Os erros e consequências da ditadura militar continuam
produzindo graves consequências até hoje. Na política, talvez um dos maiores
seja a criação, pelo Ato Institucional nº 2, do sistema bipartidário no país,
por meio do qual surgiu o MDB, a sigla de oposição ao Regime, que por longos
anos cumpriu bem seu papel. Com a decadência da ditadura, os generais
resolveram retomar o pluripartidarismo para dividir a oposição e realizar
alianças com setores mais conservadores do antigo MDB, agora PMDB. A nova
política, levada a cabo por Golbery do Couto e Silva e pelo presidente Geisel,
inaugurou as primeiras pontes entre o PMDB e o governo federal, fortes o
suficiente para permitir um verdadeiro êxodo de políticos integrantes do PDS
(partido de sustentação da ditadura) para o PMDB, levando, com eles, toda sua
malha de prefeitos, vereadores, governadores e deputados. O exemplo mais famoso
foi José Sarney, antigo líder do Regime no Congresso, que aceitara ser vice de
Tancredo Neves na próxima eleição presidencial indireta.
A aliança de Tancredo com os antigos apoiadores do Regime,
agora colegas em um mesmo partido, levou à uma mudança dramática na composição
política do PMDB, que antigamente era um partido maciçamente votado nos centros
urbanos, pelas classes média e baixa, e se tornou uma sigla com cada vez mais
força no interior do país, em cidades médias e pequenas. Isso se explica pela
adesão, no apagar das luzes do governo Figueiredo, ao partido de líderes
políticos da antiga ARENA, que trouxeram para o partido seus “currais’’
eleitorais.
O Partido cresceu de 40% das cadeiras no Congresso para 53%,
no governo Sarney. Após 1989, sofre uma grande perda com a criação do PSDB, que
abarcou pelo menos metade dessas cadeiras – saíram boa parte dos membros
originais do partido, obtendo o comando do partido aqueles que vieram da antiga
ARENA (José Sarney e aliados). Os anos seguintes seriam de recuperação,
principalmente quando o partido desistiu de concorrer às eleições presidenciais
e focou em conquistar prefeituras e parlamentares. Foi assim que conquistou, em
1998, 2002, 2006 e 2010, as maiores bancadas do Congresso, o maior número de
governadores e mais de mil prefeitos, principalmente em centros eleitorais
tradicionalmente de domínio do antigo ARENA (Bahia, Mato Grosso, Rio de
Janeiro, Amazonas, Paraíba, Alagoas, por exemplo).
O tamanho do Partido, no entanto, se deve à única vez que
ocuparam a presidência, em 1985, com José Sarney. Naquela época, o plano
Cruzado havia congelado os preços e estagnado a hiperinflação, artificialmente
mantidos até a eleição de 1986, quando o governo do PMDB conquistou 20 dos 21
governos estaduais em disputa. Além de governar praticamente todo o país, a
gestão Sarney distribuiu mais de 3 mil concessões de rádio e televisão para
políticos e apoiadores – o próprio presidente da República se premiou com dois
canais de televisão no Maranhão – que estão na raiz da manutenção de grandes
bancadas e prefeituras conquistadas pelo partido.
Assim, controlando as comunicações nas cidades do interior,
aliados quase sempre ao governo federal pelo tamanho de suas bancadas e com o
poder dos governos estaduais em quase metade do país, o PMDB é a síntese da
política brasileira. E, agora, está prestes a reassumir o poder presidencial.
Por infelicidade, cumpre lembrar que os métodos nada convencionais do partido
em angariar poder e altas votações estão diretamente relacionadas a escândalos
graves de corrupção e permitem suspeitar que o antigo opositor da ditadura é o
epicentro de um sistema político viciado, durante mais de três décadas. Segue
um pequeno histórico policial do partido:
Tiveram como fim a cooptação de apoio
político para que o mandato presidencial fosse estendido de 4 para 5 anos;
Em 1993 e 1994, a CPI dos Anões do Orçamento denunciou os
principais líderes do PMDB. Ibsen Pinheiro (RS),
o mesmo que hoje comanda o diretório do RS pelo impeachment de Dilma, foi
cassado; Genebaldo Correa (BA)
e Cid Carvalho (MA) renunciaram.
3- Os desvios
no governo Orestes Quércia (PMDB-SP) .
Contra o ex-governador de SP
foram investigados desvios do Banespa, compra sem licitação de equipamentos
israelenses, irregularidades na venda da Vasp e na construção do Memorial da
América Latina.
4- Luiz
Estevão e o juiz Lalau.
É o único caso de senador cassado. Foi acusado
pela CPI do Judiciário pelo desvio de R$ 169 milhões do prédio do TRT de São
Paulo, num conluio com o Juiz Nicolau dos Santos Neto.
5- Jader Barbalho e o escândalo do Banco do
Pará.
Presidente do Senado, teve que renunciar ao
posto em 2001, envolvido em denúncias de desvio de dinheiro do Banco do Pará e
fraude na Sudan. Foi preso. Elegeu-se deputado.
6- Joaquim Roriz e os desvios do BRB.
É o senador de carreira mais curta da
História. Renunciou em 2007, após 5 meses de cargo, para fugir de processo de
cassação. Suspeito de ter partilhado R$ 2,2 milhões desviados do BrB.
7- O casal Garotinho e o dinheiro que nunca
chegou aos hospitais do RJ.
Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha foram acusados pelo Ministério Público de
terem se beneficiado de esquema que desviou R$ 61 milhões da Secretaria da
Saúde em 2005 e 2006.
8- O caso Renan Calheiros.
Envolvido em denúncias de que teve despesas
pagas por empreiteiras e de que usou notas fiscais frias na venda de gado,
renunciou à presidência do Senado para fugir do processo de cassação. Ainda pendente
de investigação perante o STF, o senador é investigado pela Operação
Lava-jato.
9- Silas Rondeau e a propina das construtoras.
Acusado pela Polícia Federal de ter recebido R$ 100 mil dos
diretores da Construtora Guautama, na Operação Navalha, acabou renunciando ao
Ministério de Minas e Energia.
10-
Odílio Balbinotti.
Foi convidado por Lula em
2007 para ministro da Agricultura. Antes da posse, foi derrubado por denúncias
de que teria desviado dinheiro do BB e forjado documento para facilitar
empréstimo.
11-
Newton Cardoso e a eleição que custou demais.
As eleições do ex-governador de Minas foram sempre contestadas
por parte dos adversários e foi denunciado por compra de voto por Itamar
Franco. Sua ex-mulher diz que tem patrimônio de R$ 3 bi.
12-
O escândalo da Funasa.
Em 2008, o mininstro da
Saúde, José Gomes Temporão, acusou de corrupção o presidente da Funasa, Danilo Forte.
Apadrinhado de Eunício
Oliveira, um dos líderes do PMDB, ele ficou no cargo.
13-
Romero Jucá, o campeão.
Ministro da Previdência de
março a julho de 2005, o atual presidente do PMDB foi alvo de denúncias. Entra
as principais, desvio de recursos do Ministério da Saúde para a Prefeitura de
Cantá (RR). Ainda é investigado pela Operação Lava-jato. Jucá também é o
recordista de inquéritos no STF: atualmente, responde a 33 acusações diretas,
fora a lava-jato, desde falsidade documental, ocultação de patrimônio e posse
de uma concessão de televisão, a TV Caburaí, ilegal para parlamentares. Em
2013, o Ministério Público tentou cassar seu diploma como senador, quando um
assessor do homem foi pego pela polícia atirando R$ 100 mil pela janela de um carro.
14-
Ney Suassuna, o Drácula.
Antigo líder do PMDB, foi
alvo da Operação Sanguessuga da PF, que investigou um esquema de desvio de
dinheiro do Orçamento da União para compra de ambulâncias superfaturadas.
15- José Borba e
mensalão.
Antigo líder do PMDB na Câmara,
foi para a cadeia por envolvimento com o mensalão.
16- A caça a Íris Rezende, ex-governador de Goiás .
Acusado de desviar recursos da
prefeitura de Goiânia, chegou a ter parte dos bens bloqueados para ressarcir o
município.
1 17- PMDB, o vice-campeão de fichas-sujas.
Nas eleições de 2012, o PMDB possuía 49 políticos cassados ou condenados por denúncias de corrupção, logo atrás do PSDB. Em 2014, na lista divulgada pelo TSE com mais de 6 mil nomes de políticos inelegíveis por condenações, principalmente por contas irregulares, a maioria era ou já foi ligada ao PMDB. Fonte: http://www.tse.jus.br/hotSites/tcu/2014/ResponsaveisContasJulgadasIrregularesEleicoes2014_Alfabetico.pdf.
1 18- A prisão de Natan Donadon (RO).
O PMDB foi pioneiro ao ter o primeiro deputado condenado e preso da história do país. Natan recebeu em 2010 uma sentença de mais de 13 anos por ter liderado um esquema que desviou R$ 8,4 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia. Após o STF rejeitar seus recursos, ele foi preso em 2014. Apenas em 2013 o PMDB o expulsou.
19- No centro da Operação Lava-jato.
Segundo a PF, Jorge Zelada e Fernando Soares, o Fernando Baiano, foram apontados como operadores do PMDB no esquema de desvio dos recursos da Petrobrás. A missão dos dois era abastecer as campanhas do partido com dinheiro doado legalmente por construtoras, mas obtidos por meio de fraudes e superfaturamentos em contratos com a estatal. O total dessas doações ao partido soma em torno de R$ 20 milhões de reais, segundo a própria Polícia Federal. Nestor Cerveró, um dos ex-diretores da área de contratos internacionais da empresa e envolvido diretamente no esquema, também foi indicado e sustentado no cargo pelo PMDB, que comandava e comanda o Ministério de Minas e Energia, ao qual a Petrobrás é subordinada.
f
20-
Eduardo Cunha, o "picareta-mor'' (apud Ciro Gomes) da República.
Réu perante o STF, Cunha é acusado de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em uma operação de venda de sondas
para a Petrobras. Segundo a denúncia do Procurador-Geral da República, Eduardo
Cunha mantêm contas na Suíça, com saldo atual de U$ 5 milhões de dólares, mas
por onde circularam cerca de U$ 470 milhões. Parte do dinheiro sustentou uma vida de luxo por parte da mulher e da filha do presidente da Câmara, com direito a roupas de grife, viagens internacionais e gastos milionários em cartões de crédito.
Essa foi a lista da vergonha do PMDB. Esse é o partido que vai voltar a governar o país, em meio a uma das piores crises de sua história, causada por um sistema político cuja principal expressão é o próprio PMDB. Tem como dar certo?
Essa foi a lista da vergonha do PMDB. Esse é o partido que vai voltar a governar o país, em meio a uma das piores crises de sua história, causada por um sistema político cuja principal expressão é o próprio PMDB. Tem como dar certo?
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