terça-feira, 25 de setembro de 2018

Catilina à brasileira



Lúcio nunca foi levado a sério. Em muitos anos como político, não fez nada demais a não ser acumular patrimônio. Até que, oportunista como era, viu seu país entrar na pior crise da sua história, com antigos líderes presos e uma polarização cada vez maior entre ricos e pobres, “gente do campo’’ e “gente da cidade’’, “partido popular’’ e “partido aristocrático’’. Chegara a sua hora, pensou: defendendo a morte dos corruptos, “mudando tudo o que está aí’’, “ cobrando menos impostos para o cidadão’’ e erguendo a bandeira da “volta aos bons tempos em que o exército mandava’’, Lúcio, tendo como guru um antigo ditador, se lançou candidato ao maior posto político de seu país. E perdeu.

Mas não desistiu. Tentou por fogo (metaforicamente, espalhando notícias falsas e apocalípticas sobre os adversários; e literalmente, com muito óleo inflamável) na capital para, em meio ao caos, tomar o poder. Muitos dos que queriam “o retorno dos bons tempos’’ o apoiaram. E ele terminou morto na primeira das muitas guerras civis que dilaceraram Roma e a transformaram, afinal, numa ditadura imperial por quatro séculos.

Ao longo da história, muitos pretensos líderes tentaram reeditar a trajetória de Lúcio Sérgio Catilina. Quase todos ex-militares, cujo pensamento político variava da pura grosseria intelectual até sofisticadas construções teóricas. Nesses fluxos e refluxos da história, um padrão parece se repetir: um louco sempre “abre as alas’’ de uma fase política autoritária para um verdadeiro tirano, que se assenta no poder com base no rescaldo deixado pelo “homem-bomba’’.

Hoje, nós infelizes tetranetos tropicais dos romanos vivemos essa fase. Não é mais o nosso Catilina (cujo nome não me permito pronunciar) que é uma ameaça. É o incêndio que ele causou. O maior medo não é Catilina triunfar, já que seu próprio estilo tosco faz muita gente concordar com a velha denúncia de Cícero (“até quando abusarás da nossa paciência?’’).

É que, 20 anos depois das loucuras catilinárias, veio César e acabou com a democracia romana. Sempre existe coisa pior esperando no futuro, depois que os arautos do autoritarismo tem sucesso. 

Ó tempos, ó costumes!

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