Lúcio nunca foi levado a sério. Em muitos anos como
político, não fez nada demais a não ser acumular patrimônio. Até que,
oportunista como era, viu seu país entrar na pior crise da sua história, com antigos
líderes presos e uma polarização cada vez maior entre ricos e pobres, “gente do
campo’’ e “gente da cidade’’, “partido popular’’ e “partido aristocrático’’. Chegara
a sua hora, pensou: defendendo a morte dos corruptos, “mudando tudo o que está
aí’’, “ cobrando menos impostos para o cidadão’’ e erguendo a bandeira da “volta
aos bons tempos em que o exército mandava’’, Lúcio, tendo como guru um antigo
ditador, se lançou candidato ao maior posto político de seu país. E perdeu.
Mas não desistiu. Tentou por fogo (metaforicamente,
espalhando notícias falsas e apocalípticas sobre os adversários; e
literalmente, com muito óleo inflamável) na capital para, em meio ao caos,
tomar o poder. Muitos dos que queriam “o retorno dos bons tempos’’ o apoiaram. E
ele terminou morto na primeira das muitas guerras civis que dilaceraram Roma e
a transformaram, afinal, numa ditadura imperial por quatro séculos.
Ao longo da história, muitos pretensos líderes tentaram
reeditar a trajetória de Lúcio Sérgio Catilina. Quase todos ex-militares, cujo
pensamento político variava da pura grosseria intelectual até sofisticadas
construções teóricas. Nesses fluxos e refluxos da história, um padrão parece se
repetir: um louco sempre “abre as alas’’ de uma fase política autoritária para
um verdadeiro tirano, que se assenta no poder com base no rescaldo deixado pelo
“homem-bomba’’.
Hoje, nós infelizes tetranetos tropicais dos romanos vivemos
essa fase. Não é mais o nosso Catilina (cujo nome não me permito pronunciar)
que é uma ameaça. É o incêndio que ele causou. O maior medo não é Catilina
triunfar, já que seu próprio estilo tosco faz muita gente concordar com a velha
denúncia de Cícero (“até quando abusarás da nossa paciência?’’).
É que, 20 anos depois das loucuras catilinárias, veio César
e acabou com a democracia romana. Sempre existe coisa pior esperando no futuro, depois que os arautos do autoritarismo tem sucesso.
Ó tempos, ó costumes!
Nenhum comentário:
Postar um comentário