Ninguém se recorda quando houve, em Garanhuns, uma eleição do tipo "fla-flu". Sempre se apresentaram três ou mais candidatos, com muitas vezes a oposição superando a situação em votos, ou vice-versa, mas não levando o prêmio. Nas eleições atuais, Gersinho Filho é o candidato que faz essa regra se repetir, se apresentando como a única opção para quem não quer ser forçado a escolher entre o "atual" ou o "ex".
Gersinho é um político antigo na cidade. Tem uma carreira de mais de 15 anos, com quatro mandatos de vereador no currículo e a presidência da Câmara de vereadores. O sr. Gerson também se candidatou, com resultados parecidos, a deputado estadual e federal, com 5.347 votos na última eleição, em 2022.
Sem maiores feitos no currículo, Gersinho sempre teve boas votações, sendo um aliado de primeira hora e homem de confiança do ex-prefeito Izaías Régis, de quem foi secretário da agricultura. Sua gestão dos assuntos do campo entregou o básico, sem grandes projetos estruturantes e sem recuperar a força econômica rural que Garanhuns teve outrora.
Após uma década aliado a Izaías, Gersinho e o amigo romperam após a derrota em 2020 e, em 2022, estiveram em chapas diferentes.
Nesse meio tempo, Gersinho foi, durante um bom tempo, o único vereador opositor declarado do prefeito Sivaldo Albino, o seu tio materno, com quem trocou palavras pouco afáveis. Ao longo do tempo, mais dois ou três vereadores se juntaram à oposição.
Deixando o passado de político de filiado ao Solidariedade e ao PTB para trás (e aliado do PSB, Paulo Câmara e até do PT), Gersinho se converteu ao bolsonarismo desde 2022 e é o líder desse segmento na cidade, ostentando vários vídeos e fotos com a camarilha do ex-presidente e com o próprio.
Nessa eleição, Gersinho se apresenta como um candidato de ruptura, tendo um programa de governo razoavelmente bem feito e com propostas positivas para a área rural, mas deficiente nas áreas do turismo e geração de empregos. O destaque fica para a promessa de construir não um, mas três hospitais municipais - inclusive um hospital veterinário.
Mas, para falar a verdade: o homem não aparenta estar em campanha para prefeito, mas apenas se cacifando para a eleição proporcional de 2026.
Isso porque Gersinho nunca pontuou dois dígitos em pesquisa alguma, e nem tinha tal potencial - apesar de poder surpreender na votação, a sua vitória é impossível. Seu objetivo, no entanto, é claro: é ser o deputado estadual "da direita" no agreste meridional, em 2026. Digo isso porque o eleitor de direita costuma "votar casado", vinculando o voto para chefe de executivo nacional/estadual com o voto proporcional. Vimos isso em 2022, quando o sanfoneiro Gilson Machado teve 29,55% dos votos em Pernambuco (mais ou menos a votação do chefe, Bolsonaro), 1.320.000 votos, sem conseguir articular uma frase!
Em Garanhuns, o mesmo Gilson conseguiu 15.780 votos (25,61%), fazendo os olhos do baixinho Gersinho brilharem.
Considerando isso, e partindo do fato de que o ex-presidente Bolsonaro obteve cerca de 30% dos votos no agreste meridional, Gersinho seria o candidato preferencial (e talvez o único) da "direita" nessa região, podendo abocanhar uma parte de um universo total de 90 mil votos (30% de um eleitorado de cerca de 300 mil), sendo cerca de 16.000 só em Garanhuns. Ajuda o fato de que os partidos "de direita" lançam poucos candidatos e concentram votações nesses poucos candidatos, o que os leva a ganhar a maior parte das vagas, mesmo que tenham menos votos que os demais partidos.
É claro que nem todos esses eleitores "direita" escolherão o simpático baixinho garanhuense, mas a votação, na cauda do PL, asseguraria ao prefeituravel fake uma vaga na alepe.
Ou seja, mesmo perdendo, Gersinho atinge o objetivo de se projetar como candidato a deputado estadual.
Vê-se, claramente, que derrotar o tio e tirá-lo da prefeitura nunca foi o objetivo de Gersinho, já que quem sabe somar um mais um sabe bem que a oposição, dividida, não tem como vencer uma situação unida; a única chance de vencer Sivaldo seria a união entre Gersinho e Izaías, inclusive para formar uma bancada de vereadores razoável na Câmara de vereadores. Aliás, o fato de querer ter uma bancada própria de vereadores "de direita" já demonstra que o objetivo do sobrinho do prefeito é mesmo ser deputado estadual.
Como o objetivo nunca foi vencer Sivaldo, mas sim catapultar um projeto político pessoal, Gersinho se lançou sabendo que só tem garantidos os seus 5.000 votos de sempre - mas posso apostar que, contrariando as pesquisas, deve ter bem mais votos, já que o universo eleitoral bolsonarista de Garanhuns gira em torno de 15.000 eleitores. Se fossemos chutar, diria que o homem chega aos 10.000 votos, um pouco mais, um pouco menos, e põe na Câmara pelo menos dois vereadores.
Mas, enquanto Gersinho sonha em ser deputado estadual, seu tio governará Garanhuns por mais 4 anos e seus familiares, incluindo seus tios e sua mãe, continuarão a fazer parte da corte.
Esse é o principal problema do sr. Gerson: ele é um Albino, e sua reconciliação com a família, como bem ensinou a governadora Raquel em debate com Marília Arraes em 2022, pode bem ser resolvida "na pizza de domingo".
Gersinho é um candidato fake, pelo menos para essas eleições e, com toda a certeza, mais um Albino na política, com traços de Hamlet. Só resta saber se o fim da sua trajetória será o Palácio da ALEPE ou o retorno à ceia de Natal da família Albino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário