Confesso que estou cansado de política. Cada vez mais, no Brasil, todas as discursões se limitam a um jogo entre caciques partidários, em um grande jogo sujo onde alianças são feitas e desfeitas, boatos são veículados e a sociedade é apenas um boneco inerte, sendo jogada de um lado para o outro. A oposição (Tucanos, demos, mídia...) se uniu, depois de 11 anos de derrotas esmagadoras, e agora busca não propor um projeto para o país, mas simplesmente denegrir a imagem de Lula. Parece que chegamos a um nível tão baixo no debate político que nos limitamos a ouvir a oposição falando sobre o passado e a figura de dois únicos homens: FHC foi demais, um gênio, um heroi; Lula, um ladrão, um corrupto, analfabeto, que deve todo o Êxito de seu governo ao príncipe dos sociólogos. Pior: o governo do PT não fez as reformas necessárias para continuar a "modernização'' cardosina-tucana. Eu me pergunto como essas polêmicas históricas podem ajudar a construir propostas para o país. Porque até agora, poucas surgiram ("resgatar a herança do governo FHC...'' quantas bocas isso vai alimentar mesmo?). E é pior ainda ver o mancomunamento promíscuo entre certos jornalistas e a oposição, que apenas defendem seus próprios interesses: querem cargos, verbas públicas de publicidade, imprensa continuamente desregulada. O país? Que afunde, é melhor...
O lado do governo petista não melhora muita a situação. O governo perdeu o controle da sua base aliada, sofreu inúmeras derrotas no Congresso e está refém dos caciques do PMDB - basta notar a maneira ditatorial e feudal pela qual está sendo conduzida as candidaturas de Henrique Eduardo Alves, herdeiro de uma corrupta oligarquia potiguar, e Renan Calheiros, um coronel alagoano representante dos usineiros. Diante do ataque cerrado da oposição, o governo permanece quieto. A tudo ignora. Não se defende das acusações, não tem força pra fazer as reformas estruturais necessárias e raciocina com base "no ano que vem'', sem uma visão de longo prazo. Só importa que hoje a inflação esteja controlada e os índices de consumo e crédito subam. O PT parou no tempo, perdeu seus ideais, se limita a simplesmente tentar permanecer no poder e prolongar indefinidamente um modelo de crescimento econômico baseado no consumo via endividamento e uma forma de organização política embasada num presidencialismo de coalizão imperial, que devora quase todos os recursos do país em obras suspeitas e em despesas financeiras que arrasam a capacidade de investimento do Estado, baixam as taxas de poupança e impedem o país de crescer. Tudo isso, é claro, fundado num modelo de governança que fundiu os pilares da macroeconomia lançados por FHC com algumas medidas distributivas de renda e uma maior intervenção do Estado na economia: ambos se mostram esgotados. Estamos em 2013, mas economicamente paramos em 2010. O pior de tudo é o fato de que a cúpula do partido foi sequestrada por uma oligarquia, o que causa uma tremenda divisão nas hostes petistas, indignadas com o total domínio que figuras como Dirceu exercem na sigla. O resultado é a perda de credibilidade do partido ante as massas e o fornecimento de munição para os ataques dos adversários.Os brasileiros também se cansaram dessa lenga-a-lenga entre PSDB e PT. Quase 60% da população é apartidária, embora 24 % ainda apoiem o PT e meros 5%, o PSDB. Ambos os partidos perdem, ano após ano, apoiadores. Travam uma luta esquizofrênica, que apenas disfarça seus próprios interesses. O desgaste de ambos vem sendo aproveitado como uma brecha na qual um certo governador tenta se inserir como alternativa ao vermelho-azul.
Eduardo Campos vem agindo com francas pretensões ao Planalto. Já lançou o discurso da grande reforma do pacto federativo, que deveria, segundo ele, assumir uma feição mais descentralista. O pior é que Eduardo é na verdade o símbolo do casamento entre o governismo de coalizão, a tecnocracia e as velhas práticas políticas oligárquicas. Suas pretensões podem unir os grupos políticos que se digladiam em uma frente em comum por mais uma modernização conservadora do país: trata-se de utilizar o Estado para novamente capitanear o crescimento econômico, mas a partir de uma descentralização política. Mais um grande pacto entre elites, acordos privados que refundarão um regime político híbrido onde todos os partidos tenham lugar...
Tratam-se de grandes políticos que defendem bandeiras específicas: Cristovam tem planos extraordinários para a Educação; Marina, para o meio-ambiente; Randolfe, para a área dos direitos humanos; Símon, para a reforma política; Taques, para a reformulação da estrutura tributária nacional. Ou seja, pela primeira vez desde a Regime militar, se está estruturando entre eles um projeto nacional, de longo prazo, fundado na ética no trato da Coisa Pública e na efetivação do Estado de bem-estar social: uma política com "P''. O melhor é que os políticos que ainda possuem ideais podem ver esse novo partido como um ponto de concentração, um verdadeiro pólo, ao qual se atraírão e e cerrarão fileiras na grande batalha pelo país, em 2014. Se o partido de Marina conseguir nascer, teremos iniciado um novo ciclo político na história brasileira; um evento somente comparável à revolução de 1930.
Se a cruzada de Marina Silva e seus companheiros conseguirá derrotar as ambições da cúpula do PT e de seus adversários, só os mais de 100 milhões eleitores desse país decidirão. Mas será uma luta entre um gigante e uma formiga, já que Marina não dispõe de recursos para enfrentar, politicamente, a poderosa oligarquia vermelho-azul. Entretando, a história prova que a força da Nação é invencível quando organizada por um partido com o qual se identifique e infalível quando norteada por ideais de justiça. Que seja essa a hora, comandado pelos últimos bastiões da boa política, em que finalmente o povo brasileiro retome o Estado das terríveis oligarquias que o privatizaram.

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