terça-feira, 7 de março de 2017

UMA REVOLUÇÃO DE "SEGUNDA CLASSE''


Nordestino é subestimado até nas suas revoluções. Com exceção de Chico Pinheiro no Bom dia Brasil, poucos na grande mídia nacional lembraram que já foram 200 anos da única revolta colonial que alcançou o poder em nossa história. Poucos são os trabalhos acadêmicos publicados sobre ela (e isso até por aqui!). Além da bela bandeira de Pernambuco e de algumas ruas e avenidas (restritas geralmente ao Recife e região), quase não restam menções ou homenagens.

O mais triste é lembrar que, ao lado da revolução de 1817, figuram várias outras mais locais e restritas. A guerra dos Mascates já vem virando nota de rodapé nos livros. A praieira se reduz a um "reflexo'', em terras pernambucanas, da "primavera dos povos'' europeia. Da Confederação só se costuma destacar a coragem de Frei Caneca. Outras, menos "pops'', como a Conjuração do pai-nosso, a Conspiração dos Suass(ç)unas e a "Cabanada'' (um curioso "mix'' que visava restaurar o "opressor'' Pedro I e acabar com a escravidão) são desconhecidas até mesmo por parte relevante dos pernambucanos.

Se existe motivação para esse "esquecimento'' da tradição libertária do nordeste (e de Pernambuco em especial) é porque, talvez, as revoltas sulistas, geralmente glorificadas (como no caso daquela "comandada'' por um alferes alcoólatra abandonado por todos os seus "companheiros''), servem ao espírito de grandeza e sentimento de superioridade dos que se acham melhores que o resto do país. Me arriscaria a dizer que não foram revoluções "tão revolucionárias assim''; talvez nem mesmo tão intensas quanto uma revolta onde até mesmo se pensou em libertar Napoleão Bonaparte para comandar as tropas da liberdade...

Esse sentimento e essa emoção, o desejo por levantar a cabeça e rugir, feito leão coroado, contra as barbaridades e privilégios de uma elite exploradora e corrupta que suga todos os escassos recursos da região mais pobre do país para seu bel-prazer nunca devem ser esquecidos. Daí a importância de lembrar os que em 1817 disseram "não'' à tirania da Corte mais atrasada da Europa. Não muito diferente daquela que está instalada no Planalto Central atualmente, sugando 70% dos recursos públicos, onde não existe nobreza de nome mas os privilégios são até superiores aos da antiga Família Real...

Enquanto a Corte de Brasília saqueia o nosso bolso, uma última lição de 1817. Mesmo derrotados, os últimos soldados da revolução permaneceram no Recife para entregar o Cofre Público às autoridades portuguesas. Quando perguntados o motivo de simplesmente não terem fugido com a grana (pública), o grupo respondeu: "porque nós vamos entrar para a História como revolucionários, não como ladrões”

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