domingo, 20 de janeiro de 2013

Os últimos cavaleiros da Democracia


Confesso que estou cansado de política. Cada vez mais, no Brasil, todas as discursões se limitam a um jogo entre caciques partidários, em um grande jogo sujo onde alianças são feitas e desfeitas, boatos são veículados e a sociedade é apenas um boneco inerte, sendo jogada de um lado para o outro. A oposição (Tucanos, demos, mídia...) se uniu, depois de 11 anos de derrotas esmagadoras, e agora busca não propor um projeto para o país, mas simplesmente denegrir a imagem de Lula. Parece que chegamos a um nível tão baixo no debate político que nos limitamos a ouvir a oposição falando sobre o passado e a figura de dois únicos homens: FHC foi demais, um gênio, um heroi; Lula, um ladrão, um corrupto, analfabeto, que deve todo o Êxito de seu governo ao príncipe dos sociólogos. Pior: o governo do PT não fez as reformas necessárias para continuar a "modernização'' cardosina-tucana. Eu me pergunto como essas polêmicas históricas podem ajudar a construir propostas para o país. Porque até agora, poucas surgiram ("resgatar a herança do governo FHC...'' quantas bocas isso vai alimentar mesmo?). E é pior ainda ver o mancomunamento promíscuo entre certos jornalistas e a oposição, que apenas defendem seus próprios interesses: querem cargos, verbas públicas de publicidade, imprensa continuamente desregulada. O país? Que afunde, é melhor...

O lado do governo petista não melhora muita a situação. O governo perdeu o controle da sua base aliada, sofreu inúmeras derrotas no Congresso e está refém dos caciques do PMDB - basta notar a maneira ditatorial e feudal pela qual está sendo conduzida as candidaturas de Henrique Eduardo Alves, herdeiro de uma corrupta oligarquia potiguar, e Renan Calheiros, um coronel alagoano representante dos usineiros. Diante do ataque cerrado da oposição, o governo permanece quieto. A tudo ignora. Não se defende das acusações, não tem força pra fazer as reformas estruturais necessárias e raciocina com base "no ano que vem'', sem uma visão de longo prazo. Só importa que hoje a inflação esteja controlada e os índices de consumo e crédito subam. O PT parou no tempo, perdeu seus ideais, se limita a simplesmente tentar permanecer no poder e prolongar indefinidamente um modelo de crescimento econômico baseado no consumo via endividamento e uma forma de organização política embasada num presidencialismo de coalizão imperial, que devora quase todos os recursos do país em obras suspeitas e em despesas financeiras que arrasam a capacidade de investimento do Estado, baixam as taxas de poupança e impedem o país de crescer. Tudo isso, é claro, fundado num modelo de governança que fundiu os pilares da macroeconomia lançados por FHC com algumas medidas distributivas de renda e uma maior intervenção do Estado na economia: ambos se mostram esgotados. Estamos em 2013, mas economicamente paramos em 2010. O pior de tudo é o fato de que a cúpula do partido foi sequestrada por uma oligarquia, o que causa uma tremenda divisão nas hostes petistas, indignadas com o total domínio que figuras como Dirceu exercem na sigla. O resultado é a perda de credibilidade do partido ante as massas e o fornecimento de munição para os ataques dos adversários.

Os brasileiros também se cansaram dessa lenga-a-lenga entre PSDB e PT. Quase 60% da população é apartidária, embora 24 % ainda apoiem o PT e meros 5%, o PSDB. Ambos os partidos perdem, ano após ano, apoiadores. Travam uma luta esquizofrênica, que apenas disfarça seus próprios interesses. O desgaste de ambos vem sendo aproveitado como uma brecha na qual um certo governador tenta se inserir como alternativa ao vermelho-azul.

Eduardo Campos vem agindo com francas pretensões ao Planalto. Já lançou o discurso da grande reforma do pacto federativo, que deveria, segundo ele, assumir uma feição mais descentralista. O pior é que Eduardo é na verdade o símbolo do casamento entre o governismo de coalizão, a tecnocracia e as velhas práticas políticas oligárquicas. Suas pretensões podem unir os grupos políticos que se digladiam em uma frente em comum por mais uma modernização conservadora do país: trata-se de utilizar o Estado para novamente capitanear o crescimento econômico, mas a partir de uma descentralização política. Mais um grande pacto entre elites, acordos privados que refundarão um regime político híbrido onde todos os partidos tenham lugar...

Mas algo pode atrapalhar os planos de Eduardo. Marina Silva, Cristovam Buarque, Pedro Taques, Símon, Randolfe Rodrigues e outros políticos que rejeitam o petismo esvaziado, o tucanato e a política de concialiação de Campos estão lançando um novo partido, reunindo grandes políticos que ainda possuem ideais a defender. A estrela da esquerda renasce nas mãos dos últimos e verdadeiros cavaleiros da democracia, remanescentes de partidos destroçados e corrompidos pela realpolitik. Pouco ou nada se sabe ainda desse novo e possível partido; apenas que terá de se organizar rapidamente, se quiser disputar as eleições de 2014.

Tratam-se de grandes políticos que defendem bandeiras específicas: Cristovam tem planos extraordinários para a Educação; Marina, para o meio-ambiente; Randolfe, para a área dos direitos humanos; Símon, para a reforma política; Taques, para a reformulação da estrutura tributária nacional. Ou seja, pela primeira vez desde a Regime militar, se está estruturando entre eles um projeto nacional, de longo prazo, fundado na ética no trato da Coisa Pública e na efetivação do Estado de bem-estar social: uma política com "P''. O melhor é que os políticos que ainda possuem ideais podem ver esse novo partido como um ponto de concentração, um verdadeiro pólo, ao qual se atraírão e e cerrarão fileiras na grande batalha pelo país, em 2014. Se o partido de Marina conseguir nascer, teremos iniciado um novo ciclo político na história brasileira; um evento somente comparável à revolução de 1930.

Se a cruzada de Marina Silva e seus companheiros conseguirá derrotar as ambições da cúpula do PT e de seus adversários, só os mais de 100 milhões eleitores desse país decidirão. Mas será uma luta entre um gigante e uma formiga, já que Marina não dispõe de recursos para enfrentar, politicamente, a poderosa oligarquia vermelho-azul. Entretando, a história prova que a força da Nação é invencível quando organizada por um partido com o qual se identifique e infalível quando norteada por ideais de justiça. Que seja essa a hora, comandado pelos últimos bastiões da boa política, em que finalmente o povo brasileiro retome o Estado das terríveis oligarquias que o privatizaram.

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