"na porta dos infernos
eu olhava almas sofridas
e os servos de Minos
a julgar suas feridas
até tuas mãos brancas
alvas de tão cândidas
desfazerem os nós das correntes
e ali eu vi que havia ser vivente
quão louco fiquei
por ti, tudo empenhei
fiquei avarento do teu calor
queria teu corpo só para meu amor
pois a luz dos teus cabelos
ali reluziu como um sol
nascido em plena meia-noite
mas pode teu brilho ofuscar tamanhos pesadelos?
teria sido belo dizer
que os apenados contigo se consolaram
mas, para mim, quão bem fez
quando tuas ancas ao meu lado dançaram
observei tua graça ir e vir
por ti cruzei todos os círculos do inferno
na ânsia do desejo, por êxtase terno
e, em meio aos suplícios, sorri
injuriosa, blasfema, desonrosa
gatuna, ávara, orgulhosa
pedante, gulosa e homicida
quantas faces pode ter uma paixão enlouquecida?
sobre ela, até as pedras dos juízes se calam
pois quem pode atirá-las, se te amam
quem não poderia desejar-te, nem te possuir
com a ferocidade de animais a se unir?
me amarraste às pedras
e me fizeste amá-las como a ti
empurro-a e beijo teus pés de figueiras
me julguem ou fechem os olhos
pois tê-la é o único paraíso possível para os condenados
o último sopro de vida,
uma gota de mel sobre um mar morto.''
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