quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O (o)caso do Hospital Municipal de Garanhuns


Acompanhando essas eleições (nada emocionantes) em Garanhuns, vemos que alguns temas merecem destaque. É que a saúde do garanhuense vem sendo tratada com sangrias e emplastos por tempo demais!

Dito isto, volta e meia, reabrir o hospital municipal é o prato principal das promessas dos candidatos a prefeito - menos um, como veremos. 

Nessas eleições, dois dos três candidatos prometeram reabrir a instituição. Em 2020, todos os candidatos fizeram a mesma promessa. Mas, antes de analisarmos se os planos dos atuais candidatos possuem algum sentido, que tal uma rápida viagem no tempo e perguntarmos: quem tirou o hospital de Garanhuns?

O Google e as lendas urbanas não nos deixam mentir: lá em 2013, o então novo prefeito de Garanhuns, o sr. Izaias, comunicou à imprensa que o hospital estava sendo "interditado" por conta dos altos custos. Segundo disse o todo-poderoso de plantão, "um parto custava 300 mil". Logo, ficou claro que a "interdição" era puro fechamento, com médicos e profissionais sendo demitidos ou realocados e a cidade perdendo sua urgência municipal. Todos os atendimentos foram transferidos para o Hospifal infantil, que, na época, não possuía urgência, mas apenas ambulatório e enfermaria. 

Ao lado de Izaias, estavam Gersinho Filho (vereador, líder da maioria, futuro presidente da Câmara e secretário municipal do mesmo Izaias) e Sivaldo Albino, também aliado do prefeito. Nenhum deles disse um aí quando o pessoal da secretaria de saúde trancou os portões do hospital - e até hoje vemos suas ruínas.

Ou seja, a única emergência pública para uma cidade de 140 mil habitantes passou a ser apenas a do Hospital Dom Moura. E o resto da história o cemitério conhece bem.

Mas, se o objetivo era economizar (não nos caixões, claro), será que essa medida radical - fechar o hospital - deu realmente frutos? 

Quanto à qualidade dos serviços de saúde municipal, precisamos de um rápido salto no tempo para responder: basta lembrarmos que, durante a pandemia de 2020, a cidade estava totalmente despreparada. Muita gente morreu ou teve que se amontoar no Dom Moura antes que o município conseguisse equipar uma urgência municipal para tratar pacientes com covid. 

Sobre a suposta economia com o fechamento do hospital, os números não mentem, certo?

Em 2013, o gasto com saúde municipal era de aproximadamente 43 milhões.:


No ano seguinte, saltaram para 63 milhões, ficando congelados em 2015, ano no qual, apenas com assistência hospitalar e ambulatórial (o que inclui os repasses para o Hospifal infantil) a prefeitura gastou cerca de 26 milhões de reais. 


Acima, os gastos com saúde em Garanhuns - 2014


Acima, os gastos com saúde em Garanhuns (2015).

Ou seja, não apenas o gasto aumentou, mesmo com a diminuição da prestação de assistencia médica, como os serviços hospitalares aumentaram dramaticamente de custo. Em todos os níveis, a decisão foi uma tragédia para a cidade e, diga-se de passagem, quase um crime contra a população, além de um péssimo negócio para o bolso do povo. 

O desastre - além do fato de municípios muito menores terem hospitais municipais - faz os olhos de prefeituraveis brilharem desde 2016. O atual prefeito, inclusive, elegeu-se com a promessa de reabrir o hospital; apesar de ter recebido mais de R$ 100 milhões do chamado orçamento secreto através do seu deputado federal, não moveu uma palha pelo projeto, deixando para assinar a ordem de serviço para construir o hospital em pleno período eleitoral atual, cumprindo uma nova promessa que consta em seu programa de governo atual.

Planeja Sivaldo Albino gastar uma verdadeira nota preta para reabrir o hospital, que vai ser construído do zero, bem ao estilo faraônico do prefeito e da família real que lhe serve de corte. Ao invés de aproveitar o prédio antigo, o plano é construir uma superestrutura nas margens da BR, o que deve levar, no mínimo, uns 4 ou até 8 anos. 

E o que dizem os demais candidatos?

O sr. Gersinho Filho levou ao limite a tradicional promessa de políticos garanhuenses de construir hospitais: prometeu não um, mas três deles (um hospital geral, o da criança e até um veterinário). Se nem com 100 milhões de orçamento secreto e outros 100 milhões que a caixa emprestou Garanhuns conseguiu construir um hospital simples, imagine três deles!

Na ponta oposta, o sr. Izaias Régis, o prefeito que fechou o hospital municipal, não dá o braço a torcer e simplesmente deixa claro que reabrir o hospital não está em seus planos, mas apenas construir novas UBS em áreas carentes e modernizar as atuais, como se ele tivesse feito muito disso quando teve a chance.

Dentre a promessa não cumprida, as promessas impossíveis e a simples negação da promessa, temos uma realidade: Garanhuns precisa de um hospital municipal mais do que nunca. Não ter uma unidade municipal de atendimento de urgência e um centro de diagnósticos não é apenas uma vergonha, mas abastece o cemitério e faz a alegria das funerárias de forma completamente evitável. Me pergunto qual cidade de 140 mil habitantes não possui unidade hospitalar municipal... 

Assim, em que pese sempre apareça nas promessas, o hospital municipal, tal qual uma máquina cara, foi quebrado e destruído pelo sr. Izaias e nenhum dos dois candidatos restantes têm planos concretos para seu restabelecimento. 

Nenhum dos candidatos propôs o básico: reformar o prédio do antigo hospital e construir um anexo com uma central de diagnósticos, ligada a todos os PSFs e UBS da cidade, mediante uma coisinha que todo plano de saúde safado utiliza: prontuário eletrônico. Ou seja, trata-se da possibilidade de o cidadão marcar consultas e solicitar exames sem sair de casa, com controle de prazos e de qualidade, e dispondo de uma urgência pública municipal de média e baixa complexidade - afinal, acionar o Hospital Regional para tirar um furúnculo ou um apêndice sobrecarrega o sistema e impede a unidade de tratar casos mais graves. 

Ah, e uma coisa básica: a cidade precisa não só de um hospital municipal, mas de uma UPA 24h, que foi construída e abandonada pelo ex-prefeito Régis e continua fechada pela atual gestão da família real. 

Enquanto isso, a população fica a ver navios - ou amontada no Dom Moura, enquanto seus políticos se tratam nos hospitais privados da cidade; inclusive aquele ex-prefeito que fechou o hospital e seus dois ex-aliados. Enquanto as mentiras e omissões perduram, o hospital que nunca volta é mais uma das lendas urbanas da política garanhuense, onde a única política municipal para a saúde parece ter a ver com um pacto de enriquecimento de coveiros e funerárias.

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