispensar as ruins e irritantes (como ajudar ao próximo e falar a verdade) já
havia se tornado um hábito.
O que teria ocorrido? Aliados insatisfeitos? O governador
pensara que os pedaços de governo que havia jogado no chão para os “aliados
programáticos’’ bastavam. Uma rebelião em algum presídio? A bronca dada aos
diretores dos estabelecimentos, com ameaças de desoneração (o que implicava a
queda de boa parte da camarilha que acompanhava cada gestor), poderia por medo
até no PCC. Possibilidades de alguma aventura de alcova? Ah, isso o
interessava, mas, ao verificar as mensagens, só notou contatos masculinos.
Podia então se dar ao luxo de tomar um banho relaxante. A única coisa que fez
antes de se encaminhar para o banheiro foi passar uma mensagem para seu
secretário, ordenando que realizasse uma filtragem daquela imensa e irritante
quantidade de informação.
Depois de quarenta minutos e quatro aplicações seguidas de
um shampoo anti-queda contra a calvície, fato que muito lhe manchava a vaidade
e autoestima, o homem mais poderoso do Estado ouviu a campainha tocar.
Ignorando a chamada, continuou a se enxugar, quando ouviu novo toque. Irritado,
foi se vestir ao som de mais cinco toques, e a raiva que sentiu o fez suar mais
que o vapor da ducha inglesa recém-utilizada. Onde raios estava a empregada?
Se dirigindo para a sala, girou a maçaneta dourada da porta
e deu de cara com o secretário de Segurança Pública. No milésimo de segundo
entre a porta escancarar e a primeira palavra ser trocada, uma faca cravou-se
no peito do governador e rasgou-lhe o coração até as entranhas. Algo estava
muito errado.
- Governador, mil desculpas por importunar o senhor em pleno
fim de semana... – começou o homem baixinho e calvo, que nada mais era que um
servidor público de carreira que ocupava interinamente a pasta. O último
secretário indicado, o quinto de uma série tão catastrófica quanto a campanha
de alguns times de futebol do Estado (alguns brincavam que a segurança pública
do Estado havia caído da “primeira para a quarta divisão’’ em poucos meses),
havia caído depois que um ônibus foi sequestrado ao lado do comando da Polícia;
mas, pelo menos nesse episódio, algumas vítimas saíram vivas.
O secretário começou, mas não terminou. O governador,
desmemoriado da sua rigidez habitual com os subordinados, somente esperava. Não
queria apressar notícias ruins. Na sua mente, quanto mais uma catástrofe não fosse
por ele conhecida ou ignorada, mais ela podia ser negada diante da mídia com
maior sinceridade autêntica.
Enquanto aquela situação se tornava cada vez mais
constrangedora pela mudez do subordinado e a impotência do chefe, alguns fogos
de artifício eram ouvidos ao longe. Ou ao menos pareciam fogos. O sexto ou sétimo pipoco, no entanto, deixaram o
governador mais azul do que já estava: pareciam ser tiros.
- Maciel, o que porra foi que aconteceu? – falou o chefe,
numa voz sumida. A atenção de ambos foi desviada pelas portas do elevador,
também douradas, que se abriram silenciosamente. Por elas passou um homem alto,
com uma barriguinha saliente contida pelos botões dourados da farda da Polícia
a frente e um passo ordenado e forte. A gravidade do seu olhar fez o governador
ver estrelas. Precisava se sentar.
- Excelência – falou, como o arauto da tempestade – tentamos
falar com o senhor desde a hora do almoço.
Comida? Ele estava prestes a coloca-la para fora. Sentia
pena pelo delicioso risoto francês se tornar uma pasta gosmenta.
O governador viu as estrelas piscando e sorrindo para ele.
Logo o brilho delas foi tão intenso que nada mais via, a não ser uma luz branca
que parecia lhe rachar a cabeça e os olhos. A realidade era dor, luz e o nada.
Sem tiros, sem desespero, sem aquela notícia brutal congelada na garganta do
secretário. Ah, seu belo risoto!
Quanto voltou a si, o primeiro mandatário estava em sua
poltrona de couro, sentindo um forte odor de álcool e sendo observado com
preocupação pelo secretário e furor pelo comandante da Polícia. Tentou fechar
os olhos e ainda fingir que ainda dormia, mas era tarde demais: fora visto.
- Que houve? – murmurou, para ganhar tempo enquanto
organizava seus pensamentos.
- Governador, tentamos resistir, mas eles entraram no
Palácio. Pegaram tudo e queimaram o resto. E depois... – começou o comandante,
quando foi interrompido pelo secretário.
- Senhor, pare! Deixe-o ao menos recobrar o fôlego!
Furioso, o policial esbravejou contra o burocrata, e uma
intensa discussão teve início. Como contaram mais tarde, os privilegiados
vizinhos do governador ouviram, no meio dos gritos, as palavras “desastre’’,
“loucura’’, “impotente’’, “frouxo’’, “encher’’, “rabo’’, “dinheiro’’ e, a mais repetida,
“guerra’’. Guerra. E não era letra de música, embora algum MC pudesse compor o
sucesso do próximo verão com esses termos.
Ah, não. Não no seu governo. Era hora de chamar o feito a
ordem e matar o problema com uma canetada certeira, como de costume.
- Olha – começou, paternalmente – eu já entendi a situação.
Maciel – disse, dirigindo-se ao secretário – liga pro chefe de gabinete e manda
fazer uma nota oficial. O modelo padrão mesmo.
Revirando os olhos, o comandante da máquina policial bufou:
- Senhor, modelo padrão não vai resolver. Aliás, modelo
nenhum, papel nenhum, acho que nem o Exército resolve!
Então a porra era séria. Pegando o controle e ligando a
televisão de cinquenta polegadas, com a mais moderna tecnologia de cristal
líquido, deu diretamente com a musiquinha do plantão da Globo. Como se fosse
iniciar uma descida numa montanha russa, o governador sentiu o estômago cair e
desmanchar-se no chão.
“Às quatorze horas desse Domingo, bandidos tomaram o Palácio
do governo de Pernambuco depois de enfrentar a PM no que começou com uma briga
de torcidas organizadas...’’
As imagens eram feias. Um homem atirou um coquetel Molotov
contra as vidraças do Palácio, que explodiram em chamas. Um grupo de policiais
do batalhão de choque, com os escudos juntos, recuava e era posto pra correr
por uma tempestade de pedras, pedaços de vidro e bombas de São João. Seguiram-se
cenas de ônibus em chamas e, ao longe, uma imagem aérea focava o palácio do
governo tomado por chamas negras. A repórter finalizava a inserção informando
que, em todas as cinco zonas da cidade, foram relatados distúrbios, saques e
mortes ainda não contabilizadas - embora registradas a todo momento.
- Estão chamando de “o julgamento final’’. – sentenciou o
coronel.
Puta merda, pensou o governador.
***
Então era por isso que ninguém estava em casa. Teriam todos
fugido? Teria sido deixado para morrer na pior série de ataques que a cidade já
vira? O governador roía as unhas. Nem nas brigas de colégio se sentia tão só.
Enquanto o tempo passava e os primeiros relatórios lhe eram
expostos pelo coronel, percebia-se o quando a situação era desesperadora. E o
maldito telefone não parava de tocar, turbando seus pensamentos, que só se
dirigiam à uma absurda falta de orientação. Era como estar, novamente, numa
banca de sala de aula, prestes a fazer uma prova sobre geografia física ou
história, as únicas coisas que davam mais medo ao governador menino do que as
sandálias da mãe.
Quando a porta se abriu novamente, o governador foi
despertado do seu transe. Mais secretários, junto com o líder do governo na
Assembleia Legislativa, entravam na residência do homem a quem deviam seus
cargos, privilégios e sua obediência. Todos em pé, formavam um grupo sinistro,
como se fossem um Tribunal do Júri e o governador, o único sentado no centro da
formação, fosse o réu.
- O senhor deve estar a par – começou o homem desagradável
que era secretário da Educação. Era uma herança da gestão anterior – e tão
pesada e desagradável que o governador se recusava a decorar seu nome,
rebatizando-o mentalmente de “secretário um’’. – Então nós podemos ser bem francos aqui –
continuou, carregando o sotaque pesado de sertanejo e olhando ao redor – por que nós conversamos
no caminho e achamos que a melhor opção é decretar calamidade pública e pedir
uma mão do governo federal. O senhor sabe, estamos todos na base, o presidente
não vai se negar, sabe, até por que eu mesmo tenho muito trânsito com ele,
posso até fazer o contato, mas, claro, a ordem será sempre sua.
O primeiro mandatário detestava aquele tom autoritário e
petulante do secretário um. Parecia estar, a todo momento, ameaçando a posição
do chefe ao ostentar suas (as vezes superestimadas) boas conexões políticas. Respondeu
com um torcer dos lábios que os assessores mais próximos identificavam como um “por
mim mandava atirar você da janela, mas é isso mesmo’’. Olhou ao redor e seus
olhos recaíram sobre o secretário da Casa Civil, Evandro.
- Veja, não tenho dúvida de que é isso mesmo que Dorival
falou. Mas assinar um papel e jogar a bomba pra Brasília pegaria muito mal.
Seria tipo um atestado de que não temos competência pra resolver o problema, e
veja, já estamos dependentes demais do governo federal na questão das contas –
à menção dessa última palavra, o governador fechou os olhos. Aquele era o outro
inferno na sua vida. Tanto o era que simplesmente esqueceu do resto da fala do
seu secretário.
- Não – falou firme outro homem, um indivíduo repugnante
também herdado da gestão anterior, nominado “secretário dois’’ pela sua velha
aliança com o secretário um e por compartilhar com ele, igualmente, da ojeriza
do chefe do governo. – Quer tirar onda é Evandro? Acha que a gente peita essa
bola sozinhos? Saiba você que os policiais estão se recusando a ir pra rua. Eu
não culpo ninguém nessa situação. O coronel disse no celular que a munição da
tropa acabou antes das quatro da tarde.
O militar assentiu com a cabeça.
- Então manda comprar mais – começou o secretário de
Finanças, Murilo, notoriamente conhecido nos corredores do Palácio do governo
como “Murilove’’ pela a enorme lista de beldades provenientes da alta sociedade
pernambucana que já desfilaram pelos seus braços. – Posso emitir um decreto
liberando a receita pra isso. Com o decreto de calamidade, dá pra liberar o
dinheiro ainda hoje, liberar no armazém do Exército e já armar o nosso pessoal.
O governador assentiu. Finalmente alguém que, ao invés de
contar os problemas, agia para resolver, exatamente como devia ser. Se
dependesse dele, somente homens como Murilo estariam no seu governo; mas sabia
que não poderia nem dar um passo rumo ao banheiro para cagar sem que algum
daqueles crápulas lhe ajeitasse o assento da privada, outro o limpasse e o
último desse a descarga. Isso mesmo: para o governador, governar era como ir ao
banheiro. Era uma necessidade básica, era incômodo, envolvia sujeira e, ao
mesmo tempo, limpeza. Governos bons terminavam leves e limpos; governos ruins,
constipados e mau odorentos. E, claro, se alguém tinha que meter a mão na merda
– o velho jogo de safadezas, compras de voto, venda de cargos etc. – eram seus
três secretários sem nome. Nesse ponto, a atenção do governador se voltou para
o último daquela tríade sinistra encarregada dos negócios escusos do governo.
- Tem que dar as caras. Nessas horas é muito importante que
o povo e a mídia vejam o que seu governador tem a falar da situação, até pra
tranquilizar enquanto a gente trata de saber mais do que ta acontecendo. Eu
digo mais: se o senhor for pra rua, acompanhar os trabalhos da polícia, for
como um general na frente de batalha, acho que isso reverte um pouco pra gente -falou,
com um sorriso enrugado, aquele ex-governador que hoje era o secretário da
Agricultura e, secretamente, o “secretário três’’, o líder do trio parada dura
que controlava parte da base do governo na Assembleia legislativa.
Foi a primeira vez que naquele furdunço todo o governador
teve vontade de rir. Como seria interessante para esta velha raposa se ele, o
chefe, fosse alvejado e morto pelos bandidos, gerando um clima de comoção que
podia muito bem ser aproveitado por aqueles que “voltariam nos braços do povo’’
para salvar o perdido e órfão Estado de Pernambuco...
- Mas isto seria uma idiotice – falou, com franqueza, o
coronel comandante da Polícia. Era um homem severo e seco, mas leal e honesto,
até onde se sabia. – O melhor agora é arranjar a munição mesmo. E mais
importante, não deixar que essa informação vaze.
Puta merda, pensou o governador. Leal e franco, mas as vezes
burro como uma porta era esse comandante. É óbvio que alguém naquela sala iria
vazar a notícia de que as forças policiais estavam sem munição para enfrentar a
bandidagem. A pergunta era em quantos minutos a notícia seria postada em algum
blog.
Era hora de agir.
- Murilo, faça o que você disse por favor, imediatamente. Você,
o coronel e o Maciel, por favor, vejam se podem ir adiantando isso agora. Eu
vou falar em público sobre isso, não se preocupem. Mas peço que nenhuma
declaração seja dada até que eu mesmo esclareça as coisas para a imprensa.
Moreira. Alguém conseguiu contato com o Moreira? Maciel, liga pra ele, diz pra
ele agendar isso aí direitinho. No mais...
O celular do secretário três tocou espalhafatosamente,
cortando a fala do governante. Com brilho nos olhos caídos, o secretário
atendeu e estendeu o aparelho para o governador. Quem estava na linha era o
presidente da República.
“Será que isso acaba?’’, pensou o governador, antes de
forçar um sorriso e por o celular no ouvido.
***
Até a meia-noite, os policiais haviam dominado as ruas.
Camburões – conhecidos dos filmes policiais como “caveirões’’ – percorriam as
ruas, junto com motos, carros da guarda municipal e viaturas. Os dois únicos
helicópteros da Polícia varavam os céus e os latidos de cachorros treinados
foram constantes durante toda a madrugada. Não fora preciso solicitar ajuda do
Exército.
Em termos logísticos, a operação “abafa’’, como foi batizada
pela criatividade mordaz do secretário três, foi um sucesso. Foram mais de
cento e vinte prisões, quinze bandidos mortos, quase cem mil reais apreendidos
e, na grande surpresa da noite, a tropa especial da polícia estourou um
depósito, na periferia da cidade, com quase cem quilos de drogas. Telefonemas
do secretário de comunicação social, o Moreira citado na tensa reunião ocorrida
no apartamento do governador, já tinham consolidado entre a imprensa a versão
de que a briga de torcidas na verdade era um desdobramento da disputa entre
gangues por um carregamento de drogas que seriam vendidas no jogo ocorrido
naquele dia. Assim, a maior parte dos mortos foi transformada em membros de
gangues rivais que se mataram. O “cidadão de bem’’ havia sido preservado pela
rápida ação da polícia, que abriu mão de proteger o Palácio do governo para
combater os marginais em diversos pontos da cidade.
E como aqueles jornalistas sabiam trabalhar. Foram
entrevistados policiais, empresários e trabalhadores, estes à beira das paradas
de ônibus, indo trabalhar com aparente tranquilidade, sob o olhar vigilante das
constantes patrulhas. O governador até conseguiu comer suas panquecas com certa
satisfação no café da manhã, enquanto assistia o jornal matutino.
A bonomia acabou quando um jornalista tomou as declarações
do líder da oposição, o professor, poeta e jurista Demócrito Pinto, em meros
vinte segundos. As acusações foram pesadas e, aos olhos do governador – que sabia
que seu governo não era de jeito nenhum “limpo’’ – até mesmo injustas. Tudo
começava com descontrole das contas públicas, cortes no orçamento da segurança
e gastos descontrolados com obras (sim, era época de eleição municipal e os
candidatos do governo precisavam dar um up grade em suas gestões) e ia até o
famoso decreto do governador que regulava, no âmbito estadual, as torcidas
organizadas. A conclusão do opositor era de que o governador recebera propina
das torcidas organizadas para liberar suas atividades e, enquanto metera o
dinheiro no bolso, passara a tesoura no orçamento dos policiais e sucateara a
tal ponto a estrutura da polícia que os agentes estavam totalmente
despreparados para um evento como a briga que terminou fazendo o palácio do
governo arder.
Nas manchetes dos principais jornais da capital, o ataque ao
palácio fora destaque. Mas mais destaque ainda foi a velocidade do governo em
sufocar o tumulto, com uma enorme foto do governador, cercado por microfones,
ao fazer uma coletiva de imprensa no pátio da Assembleia Legislativa. Para
demonstrar que a segurança estava de volta, o governador retornou para casa sem
escolta. E os comentaristas políticos, muitos deles dependendo do “patrocínio’’
governamental para fazer suas viagens de férias para a Europa, fizeram a festa
exaltando a “coragem’’ do líder máximo do Estado.
O governador se sentira tão bem que passou em um endereço
pouco conhecido, antes de voltar para casa, mas dessa vez sob escolta, visto
estar longe dos olhares da imprensa. Quando saiu daquela cama perfumada, era um
homem renovado. O que uma hora de prazer não fazia para despertar o estadista
que dormia nele?
Uma notícia menor, contudo, lhe chamou a atenção. “Procurador
de Justiça denuncia Romualdo Nunes ao TJPE’’. Romualdo... e não era que esse
camarada era do seu partido? Resolveu telefonar para o líder do governo na
Assembleia, que se mantivera estranhamente silencioso durante a reunião do dia
anterior. Até parecia tenso, muito mais que os demais presentes. Algo ali fedia
a merda.
- Ô Marcos – disse o governador, quando o aliado atendeu –
você viu o jornal nessa manhã?
- Sim governador. Parece que no fim deu tudo certo.
- Tudo certo o quê, rapaz? Você viu que denunciaram o
Romualdo? Que negócio é esse?
Do outro lado da linha, o deputado demorou alguns segundos
para falar. Estava escolhendo as palavras certas.
- O senhor não tem que se preocupar com isso, sabe como
essas coisas demoram. Não foi nada demais, só um problema aí com umas
licitações na época que ele era prefeito. A gente tá traçando uma defesa pra
ver a melhor maneira de sair dessa.
- Sei. Mas antes de fazer, me dê um toque. Olha – mudou de
assunto – hoje vocês vão votar aquela proposta né? Tá tudo certo pra todo mundo
da base aparecer?
- Tá.
-Então tá certo. Eduardo, já falou com ele?
- Tá tudo falado.
- Tá bem. Me dá um toque quando resolver isso aí.
Mal sabia o governador que somente havia uma única coisa resolvida, e ela não era, de forma alguma, interessante para ele.
(continua)
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