domingo, 22 de setembro de 2024

Candidatos de Garanhuns: Sivaldo Albino, o Mágico


Dentre os personagens do teatro eleitoral, o papel de protagonista do pleito de 2024 cabe à atração principal do show: o prefeito Sivaldo Albino. Uma vez abertas as cortinas, todos estão fixos nos seus truques; mas quem é o homem por trás da cartola?

Sivaldo era um típico garanhuense comum até se eleger vereador, há mais de 20 anos. Pesava a seu favor o fato de ser filho de um ex-vereador e de representar uma nascente classe média em Garanhuns. E foi para esse público que ele pautou sua política por mais de uma década. 

Apontado como uma estrela em ascensão, a amizade com o então todo-poderoso prefeito Silvino Duarte lhe garantiu uma posição de destaque no governo de Luiz Carlos, o sucessor de seu padrinho. Foi aí que Sivaldo se tornou presidente da Câmara e conduziu o legislativo nos anos perdidos do governo Luiz Carlos, não tomando qualquer medida para reverter a perda de indústrias ou investimentos importantes dos anos dourados do governo Lula. 

Sem maiores destaques enquanto presidente da Câmara, se lançou candidato a deputado estadual em 2010, sem grandes resultados, e apoiou o retorno do padrinho Silvino em 2012, cujo pleito terminou com uma reviravolta: Silvino desistiu da candidatura para apoiar Izaias Régis, visto que ambos iriam perder para Zé da Luz. Albino seguiu seu padrinho.

Inicialmente aliado de Izaias, Sivaldo terminou se transformando no único vereador de oposição ao citado. Era comum ele surgir, nas rádios, com "denúncias" e as vezes até chorar se dizendo perseguido, alem de se apresentar como o síndico da cidade e homem mais ético em um raio de 200 km. Nessa época, era o vereador mais votado na cidade, graças ao voto da classe média que sempre o apoiou. 


Até 2016, Sivaldo era o típico político conservador saudosista dos anos FHC, indignado com a corrupção do governo petista e organizador das passeatas pró-impeachment de Dilma Rousseff. Isso porque, além de Silvino, seu outro padrinho político era o deputado Raul Jungmann, principal liderança do PPS ao lado do ex-senador Roberto Freire. 

Ocorre que esse grupo do PPS deixou a oposição ao governo estadual do PSB para apoiar o então governador Eduardo Campos, visto que este rompeu com o PT. Assim, Sivaldo se transformou em um membro da "Frente Popular" que combateu desde o início da sua vida política. 

E foi como o único político expressivo da Frente Popular em Garanhuns que, em 2016, os chefes do PSB resolveram escolhê-lo para ser candidato a prefeito contra o bem avaliado Izaias. A escolha se deu às portas da eleição e consistiu em uma aposta: já se sabia que Izaias venceria com facilidade, mas também se identificou um nicho de oposição ao seu governo que, até então, não tinha um candidato. Naquela eleição a chance de vencer não existiria, mas a parte da população que rejeitava Izaias poderia ser a base para, nos pleitos posteriores, dar bons resultados eleitorais em 2018 e, assim, permitir ao PSB e sua Frente Popular retomar o controle de uma prefeitura perdida há vinte anos. 

Sivaldo, então, se reinventou politicamente, esquecendo o passado recente de conservador, e saiu das eleições de 2016 com aproximadamente 16 mil votos, praticamente o dobro do esperado. A derrota sedimentou uma base eleitoral forte o bastante para que o então governador Paulo Câmara o nomeasse para um cargo no governo estadual, além de lhe garantir a indicação dos mais importantes cargos estaduais em Garanhuns. 


(Sivaldo, na época em que tinha menos cabelos)

Sivaldo, ungido com o poder, começou a fazer suas mágicas e, em 2018, quase foi eleito deputado estadual, derrotando facilmente o candidato de Izaias, o forasteiro Álvaro Porto - que devolveu o apoio de Izaias levando o frigorífico e toda a verba que podia para sua cidade, Canhotinho. 

Mesmo sem ser eleito, o governador nomeou um dos deputados do PSB para o secretariado e permitiu a Sivaldo exercer o mandato de deputado.

O neoesquerdista deu um tapa no visual, botou cabelo onde não tinha e chegou a 2020 como candidato oficial a prefeito em nome do governador e do PSB. O partido investiu muito nessa empresa, mas 2020 foi o ano da pandemia e a campanha politica foi muito afetada. Longe de poder fazer o mão-a-mão de sempre, Sivaldo teve que disputar o voto com mais cinco candidatos, sendo os mais expressivos Zaqueu e o padrinho do próprio Sivaldo, Silvino Duarte. 

Silvino foi imposto pelo deputado Fernando Rodolfo, a contragosto do próprio Izaias Régis, que simplesmente fez corpo mole pelo antigo aliado. Já Zaqueu absorveu parte dos apoiadores do governo e, com a situação dividida, o voto do eleitor que rejeitava Izaias e Silvino se concentrou em Sivaldo - que só passou a atacar os antigos aliados na reta final da campanha. 

Com uma penca de votos, Sivaldo chegou ao trono de Garanhuns e, ali, pareceu que os 24 anos de domínio do mesmo grupo político havia chegado ao fim. 

Isso pareceu ser verdade no primeiro decreto da gestão, assim que Albino assumiu a prefeitura: demitiu todos os comissionados, da noite para o dia, ocupando os cargos lentamente ao longo de 2021. Lembro, aliás, de figuras desesperadas por perder um ganha-pão que julgavam ser eterno.

A "varrida", no entanto, causou a paralisia da máquina pública e tornou a prefeitura incapaz de responder aos graves problemas deixados por Izaias, principalmente nas dezenas de obras acabadas, asfalto se abrindo a céu aberto e crise até na coleta de lixo. Para completar, o prefeito resolveu nomear dois irmãos como secretários de governo, além de por primos e parentes por toda a Administração municipal, muitos deles sem qualquer formação ou experiência. 

Foram símbolos do desastre dos dois primeiros anos de governo a tragédia de uma moça que foi sugada por um buraco e a inesquecível cratera da Paulo Guerra, que causou pânico aos moradores da região. Ao passo em que a cidade perigava ser engolida por uma voçoroca, Albino e seus aliados ostentavam em viagens e festas de luxo, exibindo cada vez mais sinais de riqueza pessoal. 


Mesmo que tenha, em seu primeiro ano, tido quase unanimidade na Câmara de vereadores, a popularidade do prefeito andava em baixa, justamente em 2022, ano eleitoral. Havia a expectativa de derrota iminente do PSB e Sivaldo, aí, comete o pior erro da sua vida política: lançou seu próprio filho como candidato oficial a deputado estadual. 

Como não podia deixar de ser, a população viu aquela candidatura como apenas mais um Albino tentando assumir um cargo para nomear parentes e o príncipe Albino não conseguiu êxito, sendo derrotado, na cidade, pelo ex-prefeito Izaias. Viralizou, na época, um áudio do próprio Sivaldo implorando a João Campos, então prefeito do Recife, uns 3 ou 4 mil votos para viabilizar a eleição do príncipe garanhuense. 

No entanto, as eleições de 2022 não foram uma derrota total para Sivaldo, que conseguiu entregar cerca de 10 mil votos a seu deputado federal, o empresário radicado carioca Carreras, que devolveu o apoio com muitas emendas parlamentares do orçamento secreto. 

Com o dinheiro entrando, a Câmara de vereadores sob controle e uma oposição que já acreditava estar com um pé na prefeitura, Sivaldo montou o seu show: o prefeito que deixou a cidade ser engolida pelos buracos se transformou no tocador de obras, entregando praças, prédios, escolas, postos de saúde e até um parque. Com dois toques da varinha de mágico, o prefeito entrou em 2024 como favorito.

No entanto, o prefeito deixou a população a ver navios em muita coisa. O hospital municipal continua como um sonho distante, nada do teleférico, nem dos novos festivais, nem das indústrias, incubadoras de empresas ou apoio às feiras populares. 

Para a nova gestão, Sivaldo prometeu revisar o Plano diretor de Garanhuns (que impede que a cidade cresça verticalmente), além de pavimentar todas as ruas da cidade (ambicioso, não?) e construir um acesso ligando a Liberdade à Cohab II. Na educação, além de ampliar e melhorar o que já existe, Albino pretende conceder a seus súbitos mais 4 creches e escolas em tempo integral, além de propostas revolucionárias como entregar fardamento e kits escolares (e se propõe, é porque isso não acontece hoje, imagino). 

Mas, se as propostas da educação parecem ter saído do chat gpt, as da saúde têm mais lógica. A principal delas é a construção do hospital municipal, de uma central de partos e de um centro farmacêutico, com propostas copiadas de outras cidades serviço de enfeite para o plano de governo (como exemplo, a batida ideia de implantar consultórios de rua ou construir mais UBS - mas onde, quando e com quais critérios, ninguém sabe!).

Na assistência social, a ideia é abrir um novo CREAS, criar um centro do idoso e fazer o feijão com arroz na área. Sobre a população de rua em crescimento, o perigo dos dependentes e a assistência à população pobre, nem uma palavra, em que pese Sivaldo prometa construir um abrigo para crianças abandonadas e uma "república" para jovens de 18 e 21 anos (e o restante?). Destaco a promessa de criar um restaurante popular (também copiado do PSB recifense) e a criação de uma casa de apoio em Recife (o que já existe!).

As propostas sobre desenvolvimento, no entanto, são curiosas: ali consta a velha lorota de incentivo ao primeiro emprego, reabertura da escola técnica municipal e microcredito para o empreendedor (uma proposta copiada do plano de governo de João Campos, lá de 2020). Também se propôs criar um banco comunitário e uma moeda de mentirinha ("Garoa". Consegue acreditar?), além de criar uma agência do emprego (um serviço inútil, visto já existir um órgão estadual para isso) e reestruturar os espaços do comércio popular (Pop Shop, mercado 18 de agosto e a CEAGA). Aliás, porque reestruturar a CEAGA, que acabou de ser reformada? 

Sobre o turismo, se propôs um monte de programas sem sentido, além de implantar um pavilhão de feiras e eventos, instalar o tão famoso teleférico e criar a festa dos quilombos. O resto são só boas intenções. Nenhuma palavra sobre transformar Garanhuns na terra dos festivais, nem de fomentar indústrias e produtores locais para produzir bens de consumo nos principais eventos do município. 

Sobre a cultura, a principal proposta é manter o FIG sob organização da prefeitura, além de criar dois museus, uma escola de arte e uma casa da cultura. 

Por fim, as propostas para a para a área rural, se propôs o básico (como cuidar das estradas vicinais) e as velhas promessas de banco de sementes e apoio ao agricultor de acordo com o que ele planta e recuperar culturas de plantio já perdidas, como o café. No meio de tudo, se falou em padronizar ambulantes e as feiras livres (o que não deu muito certo na gestão Izaias). 

O que podemos concluir das propostas de Sivaldo? A maioria veio diretamente do Chat GPT e do plano de governo de João Campos de 2020. Outras claramente foram copiadas do plano de governo do próprio Sivaldo em 2020 e, por sua vez, outras ignoram a realidade (como criar algo que já existe ou reformar uma CEAGA que acabou de ser reformada). 

Desnecessário dizer, mas com a grande maioria dos candidatos a vereador o apoiando e toda a máquinha dos comissionados da prefeitura, além do reforço do orçamento secreto, a família real ficará mais 4 anos no governo.

Em suma, Sivaldo está há poucos dias de conseguir um segundo mandato, mas duvido que fará o sucessor. Isso porque uma das fontes de receitas para as muitas obras que conduz veio de dívidas contraídas com vários bancos. O cheque não será tão gordo assim ao longo do segundo mandato. 

Enfim, Sivaldo Albino está acostumado a fazer mágicas e a se reinventar. Deixou de ser um assalariado para ser vereador, presidente da Câmara e candidato mais votado; ficou careca e, depois, cabeludo; era conservador de direita do tipo que usava camisa da CBF e tudo e, hoje, não só faz o L como traz propostas para populações oprimidas; vivia criticando todo mundo em nome da ética e dos bons costumes e, no poder, cometeu mais atos de nepotismo que os coronéis de antigamente. Demorou um ano para tapar dois buracos, mas entregou um parque em quatro meses e, de promessa jovem da política e esperança da classe média, se transformou em um caudilho familiar das antigas. 

Entre a mágica e a pura farsa, Albino vai fazendo seu feitiço que, na verdade, é só a continuação da histórica política dos últimos 30 anos de Garanhuns: prefeitos fracos garantem mais 4 anos com muito apoio espontâneo da Câmara e obras de sal e nunca mais têm relevância após os 8 anos, sendo processados e tendo os bens congelados depois. 

Se Sivaldo terminará assim, é uma aposta, e é uma pena que o futuro de 140 mil garanhunenses esteja diretamente nessa nesse bolão!

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O (o)caso do Hospital Municipal de Garanhuns


Acompanhando essas eleições (nada emocionantes) em Garanhuns, vemos que alguns temas merecem destaque. É que a saúde do garanhuense vem sendo tratada com sangrias e emplastos por tempo demais!

Dito isto, volta e meia, reabrir o hospital municipal é o prato principal das promessas dos candidatos a prefeito - menos um, como veremos. 

Nessas eleições, dois dos três candidatos prometeram reabrir a instituição. Em 2020, todos os candidatos fizeram a mesma promessa. Mas, antes de analisarmos se os planos dos atuais candidatos possuem algum sentido, que tal uma rápida viagem no tempo e perguntarmos: quem tirou o hospital de Garanhuns?

O Google e as lendas urbanas não nos deixam mentir: lá em 2013, o então novo prefeito de Garanhuns, o sr. Izaias, comunicou à imprensa que o hospital estava sendo "interditado" por conta dos altos custos. Segundo disse o todo-poderoso de plantão, "um parto custava 300 mil". Logo, ficou claro que a "interdição" era puro fechamento, com médicos e profissionais sendo demitidos ou realocados e a cidade perdendo sua urgência municipal. Todos os atendimentos foram transferidos para o Hospifal infantil, que, na época, não possuía urgência, mas apenas ambulatório e enfermaria. 

Ao lado de Izaias, estavam Gersinho Filho (vereador, líder da maioria, futuro presidente da Câmara e secretário municipal do mesmo Izaias) e Sivaldo Albino, também aliado do prefeito. Nenhum deles disse um aí quando o pessoal da secretaria de saúde trancou os portões do hospital - e até hoje vemos suas ruínas.

Ou seja, a única emergência pública para uma cidade de 140 mil habitantes passou a ser apenas a do Hospital Dom Moura. E o resto da história o cemitério conhece bem.

Mas, se o objetivo era economizar (não nos caixões, claro), será que essa medida radical - fechar o hospital - deu realmente frutos? 

Quanto à qualidade dos serviços de saúde municipal, precisamos de um rápido salto no tempo para responder: basta lembrarmos que, durante a pandemia de 2020, a cidade estava totalmente despreparada. Muita gente morreu ou teve que se amontoar no Dom Moura antes que o município conseguisse equipar uma urgência municipal para tratar pacientes com covid. 

Sobre a suposta economia com o fechamento do hospital, os números não mentem, certo?

Em 2013, o gasto com saúde municipal era de aproximadamente 43 milhões.:


No ano seguinte, saltaram para 63 milhões, ficando congelados em 2015, ano no qual, apenas com assistência hospitalar e ambulatórial (o que inclui os repasses para o Hospifal infantil) a prefeitura gastou cerca de 26 milhões de reais. 


Acima, os gastos com saúde em Garanhuns - 2014


Acima, os gastos com saúde em Garanhuns (2015).

Ou seja, não apenas o gasto aumentou, mesmo com a diminuição da prestação de assistencia médica, como os serviços hospitalares aumentaram dramaticamente de custo. Em todos os níveis, a decisão foi uma tragédia para a cidade e, diga-se de passagem, quase um crime contra a população, além de um péssimo negócio para o bolso do povo. 

O desastre - além do fato de municípios muito menores terem hospitais municipais - faz os olhos de prefeituraveis brilharem desde 2016. O atual prefeito, inclusive, elegeu-se com a promessa de reabrir o hospital; apesar de ter recebido mais de R$ 100 milhões do chamado orçamento secreto através do seu deputado federal, não moveu uma palha pelo projeto, deixando para assinar a ordem de serviço para construir o hospital em pleno período eleitoral atual, cumprindo uma nova promessa que consta em seu programa de governo atual.

Planeja Sivaldo Albino gastar uma verdadeira nota preta para reabrir o hospital, que vai ser construído do zero, bem ao estilo faraônico do prefeito e da família real que lhe serve de corte. Ao invés de aproveitar o prédio antigo, o plano é construir uma superestrutura nas margens da BR, o que deve levar, no mínimo, uns 4 ou até 8 anos. 

E o que dizem os demais candidatos?

O sr. Gersinho Filho levou ao limite a tradicional promessa de políticos garanhuenses de construir hospitais: prometeu não um, mas três deles (um hospital geral, o da criança e até um veterinário). Se nem com 100 milhões de orçamento secreto e outros 100 milhões que a caixa emprestou Garanhuns conseguiu construir um hospital simples, imagine três deles!

Na ponta oposta, o sr. Izaias Régis, o prefeito que fechou o hospital municipal, não dá o braço a torcer e simplesmente deixa claro que reabrir o hospital não está em seus planos, mas apenas construir novas UBS em áreas carentes e modernizar as atuais, como se ele tivesse feito muito disso quando teve a chance.

Dentre a promessa não cumprida, as promessas impossíveis e a simples negação da promessa, temos uma realidade: Garanhuns precisa de um hospital municipal mais do que nunca. Não ter uma unidade municipal de atendimento de urgência e um centro de diagnósticos não é apenas uma vergonha, mas abastece o cemitério e faz a alegria das funerárias de forma completamente evitável. Me pergunto qual cidade de 140 mil habitantes não possui unidade hospitalar municipal... 

Assim, em que pese sempre apareça nas promessas, o hospital municipal, tal qual uma máquina cara, foi quebrado e destruído pelo sr. Izaias e nenhum dos dois candidatos restantes têm planos concretos para seu restabelecimento. 

Nenhum dos candidatos propôs o básico: reformar o prédio do antigo hospital e construir um anexo com uma central de diagnósticos, ligada a todos os PSFs e UBS da cidade, mediante uma coisinha que todo plano de saúde safado utiliza: prontuário eletrônico. Ou seja, trata-se da possibilidade de o cidadão marcar consultas e solicitar exames sem sair de casa, com controle de prazos e de qualidade, e dispondo de uma urgência pública municipal de média e baixa complexidade - afinal, acionar o Hospital Regional para tirar um furúnculo ou um apêndice sobrecarrega o sistema e impede a unidade de tratar casos mais graves. 

Ah, e uma coisa básica: a cidade precisa não só de um hospital municipal, mas de uma UPA 24h, que foi construída e abandonada pelo ex-prefeito Régis e continua fechada pela atual gestão da família real. 

Enquanto isso, a população fica a ver navios - ou amontada no Dom Moura, enquanto seus políticos se tratam nos hospitais privados da cidade; inclusive aquele ex-prefeito que fechou o hospital e seus dois ex-aliados. Enquanto as mentiras e omissões perduram, o hospital que nunca volta é mais uma das lendas urbanas da política garanhuense, onde a única política municipal para a saúde parece ter a ver com um pacto de enriquecimento de coveiros e funerárias.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

As eleições de 2024 em Garanhuns: O Mágico de Oz


Reassisti ao clássico "O Mágico de Oz" recentemente. Ver toda aquela fantasia, que hoje me parece enfadonha, assim como a previsibilidade da história, me fez pensar: será que a Cidade das Esmeraldas é tão distante assim da triste Garanhuns?

Não que a Cidade das Flores não tenha seus leões covardes, homens de lata sem coração ou espantalhos sem cérebro, mas o marasmo de "já ter visto essa história várias vezes" domina quem se propõe a analisar as eleições municipais de 2024.

Por isso, começo aqui pela conclusão: o atual prefeito, Sivaldo Albino, será reeleito. Seus truques de mágico barato surtiram efeito, e os números cabalísticos das pesquisas confirmam sua vitória, mantendo a longa tradição iniciada pelo aliado Silvino Duarte.

Isso se dá pela baixa rejeição ao prefeito, pela ausência de fatos políticos explorados pela oposição e, principalmente, pelo erro da própria oposição em disputar o pleito dividida em duas candidaturas, repetindo o equívoco do ex-prefeito Izaias em 2020, que permitiu a dois aliados disputarem sua sucessão. Com a situação dividida, o atual prefeito unificou a rejeição ao candidato Silvino e saiu vencedor.

A segunda observação — e que chamou a atenção de todos — foi a baixa quantidade de candidatos, inclusive a vereadores. Isso ocorreu por causa da lei eleitoral, que reduziu o número máximo de candidatos a vereador por partido, burocratizou as campanhas e diminuiu a propaganda eleitoral, com o objetivo de reduzir a fragmentação partidária através da imposição de barreiras. 

No entanto, parece-me que restringir tanto os candidatos e partidos acaba centralizando o poder de apresentar candidaturas nas mãos dos dirigentes partidários e dos endinheirados que podem financiar uma campanha. Em Garanhuns, cidade tipicamente governada por uma pequena elite, isso resultou exatamente em poucas candidatura$ a prefeito. Nesse cenário, dispondo de mais fundo partidário, cargos e poder, foi fácil para o prefeito arregimentar as principais lideranças do município e bater recorde de candidatos a vereador, batendo quase 80 dos 150 candidatos deste ano.

Para o povo, restou a tarefa desagradável de escolher entre três ex-aliados, sendo dois deles, como ensinou a atual governadora, capazes de muito bem se reconciliarem na "pizza de domingo" da família.

Por fim, outra coisa que faz as eleições em Garanhuns parecerem um capítulo perdido de "O Mágico de Oz" é a fantasia entediante na qual o garanhuense vive.

Ora, sabemos que o atual prefeito vencerá, mas por quê? A varinha mágica das obras de ocasião trabalhou bem, vitaminada pelas verbas do orçamento secreto (R$ 100 milhões, como disse o próprio gestor), fazendo o povo engolir a péssima prestação dos serviços de saúde, limpeza urbana, iluminação e manutenção das vias públicas. É como um pacto com uma força maligna, cuja celebração se deu no profano Festival de Inverno deste ano e no Natal Luz (que já nem sei mais qual o nome da ocasião).

Mesmo com o domínio total do mágico gestor, as bruxas do subdesenvolvimento, desemprego, crise na saúde e falência da zona rural ainda rondam a cidade. Só no ano passado, Garanhuns perdeu 1.219 empregos, batendo o recorde de desempregados em um único mês: 1.718 vagas a menos, justamente em dezembro, o mês áureo do Natal Luz. Sobre a qualidade dos PSFs e o abandono do campo, não há o que comentar.

E os críticos, o que fizeram? Iludiram-se com as eleições de 2022, em que o deputado Izaias venceu o prefeito e a família real, mas a falta de influência no governo estadual (que maltrata bastante Garanhuns) selou a derrota da oposição.

Esse é o cenário deste ano: as mágicas do vil metal garantirão mais quatro anos de reinado da família real, mesmo com as bruxas à solta. Parece a história de sempre, com os personagens de sempre, morosa e previsível, mas com um final diferente: aqui, a mocinha ingênua não vence as bruxas nem desmascara o mágico impostor, mas prefere deixar tudo exatamente como está.

Não haverá fada madrinha ou príncipe encantado para salvar Garanhuns. Aqui, o mal vencerá pelo 32º ano seguido, fazendo da terra de Simoa uma cidade das Esmeraldas: perfeita apenas nas ilusões fabricadas por um mágico de araque.