terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O país onde os vilões têm finais felizes



O mestre Maquiavel ensinou que o bom político é o que usa tudo em seu favor, até o que em princípio pode o destruir. Ontem, a grande manobra política urdida pela quadrilha suprapartidária que governa o país vem chegando ao seu clímax. 

1 - Um temor: e se eles se voltassem contra nós?

Depois de tremer de medo com as manifestações de 2013, a gangue política do PMDB interpretou bem os movimentos: eram de contestação geral ao estado de coisas, mas toda aquela raiva e indignação difusas precisavam de um destinatário claro e estava óbvio que eles pagariam o pato. Afinal, a menor reflexão indicaria que os responsáveis diretos pela bandalheira, caos nos serviços públicos e politicagem provinciana eram os próceres do PMDB e partidos nanicos de aluguel.  

2 - Camuflar para sobreviver: como apoiar os dois lados em uma eleição bipolarizada

Foi aí puseram em prática o plano: se dividiram em dois (PMDB do Rio, RS, SP, PE, MA e outros Estados com Aécio, PMDB de MG e afins com Dilma) e apoiaram os dois lados na eleição de 2014, sabendo que um dos dois acabaria se tornando o alvo retardado das manifestações de 2013. Acabaram camuflando-se, como parasitas, para saírem vencedores seja qual fosse o eleito. 

3 - Analisando o cenário: quanto pior, melhor

Perceberam que o país saiu rachado, que a crise ia pegar geral e as fatias do bolo das verbas públicas iria diminuir; por isso patrocinaram Eduardo Cunha para formar o centrão, chantagear Dilma e "arrancar mais'' desse bolo.

Vieram as pautas bomba e o país explodiu. Fizeram jogo duplo, ora soltando Cunha da coleira, ora salvando Dilma, mas perceberam que ela e o PT é que condensaram toda a indignação popular. E, nas sombras, estimularam esse sentimento, enquanto mantinham um governo impopular só até o ponto em que lhes foi conveniente. Todo este tempo, se camuflaram apoiando os dois lados em uma batalha cujo único vencedor possível eram eles próprios.

Viram que a crise chegara em níveis ameaçadores para a banqueirada e os parasitas do Estado (vulgo "empresários'' da carteira do BNDES), trouxeram os movimentos anticorrupção para debaixo do braco, derrubaram o castelo de areia de Dilma e dividiram meio a meio o governo com o partido derrotado nas eleições. Adquiriram automaticamente o apoio velado dos eleitores desse partido (quase metade do país). Era a "lua de mel'' do novo governo.

4 - Puxando o tapete: é hora de sair dos bastidores

Prometeram estabilizar o país, se aproveitaram do cansaço popular e elegeram alguns azarados para serem sacrificados (Cunha, Cabral etc.). Se aproveitaram do silêncio da opinião pública e da lentidão da justiça para aprovar algumas reformas e dividiram o bolo que elegeram os presidentes da Câmara e do Senado. Foram os maiores vitoriosos nas eleições municipais, que confirmou sua aposta de que o PT levaria a culpa de tudo no final.

Pela primeira vez desde a saída de José Sarney do poder, o PMDB voltou a exercer diretamente o poder, mostrando sua cara ao mundo e lançando um mudo desafio: somos bandidos sim, somos safados sim e vamos governar sim. E o mundo calou-se.

5 - "A Fortuna ama os ousados''

Misteriosamente, a sorte os favoreceu, o relator da lava jato morreu "acidentalmente'' e agora indicaram o ministro mais forte do governo para sucedê-lo no STF e revisar a própria lava-jato. Isso depois de criar um ministério para proteger um delatado e investigado com as graças do foro privilegiado.

6 - Desvendando as mentes criminosas

Quer saber? O PMDB e sua gangue mafiosa tiveram uma leitura brilhante do cenário político pós-2013. Perceberam que o país iria se dividir em dois, estiveram dos dois lados, se uniram ao que ficou mais forte, souberam a hora de agir e esquematizaram um plano para "sobreviver'' à lava jato. Quase um "pacto''. Agora, surfam no desgaste da crise, na morosidade judicial e no lobby junto ao STF e TSE para governar até 2018 e, logo após, permanecer no governo quando algum tucano for eleito presidente. Vão ficar exatamente onde estão. Talvez por uma década, duas, talvez até o fim da triste história brasileira.

7 - Tudo sob controle: tudo passa, menos eles

Criaram e difundiram o mito mais poderoso de ser derrubado no momento: o de que PT, PSDB e outros "idealistas'' passam, mas eles é que são indispensáveis ao país. Ah, sem eles o Brasil é "ingovernável''. Se infiltraram em tantos lugares e esferas que já são a alma do país. Construíram um império dentro da máquina pública. Como Renan Calheiros, são os sobreviventes, e sobrevive quem mantém o poder na mão, seja qual for a cara que esteja na moeda da vez.

Agora, com o personagem de histórias em quadrinhos no STF, o caminho está aberto para a vitória total. O povo vai pagar a conta calado, os "indignados'' vão ficar quietos com o "lulopetismo'' agonizante para combater, o tucanato moralista ficou atrelado demais ao governo para derrubá-lo e a "esquerda'' vai continuar alienada em suas universidades, debates entre 4 paredes e militância virtual. Exatamente como os gênios do mal pensaram.

É. Na nossa história parece que os vilões sempre ganham.

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