segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Rebelião de Lúcifer: a luz e as trevas na pós-modernidade


Desde seus primórdios, os seres humanos, baseados na mais perceptível "luta'' ou contradição da natureza, a própria luta entre dia e noite, lua e trevas, idealizaram uma batalha análoga no campo dos valores. No seara dos axiomas, tratou-se de uma disputa entre o individualismo e o coletivismo, onde o primeiro apoiou-se no egoísmo exarcebado e na hedonismo, enquanto o segundo estruturou-se sobre as tradições e leis sociais. Basicamente, o primeiro representava o predomínio das vontades e apetites individuais - em suma, das forças naturais e dos instintos humanos-, em contraposição à sanha do coletivismo de garantir condições mínimas de sobrevivência à sociedade em si, ao limitar os instintos naturais do homem com leis convencionadas e coercitivas.

1- As raízes mitológicas: deuses e titãs

As antigas mitologias pagãs são férteis na representações dessas lutas morais, também expressadas como guerra entre luz e trevas. Osíris, deus egipcio original dos reis antigos, em nome do bem de seus filhos humanos e como primeiro dos faraós, enfrentou Set (o vento sufocante do deserto e líder do submundo), seu maligno irmão, que buscava derrubá-lo afim de reinar segundo seus próprios desígnios. Na Grécia mítica, os titãs, personificações das forças da natureza, são derrotados e trancafiados no Tártaro pelos deuses olímpicos, seus filhos, no que representou o triunfo do poder político organizado e da cultura humana sobre a natureza - tratou-se da vitória sobre o caos da natureza pela ordem da Pólis humana (essa luta, na verdade, também se dá no interior do homem, onde os insintos naturais, os titãs, são trancafiados no fundo da alma humana, o tártaro, pela razão dos deuses olímpicos; tal ideia vai basilar o pensamento platônico sobre a Alma e as ideias de Freud). As trevas são a desordem e o despotismo da natureza e de suas forças, que massacram e oprimem o homem; a luz, emanada da razão abstrata, é o mundo cultural criado pelo homem para dominar a natureza. A humanidade, como conjunto de seres atópicos (sem um lugar pré-estabelecido na natureza, como os outros animais) é obrigada a criar seu próprio mundo, transformando a natureza segundo suas necessidades e limitando seus instintos e apetites para que tal dominação e a preservação da coletividade sejam possíveis. Porque só o esforço coletivo pode garantir ao homem essa transformação da natureza, e tal não seria possível em um cenário onde cada homem porta-se como uma ilha a saciar seus próprios interesses. No fim, essa diferenção teve como raiz filosófica a distinção e oposição fundamental entre physis e logos, elaborada pelos pré-socráticos, traçando uma linha divisora entre as leis da natureza e as leis da razão e o universal cultural humano. (Acima, Zeus encerra os Titãs no Tártaro).

2- O cristianismo e a transmutação do jusnaturalismo teológico para o primado da razão

O cristianismo, com o plus da tradição dualista persa, separou o Mundo (a criação, governada pelas forças da natureza e pelos instintos animalescos e pró-pecadistas do homem, uma marca do pecado original; ou "Cidade dos homens'') e o Reino (Cidade) de Deus, tal como os gregos atribuíram o Olímpo o status de reino da luz e o tártaro (a prisão dos Titãs) o de submundo de trevas. Assim, o esforço coletivo seria essencial para a marcha da Igreja rumo ao Reino, e toda espécie de individualismo, bem como a perseguição de ambições egoísticas mesquinhas, seria um pecado contra Deus. Daí o cristianismo ter exarcebado a velha ideia platônica do caráter apriorístico das leis governantes da conduta humana - as leis "naturais'', lex naturalis, derivadas da Lex Divinae, sendo suas marcas na matéria da criação-, cujo objetivo era obter do homem uma conduta desejável, a partir da coerção, visando o bem coletivo; tais leis superariam as leis ditas humanas, lex positivas, em nível hierárquico, sendo seu ratio cognoscendi a razão humana. Tratam-se de leis abstratas e dadas por Deus, reveladas pela Igreja e, no fim, superiores aos próprios instintos humanos e, no fim, à própria natureza pecadora do homem, com o fim de constituir uma verdadeira fortaleza de fundamentação para as limitações da conduta humana.

Assim, a busca pelo lucro - chamada de "usura''- foi radicalmente condenada (excetuando-se certos casos...), bem como a satisfação de prazeres ditos mesquinhos e imorais. Nessa classificação, entram o homossexualismo, a poligamia, o concubinato, a pedofilia, a zoofilia e a bissexualidade. O controle da conduta sexual se tornou uma das maiores preocupações da sociedade medieval e moderna, já que, sem tal controle, realizado através do casamento cristão, a célula-base da sociedad estaria prejudicada irremediavelmente, bem como a posse da propriedade privada (como reconhecer os filhos do monarca, dos nobres e dos comerciantes, legítimos herdeiros de seus bens e direitos?). Tudo o que foi relacionado ao excesso de subjetividade e tendesse ao simples egocentrismo foi desestimulado. O descontrole sexual esteve, na história, associado aos períodos de caos social, político e econômico, mesmo situações históricas de aparente pujança e grande riqueza.

A modernidade dessacralizou essa visão de predomínio das leis divinas e racionais sobre a natureza e os instintos pecadores do homem. A razão, agora, era a fonte pela qual jorrava a limitação da conduta humana e garantia-se o bem coletivo, por meio de leis naturais provenientes do intelecto do indivíduo ou "descobertas'' por ele, tal como as leis naturais divinas, nas situações sociais vividas. O objetivo da modernidade e do chamado projeto iluminista foi obter explicações racionais sobre a realidade e, a partir desse processo, estender a racionalização a todos os aspectos da vida humana, com o fim ancestral de obter a coesão humana no supremo escopo de dominar a natureza (Acima, o povo carrega, no trono do poder, a deusa Razão). Do regime político ao conhecimento dos minerais, a capacidade de abstrair conceitos dos eventos reais (lembra da Separação dos três poderes?) para explicá-la e dominá-la tinha como fim libertar a humanidade da tirania dos eventos naturais e das supertições religiosas. Isso envolvia, é claro, a imposição de certos valores culturais a todos os seres humanos, também objetivando a homogeneização cultural da humanidade e o esmagamento dos prazeres e instintos mais primitivos.

Tome-se como exemplo dessa visão a doutrina de Thomas Hobbes. Este notável erudito escreveu, na verdade, uma teoria universal sobre todos os fenômenos humanos e naturais, da política às leis da física. Parte-se da ideia de que o homem tem uma natureza maligna, tal como cria o cristianismo, pelo qual busca saciar seus prazeres, obter a própria sobrevivência e obter a glória e o reconhecimentos dos demais homens (para Hobbes, trata-se da característica mais negativa do caráter humano). Partindo de uma análise introspectiva, cada homem tem ciência de que o outro deseja as mesmas coisas baixas que ele próprio (a glória, a conservação, a satisfação do prazer), o que acarreta uma desconfiança do próximo e o princípio de uma guerra de todos contra todos. Parte-se da ideia de que o outro homem é um inimigo em potencial e deve ser eliminado. Nem os mais fortes teriam chance, já que os mais fracos poderiam se unir contra ele e vencê-lo. 

Trata-se do estado de natureza, no qual o homem é o lobo do homem. Tal condição só é superada pela razão, que possibilita o homem a descoberta de duas óbvias leis naturais (na verdade, abstrações): a de que a humanidade deve sobreviver e a de que, para tal, é preciso findar a guerra de todos contra todos. Os homens, então, abrem mão de sua liberdade ilimitada (para saciar seus desejos e obter glória), delegando todos seus poderes a um Soberando, um rei ou uma assembleia de homens, dotado de todas as prerrogativas e com carta-branca para realizar tudo o que for possível para garantir a vida dos cidadãos. É a vitória do estado civil, conduzida pelo Leviatã, sobre o sombrio estado de natureza, que só poderia se consolidar pelo cumprimento integral do contrato social: o Soberano deve garantir a vida dos súditos, protegendo-a de inimigos internos e externos, mas também garantí-la de outro modo, possibilitando aos populares recursos materiais para prover a própria subsistência. O princípe faria isso a partir da Lei (e, aqui, Hobbes utiliza um jogo linguístico com a palavra grega para lei, "norms'', que quer dizer distribuição, proporção), pela qual distribuíria as terras e bens naturais do país entre os súditos de acordo com a necessidade de todos. A lei do soberano deveria garantir a vida, distribuindo a riqueza social e, assim, destruir a raiz dos conflitos sociais, que é a própria concentração de riqueza: o estado civil deveria constituir uma sociedade equilibrada. Só assim, obter-se-ia a paz social tão almejada, tanto pela coerção do soberano, tanto por suas leis abstratas, que distribuiriam a riqueza proporcionalmente. Na verdade, o Leviatã (Estado) era o meio máximo para a coletividade esmagar as dissidências individuais e os desvios de moralidade dos indivíduos.

3- A rebelião pós-moderna: o homem-além-do-homem e a ascensão do Id

O primado do coletivismo e a busca de dominação da natureza, historicamente associada com as trevas e o despotismo das chamadas leis da natureza (a lei do mais forte, presente na concepção de estado na natureza...), sofre o mais duro golpe com as viradas filosóficas do século XIX. Nietzsche mostrou que as tão propaladas leis abstratas, fundadas na razão ou em Deus, simplesmente não tem existência própria a ser descoberta pela humanidade (ou seja, não são objetos, muito menos dados por si, mas interpretações pessoais de certas classes impostas à toda a sociedade), e que, contra toda a lógica, acabavam por contrariar a natureza humanda e limitá-la de forma cruel. Em suma: elas não são obrigatórias por que não tem existência própria e porque admitem milhares de interpretações diferentes, sendo a Razão iluminista destronada de seu primado sobre o pensamento humano. O coletivismo, estruturado na ontologia das ideias (e as leis são ideias) de matriz platonista, seria uma forma de enganar o ser humano, para que este aceite massacrar sua própria natureza; a culpa seria do cristianismo que, com sua moral de escravos, impôs às elites, naturalmente aptas à beleza e ao poder, suas visões derrotistas e irreais sobre a possibilidade de uma outra vida no Reino de Deus e o desprezo pelos bens materiais, criadas como forma de consolo pela dominação e opressão e pelo fato de não poderem tais escravos gozarem os mesmos prazeres que as elites. A única lei plausível, diz o príncipe da pós-modernidade, é a lei de seleção: os mais fortes e mais belos devem triunfar sobre os fracos, se assim o desejarem, porque esta é a única natureza humana possível. 

A única realidade acessível ao ser humano é aquela captada pelos sentidos, e não mundos abstratos e leis abstratas, inventadas da noite para o dia. Dessas duas premissas, pode-se extrair a grande conclusão: só existe, para nós, o mundo da natureza e suas leis físicas perceptíveis pelos sentidos, e a libertação da humanidade não se dá pela dominação da natureza, mas pela entrega do ser humano a ela e seus instintos de autoconservação e saciação do prazer (Ao lado, a personificação do mundo, como uma colcha de retalhos perceptíveis pelos sentidos e sob a forma de uma mulher, evocando a imagem de Gaia, a deusa-mãe grega). É plenamente lícito ao homem saciar todos os seus prazeres naturais, bem como disputar e esmagar seus semelhantes, se assim lhe aprouver. Trata-se do "super-homem'' ou "homem-além-do-homem'', legislador de si mesmo, plenamente auto-determinável, constituindo o eterno retorno da humanidade a essa condição dionísiaca de destruição criativa de todas as convencionalidades e instituições até então e na erição da super-individualidade humanda como regra geral a ser observada como pre-requisito da libertação humana das tradições metafísicas. 

Basicamente, a percepção internalizada do mundo, a partir dos sentidos, pode ser imposta a todos os outros indivíduos a partir da persuasão; alguns teóricos do direito, notadamente advogados, usam tal parâmetro epistemológico para legitimar o inevitável relativismo ontológico necessário à sua concepção retórica do Direito. Sim, é a restauração do sofismo no campo do Direito, onde o mundo é percepção internalizada e a verdade é pura convenção fundada pela persuasão.

A psicanálise de Freud foi o outro eixo dessa rebelião contra o coletivismo. Por suas ideias, Freud considerava que o inconsciente humano, o Id, é a parte central da psiquê humana, e busca realizar, de todas as formas, os prazeres sexuais. Esses prazeres, se realizados, impossibilitariam a vida em sociedade e destruíriam o indivíduo, sendo, então, ou realizados de forma desexualizadas (o gosto pela música, por história etc...) ou reprimidos pelo chamado super-ego, que é a percepção que o indivíduo possui das normas e convenções sociais destinadas a oprimir os desejos sexuais do homem; os problemas psicológicos do ego seriam resultado desse processo de filtração dos prazeres a serem realizados. Expremido entre esses dois extremos, está o consciente humano, o Ego, que é uma colcha de retalhos entre os prazeres que são filtrados pelo super-ego e podem ser realizados; a maior parte deles teria como figura de realização a própria figura materna do indivíduo, que seria substituída, mais tarde, por outros objetos de prazer: é o complexo de Édipo. Trata-se de uma atualização das teorias platônicas sobre a Alma, dividida exatamente em três virtudes: a razão, coragem e o instinto, onde o indivíduo equilibra-se quando a razão domina a coragem e o instinto, proporcionando ao filósofo um alma justa. 

4- A entronização de Lúcifer

Dessa forma, chegamos ao clímax desse pequeno texto. A pós-modernidade é a rebelião do Id, dos instintos animalescos do homem e de sua busca pelo prazer desenfreado, personificado não na figura materna ou em outros objetos convencionais, mas no consumo.  Esses prazeres, que se embasam no superindividualismo e egocentismo, bem como na lei de seleção como regente máxima do poderoso e onipresente "Mercado'', representam tudo o que as culturas antigas e o cristianismo classificaram como pertencente às trevas e às demais forças capazes de por a humanidade, que só sobreviveu até hoje pela união coletiva, em sério risco, pela desagragação, competição e verdadeira guerra de todos contra todos fundada pela pós-modernidade. A simples negação de valores universais que limitassem a conduta humana e os instintos naturais humanos já é a quebra da unidade social, mas, paradoxalmente, a sanha em dominar a natureza persiste, como forma de projeção da subjetividade sobre o mundo e para possibilitar os recursos materiais para o consumo.

No cristianismo, esse processo de rebelião é análogo ao capitaneado pelo serafim bíblico Lúcifer (em grego, "filho ou portador da luz''), ou Satanás. Conta a Bíblia, de forma esparsa e misteriosa, que o anjo mais belo e sábio de todos, não sujeitando-se a servir tanto a Deus quanto ao homem, rebelou-se contra as Leis divinas para impor as suas próprias e absolutizar-se a si mesmo. Esse individualismo e a promessa de realizar todos os desejos proibidos por Deus seduziu outros anjos, que tentaram tomar o poder no paraiso e na Terra. Lúcifer foi derrotado e expulso, mas não antes de cobrir-se da capa da Serpente e levar o ser humano a cometer o mesmo pecado que ele -  o de querer ser igual ou superior a Deus, dando a si mesmo normas morais supremas e absolutizando os prazeres do corpo. Esse pecado, dito original, incorporou-se à natureza humana, pelo qual os homens buscam atingir o céu (a morada de Deus; aqui, a torre da Babilônia é simbólica) e usurpam funções divinas, como a de produzir leis e administrar a justiça. Lúcifer é a personificação do que é considerado como o mal: a busca pelo prazer, o individualismo e a simples contraposição do egoísmo ao interesse do bem comum. Quando os homens tornam-se deuses, moralmente, ou quando o matam Deus, simbolicamente (tanto no sentido real, com a crucificação de Cristo, quanto na concepção filosófica, na morte de Deus como fundamento absoluto dos valores da civilização ocidental), estão emulando Lúcifer.

Lúcifer é essa rebelião personificada dos instintos humanos que buscam o prazer, a autoconservação e a glória (a adoração do homem por ele mesmo e pelos demais), o rei do estado de natureza, o mago da physis, a representação dos titãs antes presos no Tártaro e hoje livres. Lúcifer é o Mercado, o desejo desenfreado pelo consumo excessivo, o sexo sem limites,  estruturado na fria lei de seleção dos mais fortes -  e não dos mais aptos. E o reino de Lúcifer é aquele onde o relativismo aparentemente predomina, mas este apenas encobre uma cruel ditadura do sistema capitalista, que aplica os valores convenientes e os impõe, via bombardeio midiático e sedução com prazeres infinitos a saciar, à toda a humanidade. Por detrás da aparente liberdade sem limites, esconde-se a imposição de se escolher, de forma condicionada, pelos valores e condutas requeridas pelo sistema que, em si, vão totalmente contra a natureza humana (Ao lado, as duas faces de Lúcifer: o suposto libertador das tiranias da ordem e, ao mesmo tempo, o cruel tirano tenta ocupar o lugar de Deus). A Besta capitalista oferece a liberdade total como um doce canto da seria para aprisionar os nossos super-homens pós-modernos, e o pior: tornando essa prisão consumista desejável pelos próprios prisioneiros!

Não se trata, é claro, de acreditar na existência real de um anjo caído (se trataria, é claro, se você, leitor, é, como eu, cristão), já que essa ideia aqui apenas exemplifica, de forma simbólica, nossa atual sociedade. O verdadeiro jogo entre a luz e as trevas, a moral contra a natureza, o bem contra o mal, a ordem contra o caos permanece na pós-modernidade, embora exista um predomínio indiscutível do anarquismo moral e do super-egoísmo. Assim, a rebelião de Lúcifer é a revolta e a entronização das vontades mais baixas do ser humano, antes proibidas pelo bem coletivo, que hoje se tornam a regra a ser seguida.

Em suma, vivemos o verdadeiro reino das trevas que, por milênios, tentou-se trancafiar nas trevas do Tártaro, no submundo do Egito Antigo ou no Abismo do inferno idealizado pelo cristianismo: hoje, tudo o que antes era sombrio, negativo, destruidor e mortal (há uma tendência atual de banalização e até de adoração da morte...) é, paradoxalmente, a "luz'', a lei, a lógica absurda e caótica da pós-modernidade; a fera interior do homem, o lobo hobbesiano, foi solta. Daí o trocadilho com o nome Lúcifer, o "portador da luz'': quando o Mal em si (os instintos destruidores do homem, fechados anteriormente no fundo de sua alma pelo super-ego) se torna a lei e a "luz'' a ser seguida, a humanidade não tem escolha a não ser caminhar para o Abismo e ser arrastada para a destruição no lago de fogo apocaliptico da auto-destruição na guerra de todos contra todos... ou, então, voltar à estaca zero e, mais uma vez, utilizar a razão e o sentimento de coletividade para derrotar o Anjo caído interior. A solidariedade e a retomada dos valores universais cristãos e humanistas são as únicas armas e os únicos obstáculos contra o exército bestial da pós-modernidade, os representantes da decadência da sociedade. Trata-se de um processo terrível de inversão de valores, onde a imoralidade, a ambição desenfreada e o egoísmo fundam uma grande guerra oculta, onde a grande maioria dos soldados não sabe que está combatendo, muito menos sob as ordens de quem. O resultado desse massacre do homem pelo homem, legitimado pelas ideias relativistas e existencialistas, bem como super-individualistas, é o atual cenário de miséria material e moral da humanidade inteira, onde metade da população mundial passa fome e não dispõe sequer de uma lâmpada elétrica, enquanto a outra metade, apesar de dispor de dinheiro e poder, convive com o maior nível de violência, tanto física quanto simbólica, já atingido, bem como com a ditadura do consumo e a alienação em massa. O mal se torna banal, e, além disso, se torna o modelo de conduta a ser seguido.

Como São Miguel, o arcanjo determinado que preservou a verdadeira luz (a razão, o amor, a auto-conservação e o bem-estar da coletividade) vencendo Lúcifer, aqueles que leram esse pequeno, insidioso e talvez um pouco tedioso panfleto são convidados a tomar o partido dos bilhões de oprimidos pela ditadura do capitalismo bestial e lançar os instintos mais animalescos do homem, que sustentam tal fera, no fogo da destruição, junto com o medo, morte, miséria e alienação, seus mais terríveis generais. Só assim, essas trevas ancestrais que perseguem a humanidade em sua caminhada pela Terra poderão ser devanescidas pela luz divina e, finalmente, possibilitar o recorsi da restauração do paraíso terrestre, perdido a tempos imemoriais, quando a humanidade era pura, doce e unida em prol do bem comum.

Um comentário:

  1. Boa tentativa. Quando foi doce, pura e unida a humanidade?
    Falta um pouco ainda para chegar aonde vc quer. Tenta dar uma relacionada tudo isso que você escreveu com: a relação antimatéria x matéria, novas descobertas sobre a massa escura no espaço x tempo; e o Infinito microscópico e infinito macroscópico. Falta o fermento do bolo para a elaboração dessa receita. Tente realmente enxergar o que é luz e trevas nesse universo caótico que vai muito além da existência biológica na terra. Existindo, o universo, muito antes da existência do planeta terra e do homem.A bela história que você quer contar ela existe. A existência humana é somente uma parte infinitamente minúscula do caos implodido ( e explodido simultaneamente) na massa quieta existente muito antes do "suspeito" big bang.
    Não se explica luz e trevas pela existência minúscula do homem registrado (de aproximadamente 8000 anos) no universo. Em outras palavras, não se explica o geral pelo particular, no caso considerado desprezível.

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