Reassisti ao clássico "O Mágico de Oz" recentemente. Ver toda aquela fantasia, que hoje me parece enfadonha, assim como a previsibilidade da história, me fez pensar: será que a Cidade das Esmeraldas é tão distante assim da triste Garanhuns?
Não que a Cidade das Flores não tenha seus leões covardes, homens de lata sem coração ou espantalhos sem cérebro, mas o marasmo de "já ter visto essa história várias vezes" domina quem se propõe a analisar as eleições municipais de 2024.
Por isso, começo aqui pela conclusão: o atual prefeito, Sivaldo Albino, será reeleito. Seus truques de mágico barato surtiram efeito, e os números cabalísticos das pesquisas confirmam sua vitória, mantendo a longa tradição iniciada pelo aliado Silvino Duarte.
Isso se dá pela baixa rejeição ao prefeito, pela ausência de fatos políticos explorados pela oposição e, principalmente, pelo erro da própria oposição em disputar o pleito dividida em duas candidaturas, repetindo o equívoco do ex-prefeito Izaias em 2020, que permitiu a dois aliados disputarem sua sucessão. Com a situação dividida, o atual prefeito unificou a rejeição ao candidato Silvino e saiu vencedor.
A segunda observação — e que chamou a atenção de todos — foi a baixa quantidade de candidatos, inclusive a vereadores. Isso ocorreu por causa da lei eleitoral, que reduziu o número máximo de candidatos a vereador por partido, burocratizou as campanhas e diminuiu a propaganda eleitoral, com o objetivo de reduzir a fragmentação partidária através da imposição de barreiras.
No entanto, parece-me que restringir tanto os candidatos e partidos acaba centralizando o poder de apresentar candidaturas nas mãos dos dirigentes partidários e dos endinheirados que podem financiar uma campanha. Em Garanhuns, cidade tipicamente governada por uma pequena elite, isso resultou exatamente em poucas candidatura$ a prefeito. Nesse cenário, dispondo de mais fundo partidário, cargos e poder, foi fácil para o prefeito arregimentar as principais lideranças do município e bater recorde de candidatos a vereador, batendo quase 80 dos 150 candidatos deste ano.
Para o povo, restou a tarefa desagradável de escolher entre três ex-aliados, sendo dois deles, como ensinou a atual governadora, capazes de muito bem se reconciliarem na "pizza de domingo" da família.
Por fim, outra coisa que faz as eleições em Garanhuns parecerem um capítulo perdido de "O Mágico de Oz" é a fantasia entediante na qual o garanhuense vive.
Ora, sabemos que o atual prefeito vencerá, mas por quê? A varinha mágica das obras de ocasião trabalhou bem, vitaminada pelas verbas do orçamento secreto (R$ 100 milhões, como disse o próprio gestor), fazendo o povo engolir a péssima prestação dos serviços de saúde, limpeza urbana, iluminação e manutenção das vias públicas. É como um pacto com uma força maligna, cuja celebração se deu no profano Festival de Inverno deste ano e no Natal Luz (que já nem sei mais qual o nome da ocasião).
Mesmo com o domínio total do mágico gestor, as bruxas do subdesenvolvimento, desemprego, crise na saúde e falência da zona rural ainda rondam a cidade. Só no ano passado, Garanhuns perdeu 1.219 empregos, batendo o recorde de desempregados em um único mês: 1.718 vagas a menos, justamente em dezembro, o mês áureo do Natal Luz. Sobre a qualidade dos PSFs e o abandono do campo, não há o que comentar.
E os críticos, o que fizeram? Iludiram-se com as eleições de 2022, em que o deputado Izaias venceu o prefeito e a família real, mas a falta de influência no governo estadual (que maltrata bastante Garanhuns) selou a derrota da oposição.
Esse é o cenário deste ano: as mágicas do vil metal garantirão mais quatro anos de reinado da família real, mesmo com as bruxas à solta. Parece a história de sempre, com os personagens de sempre, morosa e previsível, mas com um final diferente: aqui, a mocinha ingênua não vence as bruxas nem desmascara o mágico impostor, mas prefere deixar tudo exatamente como está.
Não haverá fada madrinha ou príncipe encantado para salvar Garanhuns. Aqui, o mal vencerá pelo 32º ano seguido, fazendo da terra de Simoa uma cidade das Esmeraldas: perfeita apenas nas ilusões fabricadas por um mágico de araque.
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